Saturday, January 14, 2017

Dois Sonetos na Hora Triste



I

Quando eu morrer - e hei-de morrer primeiro

do que tu - não deixes fechar-me os olhos

meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos

e ver-te-ás de corpo inteiro


como quando sorrias no meu colo.

E, ao veres que tenho toda a tua imagem

dentro de mim, se, então, tiveres coragem,

fecha-me os olhos com um beijo.


Eu, Marco Pólo,


farei a nebulosa travessia

e o rastro da minha barca

segui-lo-ás em pensamento. Abarca


nele o mar inteiro, o porto, a ria...

E, se me vires chegar ao cais dos céus,

ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus.


II

Não um adeus distante

ou um adeus de quem não torna cá,

nem espera tornar. Um adeus de até já,

como a alguém que se espera a cada instante.


Que eu voltarei. Eu sei que hei-de voltar

de novo para ti, no mesmo barco

sem remos e sem velas, pelo charco

azul do céu, cansado de lá estar.


E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.

E não quero que chores para fora,

Amor, que tu bem sabes que quem chora


assim, mente. E, se quiseres partir e o coração

to peça, diz-mo. A travessia é longa... Não atino

talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino.


Álvaro Feijó


PS: Obrigada, Dra. Maria Barroso.


Fontes:







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