Tuesday, September 14, 2021

Calor

 


Foi um dia de muita chuva. Tive de andar de um lado para o outro. Teste aqui, reunião ali. O pior é a gente, é o ter de funcionar com os outros. Dou por mim a falar muito alegre e descontraída, enquanto interiormente me pergunto: estás a rir de quê? Sei lá. É o hábito. 

Vesti a minha gabardina preta, linda, para me proteger da chuva. Mas não estava frio. E todo o dia senti um fresco desagradável que acontece quando se está parado, durante longuíssimos minutos - 90? - e se sente calor, mas não se pode tirar a roupa, porque o tempo está, como se costuma erradamente dizer, desagradável. Entretanto, acabou o dia, isto é, as obrigações, os compromissos. E cheguei a casa. Aproveitei para distender a cara. Estender, até, para apagar os vestígios de riso despropositado. Fui retornando à normalidade. Mas demorou tempo. Talvez porque fiquei a ponderar formas de acabar de vez com isto... Não ter mais necessidade de fazer de conta, de ouvir coisas sem sentido, coisas que me enervam, que me provocam indignação...  

Queria ter feito coisas, mas estava paralisada. E pensativa. Tornou-se tarde para tudo, excepto para ir para a cama, o sítio a que desejo voltar, desesperadamente, durante o dia todo. Finalmente cheguei. Para sentir o calor de que senti falta o dia inteiro, pus uma coberta branca e fofinha na minha cama. Ficou tudo muito lindo. Com sorte, conseguirei sintonizar pensamentos bons: todos os que me afastem da realidade. Oxalá!

Imagem: retirada algures de um jornal. É a fotografia, recente, de um casal que se protegeu da chuva debaixo do chapéu desta escultura admirável. Por vezes, olho para o espaço entre o braço forte e decidido de um homem e o seu casaco, um sítio quente e oculto, quase um túnel, e tenho vontade de entrar ali e ficar lá...

 

2 comments:

julio césar said...

Que fotografia linda.

Adélia Rocha said...

Lindíssima.