Tuesday, January 31, 2017

EUTANÁSIA


...debate-se amanhã no Parlamento. Laura Laura não está cá para escrever um dos seus textos iluminados e para dar força e argumentos sólidos a todos aqueles que, como Ela, desejam ver a eutanásia legalizada. Maria Filomena Mónica escreveu um bom texto sobre o assunto no Público, mas ninguém escreve sobre a morte boa, como a minha querida Laura Laura. Mas ...

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,


...dá um sinal de que continuas a fazer tudo para que a eutanásia passe a ser um direito nosso, daqueles que tendo vivido sempre pela metade, possam fazer uma saída antecipada se a vida, já com pouco sentido, passe a não fazer sentido nenhum.
Aproveito para te dizer que me fazes falta, e, no entanto, para mim não morreste!
Vamos ver o que acontece amanhã, Laura Laura: pode ser que haja boas notícias.

Imagem: http://festival-aix.com/en/medias/et-tachons-depuiser-la-mort-dans-un-baiser,  em 1, Fevereiro, 2017

Monday, January 23, 2017

Renééééé






Morreu mais um amigo, um companheiro dos maus e bons momentos. Aliás, um amigo que me ajudava/ajuda a esquecer e a sublimar tudo o que é desagradável na minha vida. Claro que eu continuarei a adormecer a ouvi-lo e a todos os actores de ‘Allo ‘Allo: não sei adormecer de outra maneira. Ao fim deste tempo todo, continuo a rir-me das mesmas situações, das mesmas frases, das mesmas personagens.

Gorden Kaye não fez muito mais, para além do excelente René Artois. Mas não precisou de fazer mais nada, porque foi extraordinário naquele papel. Eu não sabia sequer que ele ainda estava vivo, mas não gostei de saber que morreu hoje. Para mim, será sempre o meu querido amigo dos momentos difíceis. Continuarei a ouvi-lo sempre: faz-me bem!

Adeus, René!



Imagem: http://joemonster.org/filmy/75531, em 23 de Janeiro, 2017  

Sunday, January 15, 2017

Sísifo


Um artigo do Público, sobre gestão do tempo, lembrava o mito de Sísifo. Este foi condenado a levar uma enorme pedra montanha acima e, assim que lá chegava, a pedra voltava para o fundo da montanha e ele tinha de tornar a levá-la para cima: para todo o sempre, como castigo por ter desobedecido aos deuses.
Eu pareço ter desobedecido aos deuses, também. Bem posso esforçar-me por levar a pedra ao cimo do monte, que os deuses não reconhecem o meu sacrifício, devolvem-na ao vale e eu, em círculo, num eterno retorno, não paro de arcar com a maldita pedra. Isto é, nada que eu faça tem retorno positivo. Ninguém tenta ajudar-me a carregar o pedregulho, não me dá, sequer, uma palavra de conforto. Eu vou pela montanha acima e ninguém vê, está tudo de costas voltadas.  Assim desperdiço o meu tempo...de vida. Em nada!
A propósito do referido artigo, alguém citou Friedrich Nietzsche: “Ter pressa é universal porque toda a gente está em fuga de si própria.” Antes assim fosse. Eu, pelo contrário, ando em fuga daqueles que permanentemente me mantêm às voltas com pedregulhos na natureza inóspita. E tenho pressa,sim, mas é de me encontrar um dia e não mais de mim me separar.

Imagem: http://www.bromart.com/gallery.html, em 3 Julho, 2015

Saturday, January 14, 2017

Dois Sonetos na Hora Triste



I

Quando eu morrer - e hei-de morrer primeiro

do que tu - não deixes fechar-me os olhos

meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos

e ver-te-ás de corpo inteiro


como quando sorrias no meu colo.

E, ao veres que tenho toda a tua imagem

dentro de mim, se, então, tiveres coragem,

fecha-me os olhos com um beijo.


Eu, Marco Pólo,


farei a nebulosa travessia

e o rastro da minha barca

segui-lo-ás em pensamento. Abarca


nele o mar inteiro, o porto, a ria...

E, se me vires chegar ao cais dos céus,

ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus.


II

Não um adeus distante

ou um adeus de quem não torna cá,

nem espera tornar. Um adeus de até já,

como a alguém que se espera a cada instante.


Que eu voltarei. Eu sei que hei-de voltar

de novo para ti, no mesmo barco

sem remos e sem velas, pelo charco

azul do céu, cansado de lá estar.


E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.

E não quero que chores para fora,

Amor, que tu bem sabes que quem chora


assim, mente. E, se quiseres partir e o coração

to peça, diz-mo. A travessia é longa... Não atino

talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino.


Álvaro Feijó


PS: Obrigada, Dra. Maria Barroso.


Fontes:







Tuesday, January 10, 2017

Dizer Adeus



Cerimónias fúnebres. De repente, a marcha fúnebre de Chopin começa a ouvir-se, como se brotasse das paredes do Mosteiro dos Jerónimos. Fui para o Youtube, para ouvir toda a marcha de Chopin, mas também de Mozart, e o Requiem de Ligeti. Aqui, alguém perguntava: conhecem outro compositor na linha de Ligeti? Alguém recomendou o Requiem de Krzysztof Penderecki: lindoooo!! E surge então também a marcha fúnebre de Luigi Cherubini - belíssima - e outras, que não tive tempo de ouvir. Claro que prefiro Chopin, logo a seguir a Ligetti. Alguém dizia que Ligetti exprime a dor intensa e sem remédio. De facto, chega a ser claustrofóbico, mas um claustrofóbico bom, libertador: ouve-se a mágoa do Requiem, enquanto a nossa fica apenas adormecida e diminuta por comparação.
Hoje continuaram as cerimónias fúnebres e, novamente, dos Jerónimos, fez-se ouvir uma voz belíssima interpretando superiormente um poema ou dois. Já tinha colocado o pó de arroz, pelo que tive de, rapidamente, secar as lágrimas bem na sua fonte, ali no canto dos olhos e desligar tudo, pegar na pasta e sair para o desconforto da rua fria.
Música e poesia e cavalos e flores e pessoas e palavras lindas e silêncio e Lisboa e os Jerónimos e o Cemitério dos Prazeres. Sábado poderei ver e ouvir tudo e conceder-me a prorrogativa de sentir. Os sábados são a parte boa da semana, a saída de um tempo que passou e que só continua na segunda-feira seguinte. São um tempo parado, antes do Domingo já carregado de presságios e angústias renovadas…

Sunday, January 08, 2017

8 de Janeiro de 2016, 15:30



Faz hoje um ano. A esta hora, estaria eu a tomar nota de 20 min de perguntas ou a usar 20 min para responder às perguntas feitas por um dos arguentes. Já tinha apresentado a minha tese.
Venho desejar parabéns a mim própria por ter atingido um objectivo: ter o grau de doutora. Sonho seria ter uma casa de vidro na montanha com vista para o mar. Os sonhos são quase impossíveis de alcançar, os objectivos exigem capacidade e trabalho. E eu trabalhei, estudei e fui capaz: congratulations!

Saturday, January 07, 2017

Chegada a Santa Apolónia


... no Sud Express, no dia 28 de Abril de 1974. Com Mário Soares, morre mais um bocadinho do Portugal de ontem.
Nostalgia, é o que sinto. Sentidos pêsames àqueles que hoje o irão chorar.
Rest in peace!

Imagem: http://www.fmsoares.pt/casa_museu/expos/permanente/molduras/7-3-1.html, em 7 Janeiro, 2017

Friday, January 06, 2017

Vulgaridade


O passado é um pilar simbólico que nos sustenta. É povoado de coisas e gentes. Nele habitam luzes, pequenas clareiras de felicidade e desertos enormes de grande tédio e pequenos e médios desencontros. Partes do passado já não o são. Integram o espaço virtual do esquecimento. Por vezes afloram de forma fugidia, mas não passam de pequenos relâmpagos longínquos, que não produzem som. Nem fúria. Há, porém, partes do passado que queremos que sejam sempre presente(s). Para tal, procedemos a gigantescos actos de sublimação. Tal e qual um escultor, vamos tirando tudo o que não nos agrada. E, um dia, ali está esse passado, essa narrativa com princípio, meio e fim. Tudo belo, perfeito, inatacável. Arrumamo-lo então, e visitamo-lo quando o presente nos falha ou nos magoa.

Porém, há sempre um tempo, em que alguém atira uma mão cheia de areia sobre a nossa estátua, longamente burilada, bela, perfeita... (quase) destrutível...!

Vulgaridade!

Texto de  02/09/2007