Wednesday, October 10, 2012

Depois das sinistras reuniões...



Poema em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos

(Roubado ao Umbigo do Paulo)
Lá estava eu, na reunião, com duas participações de faltas disciplinares. No "no passa nada", que se vive um pouco por todo o lado, na negação das coisas, no ver normalidade em tudo, tudo compreender, a tudo se adaptar, é patético reclamar... dizer eu não acho isto normal, isto não está bem... enfim, não me adapto. E não mesmo!

Imagem do blogue sorriso digital

Friday, October 05, 2012

Margarida Marante


Morreu Margarida Marante!

 
Confesso que não apreciava muito o seu estilo de jornalista. Depois, no entanto, toda a segurança arrogante cedeu lugar a uma fragilidade emocional que coincidiu com uma transformação do seu corpo. De repente, MM tornou-se vulnerável...amável. Vou ter saudade da Margarida Marante que assustava os políticos. E saudade da Margarida dos últimos tempos...tão humana, tão como todos nós em tantos momentos da nossa vida.
 Num país em que as mulheres são supostas obedecer e ficarem no seu lugar, Margarida não só não obedeceu, como fez o seu lugar. É a essa Margarida poderosa, mas também humana e frágil, que envio um abraço de eterna saudade e reconhecimento pela MULHER  que ela foi e...será sempre!

Thursday, October 04, 2012

O Curral das Bestas




O Curral das Bestas é um romance de Magnus Mills, que fala precisamente de um par de bestas que de tão besta acaba por construir um curral e ficar lá dentro. Depois veio a polícia e as bestas foram dentro. Isto porque, de tão bestas, até tinham, sem querer (atente-se na veracidade deste sem querer), por matar alguns sujeitos. Já se sabe que besta que é besta está sempre sujeita a fazer uma série de coisas, quer querendo, quer não. Etc.
Porém, as bestas de que falo são a quelas com que me deparo. Há dias, já largos, começo a presenciar um desfile colossal de bestas. Besta gorda (com celulite, até), besta magra... Enfim! E penso, será que isto é moda, agora? Até porque algumas bestas (digo-o sem maldade) me diziam que não viam nada de anormal. "A coisa é assim mesmo....bestas? Cadê?". Até que leio no jornal que há manadas de bestas à solta na lezíria (?) de Idanha-a-Nova, bestas à solta, que até sobem as escadas de um certo castelo. Ora bem, com a minha capacidadae de raciocínio, vi logo que as bestas se tinham espalhado pelo país. Estava explicado! Mas, repare-se, MAS, falava-se aí de vacas, cavalos, bois, toiros - que tanbém os tenho visto, é certo, muita vaca, muito boi, muito burro, mas, repito, eu tenho visto também muito porco! Porco do tipo suíno. Como se explica isto? De onde vêm os porcos? Será do "Animal Farm"? Não será? Aviso: andam bestas à solta. Precatem-se!!!

(imagem do blogue sorriso virtual)