Saturday, August 20, 2016

Dia Mundial da Fotografia


Foi ontem, dia 19. Mas eu comemoro agora, com uma foto do meu calçado discreto. A propósito, que dia é hoje? Hummmmmmm está na hora de levantar o presépio!

Wednesday, August 17, 2016

O Mundo de Ontem


Li 24 Horas na Vida de Uma Mulher, de Stefan Zweig, quando era bastante nova. Lembro-me de ter gostado. Como eu fui daquelas raparigas que estava proibida, pela minha mãe, de ter amigas, amigos, então, nem se fala, surpreendeu-me o mistério que se adivinhava acerca da vida das mulheres. Eu não tinha bem a noção de como as mulheres eram/são diferentes, socialmente, claro. Li depois Amok e, durante muito tempo, Zweig esteve ausente dos meus pensamentos. Há pouco tempo, porém, alguém escreveu um artigo em que falava deste livro de memórias, por assim dizer, de SZ: The World of Yesterday. 
Este é um daqueles livros que ilumina partes, para mim obscuras, daquilo que significou a Primeira e Segunda Guerra Mundial (a minha ignorância é vasta, para que conste). Claro que eu li muita ficção sobre a Segunda Guerra, li tudo o que vinha publicado pelas Edições Europa-América. Mas ser um judeu, um judeu rico, culto, um homem de letras (ia dizer bem-sucedido, mas isto soa tanto a besteseller) de renome, aliás, um dos escritores mais lidos durante uma dada época, a contar como foi confrontar-se, de repente, com o desmoronar do seu mundo, não pode comparar-se a nada daquilo que li sobre o assunto. Zweig estudou, viajou incessantemente, sem necessidade de passaporte, como ele explica, dado que só a Primeira Grande Guerra vem trazer essa imposição, escreveu, traduziu de várias línguas para alemão, divulgou homens de letras e artes: escritores, pintores, músicos. Conhece, aliás, todos e todas aqueles/as artistas do seu tempo. É curioso como fala das mulheres que escreviam como iguais! (Há tanto do universo ficcional de Gissing no testemunho de Stefan Zweig...)
Voltando ao mundo de ontem, Zweig dá conta de como as pessoas ouviam as notícias preocupantes acerca da possibilidade de uma guerra, mas não acreditavam mesmo que fosse acontecer. Tal repetiu-se com o aparecimento de Hitler. Há muita inquietação, mas há igualmente um sentimento de que não é possível, de que alguém irá evitar a catástrofe. Ninguém evitou. O escritor passou, assim, de homem aclamado, respeitado, a homem em fuga. Ele, que correu o mundo, acabou os seus dias refugiado no Brasil, com a sua segunda mulher e, pouco depois de terminado este livro, suicidaram-se ambos.
Mas Zweig não chora no ombro do leitor. Não se queixa, não faz beicinho, não apela à emoção. Pelo contrário, tenta de forma objectiva, embora vivida, dar um testemunho acerca de um mundo, de uma forma de viver, assente na ideia de segurança e solidez, que acabou definitivamente. Como homem de letras, sentiu que tinha de deixar este contributo para quem viesse a seguir. Para o mundo do futuro ficar a saber. Ao leitor, contudo, ou melhor, a mim, não me foi possível ficar plácida e serena durante a leitura. A Kleenex podia ter feito o patrocínio. Senti, pela primeira vez, verdadeiramente, a injustiça de julgar segundo a etnia. De aniquilar, destruir - os livros dele foram queimados em praça pública - uma vida (vidas) por causa de uma ideologia. Que absurdo!
Zweig fala de quase tudo: a escola - a visão negativa dos professores - o ser jovem, as mulheres («in our intellectual ignorance we looked upon the other sex as being mentally inferior», 2011 [1943]: p. 59), o sexo e a sífilis, a prostituição, o vestuário, as massas, o crescimento das cidades, a prosperidade, a emancipação das mulheres, os intelectuais da época, Paris - a cidade onde tudo é possível - a sociedade que levou à guerra, etc. O livro não é muito longo, mas parece estar lá tudo!
Quando Harry Zohn, na introdução, disfórica, na qual se foca essencialmente na perda, conclui, citando Walt Whitmann: «This is no book; who touches this touches a man» (2011: loc 286), não é fácil... continuar a leitura.
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Saturday, August 13, 2016

The Girl on The Train


Este é um dos romances de mistério do momento, da autoria de Paula Hawkins. E é, se não estou em erro, o seu primeiro livro. Também já existe o filme.
Gostei deste romance? Gostei. Afinal, revejo-me na seguinte frase:

«Twice a day, I am offered a view into other lives, just for a moment. There's something comforting about the sight of strangers safe at home.» (2015: loc. 46)

Quantas vezes já senti isto mesmo, nas minhas viagens de comboio, o meu meio de transporte preferido? Aliás, a personagem também gosta de comboios: «I like trains, and what's wrong with that? Trains are wonderful.» (idem: loc.522). Nem mais: os comboios são fantásticoa. Mas, reparem, mas, gosto do romance de forma igual até ao fim? Não. O fim é previsível, a partir de certa altura, aquela altura, para ser mais concreta, em que me apercebo de que Hawkins quer contar uma história com princípio, meio e fim, em vez de contar simplesmente uma história e o fim, olha, que se trabalhe. A história começa bem. A personagem principal, dado que é alcoólica, e não só, apreende a realidade de forma nebulosa e parcial, o que é bom, pois contribui para um sentimento de incerteza, de o que é que aconteceu? Como? Porquê? Não se sabe bem. O leitor caminha por entre o nevoeiro. Porém, o nevoeiro começa a levantar, desafortunadamente, e a partir daí a história torna-se banal, previsível e demasiado dramática, kitsch mesmo. Mas é de ler. Imagino que quem não tenha lido Ruth Rendell, por exemplo, ou mesmo Stephen King, veja neste romance algo de absolutamente fascinante. E não nego que o seja, mas... Eu já li muito, eu já li os melhores do género (não é para me gabar, ihihih), e por isso esperava mais de um romance tão elogiado - merecidamente.
Espero que PH tenha um/a agente que lhe mostre a importância da subtileza e o encanto da luz do entardecer. Não raro, é no escuro, de forma oculta e indizível, que radica aquilo que de mais belo fica expresso.
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Sunday, August 07, 2016

George Gissing


Depois de GG não consigo ler nada com prazer. Nada! Deixei um livro de Chesterton a meio, claro que vou terminá-lo um dia destes, mas apenas porque sim. Sinto falta dos romances realistas de Gissing, da forma como dá conta das grandes transformações, em todos os sectores da sociedade, ocorridas em Inglaterra na segunda metade do século XIX.
Como ainda não organizei bem as leituras, ainda não cruzei dados, etc., não posso dizer sem sombra de dúvida que GG era um "apocalíptico" que a custo se foi tornando um "integrado", embora pouco. Com ele, deixei de gostar de livros que pouco vão além da história contada com perícia literária. Aqueles livros que se demoram nos pormenores, porque não têm pressa de revelar o que quer que seja, ou tão pouco de o ocultar. Estou a pensar no romance The Man in the Window, de Jon Cohen. Foi um bom livro, com um título cativante: eu própria sinto-me "uma mulher à janela". É daí apenas que me relaciono com o exterior. É um livro que leva o seu tempo, que não é pouco, a narrar tudo o que envolve o enterramento da personagem que morre logo na primeira página: que feliz forma de começar, hein? Cativou-me logo. É também um livro cheio de sofrimento: o homem desfigurado à janela, a enfermeira obesa mórbida que trabalha com doentes terminais, o homem velho que teme aquilo que a velhice trará ainda de pior (e a situação dele já não é famosa: surdo e com falhas de memória), etc. Mas não há um rebolar na dor, por assim dizer. Não há um choradinho ininterrupto e miudinho como a chuva que molha tudo, até os parvos. Não: tem até muito humor, humor negro, ironia amarga, mas enfim, humor. A primeira gargalhada que dei foi ao ler a seguinte passagem.
Vou enquadrar primeiro. A viúva não quer gastar rios de dinheiro com os preparativos fúnebres do defunto, principalmente porque o agente funerário é conhecido por espremer os entes enlutados até à medula. A viúva, porém, escaldada, responde do seguinte modo à sugestão feita acerca da indumentária do falecido:
«My husband, I guarantee you, Mr. Rose, does not wish to travel through eternity in a necktie and a pair of shiny shoes pressing on his bunions.» (Cohen, 2013: loc. 130)

Eu não resisto à palavra joanetes (bunions) :)!

Mas, dizia eu, sinto falta de realidade, de personagens reais, palpáveis, com muito contexto histórico, narradas de forma "objectiva", não floreada, não cómica, contida. Gissing não está para nos fazer rir. E eu, que gosto de autores que me façam rir, viciei-me em Gissing, na sua seriedade, na sua sobriedade, na forma fascinante como nos leva a conviver com todas as classes sociais da época e em variados espaços: dos bairros miseráveis dos pobres, a cair de bêbedos nas "public houses", às casas da aristocracia decadente e da burguesia ora endinheirada e boçal, ora endinheirada e digna.
Tenho que rebuscar todas as Amazons, pode ser que ainda haja um livrinho, um só, que eu ainda não tenha lido.


Literatura Light: A Chick Lit Portuguesa (Kindle Edition)



Às minhas avós. As pessoas mais meiguinhas que conheci. A avó Maria não tinha a subtileza da avó Soledade, mas eu era a sua neta favorita. Não sou favorita de mais ninguém. Mas da minha avó Maria fui. Recordo bem os serões com ela, que contava histórias e ria muito. Ninguém fica mais feliz que ela com esta coisa, hoje banal, de publicar um livro.
O que ela se há-de gabar da sua neta com os seus companheiros do paraíso.

Tuesday, August 02, 2016

Na Amazon



Publiquei o meu livro. Edição de autor, claro. Gostaria de publicar numa editora tradicional, ter passado pelo crivo de um editor profissional, etc., etc. Porém, este é o sec. XXI, a pós-modernidade, a modernidade líquida. É o tempo da Internet, do faça você mesmo o seu livro. Foi o que fiz. Publiquei na Amazon. Fui preenchendo questionários e mais questionários, assinando contratos e mais contratos (espero ter lido as letras pequeninas! Ui...), dispensei consultores, que teria de pagar, dispensei layouts que teria de pagar... enfim, fiz tudo à mão. A fotografia da capa também fui eu que a tirei. É tudo meu. A Amazon aprovou. Depois, tive que escolher (pôr uma cruzinha) como país de publicação os Estados Unidos: o melhor país do mundo, a partir de hoje, para mim.
Não sinto que estou a enganar alguém que o possa comprar. Aliás, a hipótese de alguém o fazer é ínfima. Afinal, o meu livro foi escrutinado: lido, criticado, corrigido, atacado, defendido. Não estou a pôr à venda gato por lebre. Aliás, o impulso de publicar textos meus, de ficção, esfriou de imediato. Esses necessitariam de um editor idóneo. Por outro lado, tenho no meu blogue um espaço honesto de publicação, pelo menos daquilo que se pode publicar... Sou absolutamente contra as milhentas editoras de vão de escada que me contactam para eu publicar a minha "obra". Já disse a uma que nem tinha obra, nem publicaria numa editora que aceitasse a minha "obra". Acabei insultada de egoísta, de não gostar de literatura e de não querer partilhar com os outros a minha "obra".
Estou feliz!! E completamente sem sono: hoje há maratona de leitura e chocolate.
(Já fiz uma encomenda e grande: ó pra mim toda corada.)
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