Saturday, March 26, 2011

The Walking Dead


« A solidão é essa morte imensa
onde os mortos não cessam de viver»

Echevarria qualquer coisa, sorry, "O Livro dos Mortos"
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The Walking Dead: a utopia de um mundo distópico



Esta foi a melhor série televisiva que me lembro de ver. E a melhor obra sobre zombies, ou mortos vivos, ou "mortos que caminham". Mas isto deve-se, talvez, ao facto de eu não ver nestas personagens algo do mundo da ficção. Pelo contrário: assim somos nós, ou eu, pessoas mortas que deambulam às ordens de quem manda e cujo único sinal de "vida" é o instinto de sobreviência que nos leva, como the walking dead, a procurar alimento. Pois se estamos mortos, paralisados por um mundo dito democrático, mas que nos quer inertes e passivos, pois se temos as capacidades de raciocínio, mentais, anestesiadas, que podemos fazer senão comer, comer como animais, andar e comer para nos agarrarmos à vida, porque a morte é tabu. Verdade: a morte é um tabu absurdo. Não nos deixam viver, mas não nos deixam morrer: suicídio? É uma coisa proscrita! Eutanásia? Proscrita! Há que viver, viver sempre...apesar do desprezo com que nos tratam, os senhores que mandam no mundo! Nunca viram "mortos a caminhar"? É certamente porque não se viram ao espelho. É certamente porque não olham para os outros. É certamente porque não se perguntam porque é que para um país estar rico, as pessoas têm de estar pobres. É certamente porque não se questionam sobre os paradigmas económicos que se bastam a si próprios, não servindo as pessoas (ou só algumas), mas servindo-se delas. Exemplos de mortos que caminham?
- os pobres
- os miseráveis
- os que não têm abrigo
- os que procuram emprego
- os que frequentam as escolas para de lá sairem embrutecidos e ignorantes
- os bodes expiatórios
- os privilegiados(= têm emprego, ainda)que são submetidos a avaliações insanas, para se darem conta da sua menoridade
- os que vivem em barracas
- os boçais
- os lambe-botas
- os paus mandados
- os que "apenas" obedecem a ordens
- etc.

Voltando à série. Houve quem dissesse que não tinha gostado do fim, porque não se sabia o que acontecia. Claro que não se sabia, mas é possível saber-se e nem é um exercício muito difícil. Primeiro, não há apenas um fim em aberto, tudo na série fica em aberto, no que toca aos humanos: o homem e o filho que ajudam o xerife, morreram? O racista que ficou algemado a uma barra de ferro, morreu? O infectado pala doença dos mortos que caminham, deixado sozinho, a seu pedido, morreu? E os mortos vivos, será que vão viver, ou caminhar para sempre? Mesmo quando se lhes acabarem os vivos, seu alimento? Bem. Certo é que a ciência falha: morre o cientista e explode o centro de pesquisas avançadas. Os sistemas de comunicação falham, os rádios, os telemóveis ficam sem rede. Os carros amontoam-se sem combustível. Ou seja, não se procure na tecnologia e na ciência resposta para os problemas da humanidade: pois se a ciência não conseguiu sequer evitar a eclosão da doença dos mortos vivos!! O que sobra, neste mundo distópico? Mortos ambulantes, cidades arrasadas, paralisia e um grupo de vivos aparentemente, mas só aparentemente, repito, unidos, que tenta escapar ao caos a bordo de uma camioneta cujo depósito de gasolina não é ilimitado. É um final infeliz? Triste? Negativo? Não, pelo contrário. A série termina, acho eu, com uma bela utopia: um punhado de humanos, com contas para acertar, fugindo numa camioneta frágil, pelo meio de uma cidade destruída e perseguidos por mortos que só querem comê-los. Não é lindo?
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Saturday, March 12, 2011

Japão


Faz pensar. Põe as coisas em perspectiva. Faz-me sentir mesquinha. Sem palavras.

Sessenta segundos de silêncio pela catástrofe no Japão.

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Thursday, March 10, 2011

O regresso de Ulan Bator


Regressei ontem, ou hoje, não sei. O tempo altera-se sempre que venho de Ulan Bator. O tempo cronológico e o outro. Em Ulan Bator o tempo é ausência de horas e neve. Fiquei estacionada numa daquelas casas redondas, sujas, apreciando tudo, a beleza, e bebendo chá temperado com banha oxidada. Invadida de frio até à alma. A alma aliás ficou por lá, à minha espera. À espera da próxima viagem, da próxima fuga. Saudade! Saudade de andar pela montanha, sozinha, mas com a minha alma, apreciando a paisagem, o frio, a sujidade, a pobreza, o eco dos meninos do esgoto, a beleza de pesadelo em Ulan Bator.