Wednesday, March 25, 2009

Deus Lhe Pague - Chico Buarque

Deus Lhe Pague
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague



Monday, March 23, 2009

Beethoven - Moonlight sonata (Luz de luna)

Uma obra que traduz toda a beleza calma da noite, quando as luzes pintam quadros na fachada dos prédios! Quando o ruído baixou para níveis humanos, quando os corpos procuram a cama, os olhos se fecham...quando não há vozes, gritos, ordens para cumprir. Quando os raios tórridos do sol dão lugar à luz fria da lua. Quando só há paz.... o próprio...quando os sonhos se perfilam para encher os sonhos dos que dormem...
A beleza...a beleza... imensa....!

Sunday, March 08, 2009

A origem do mundo 2 - cont.


Por norma, tendo a não colocar no meu blogue imagens com pessoas mortas. Tenho algum material, não é difícil cologi-lo a partir dos jornais. Mas para mim a morte é o conceito de morte, a sua inevitabilidade.
Aqui, porém, trata-se de um enterro, um enterramento, solitário. Para mim, é uma imagem de uma beleza incomparável. Reparem na ausência de gente, na paisagem, na mulher extremamente magra, no corpo da criança envolto num pano branco...Reparem também na ausência do sentimento de tragédia... no despojamento quase total...
Por esta criança, colocarei um ramo de flores, quando for inaugurada a Igreja aqui ao lado da minha casa.
Descansa em paz, meu amor!!!

A origem do mundo


Resumo, a mais não me atrevo. Feira do livro. Página de livro: mulher nua. Gustave Courbet. Alarido: «Ai Jesus, as partes pudibundas de uma mulher. Tapem os olhos às crianças.» Cruz, credo, etc. Vem a PSP: «Retirar que é pornográfico!» Estes são os factos (mais ou menos). Depois as opiniões:
«Ai que horror, a ignorância do povo!»
«Estamos no século 21!»
«O povo tem razão. As crianças a verem a ...a ...a coisa ...de uma mulher? Isso é certo?»
Etc.
Depois vêm os jornais e os articulistas:
Miguel S Tavares (argh!): «O povo tem razão! Aquilo não se devia colocar à vista das crianças!»
Depois vêm os bloguistas:
«Se uma criança vê a ...a ...a....coisa de uma senhora, explica-se à criança que aquilo é a ...a...a ...coisa de uma senhora.»
«E se fosse isto que a criança visse na capa de um livro?» - o isto são fotografias -ESPLENDOROSAS - de nu frontal masculino!
«Explicava-se à criança que "isto" é o....o ...o... coiso dos senhores.»
«Eu já levei outras obras de Courbet, como o seu quadro o funeral de....»
Aqui entro eu:
« O Courbet tem pinturas de funerais? Oh, meu Deus... funerais (e babo-me, ligeiramente)»

De facto, tem uma obra, BURIAL AT ORNANS, que representa um funeral. De reparar: o número de pessoas, o ar delas, as cores escuras, a ausência de luz, a cova aberta, etc.

Talvez daí, alguém se tenha lembrado de introduzir uma série de fotografias - e não pinturas - que retratam morte e violência extrema e tenha perguntado: « o que é mais aceitável como capa de um livro, o nu ou a morte, a violência?» A pergunta é pertinente. Eu reflectiria sobre o tema, se estivesse com cabeça para tal. Não estou, infelizmente. Porém, entre as fotografias de violência e morte estava uma que me hipnotizou, pelo seu despojamento, a beleza...tudo! Mas essa será objecto de um outro "post".