Monday, October 30, 2017

The Walkers


The Walking Dead recomeçou. Na semana passada não pude ver, mas hoje pude. E vi. Só o hábito, no entanto, explica que continue a ver. A história esgotou-se. As personagens aumentaram e perderam o encanto de outrora. A primeira temporada foi a melhor. Aliás, foi francamente boa. Depois, houve episódios de temporadas posteriores que são inesquecíveis. Agora nada parece verdadeiramente fazer sentido. Há várias comunidades lutando umas contra as outras. Claro! Hoje, transformada eu própria numa morta viva, fiquei pasmada - se calhar até de boca aberta e a babar-me, tudo é possível - a ver as imagens. Havia gente por toda a parte e todos a matarem-se uns aos outros. Isto é, os mortos querem comer os vivos. Os vivos, por sua vez, querem matar os que já estão mortos e também os que ainda  estão vivos. Andava tudo de armas de todos os tipos na mão. Menos os mortos, postos que alguns já nem mãos têm. Os mortos matam à dentada. De repente, tentei raciocinar: mas como é que esta gente tem tantas armas? O mundo está parado, não se produz nada, não resta quase ninguém. Depois reparei que a acção hoje passava por encontrar as armas guardadas numa casa. Não era um quartel. Isto é, as armas só poderiam estar espalhadas nas casas abandonadas das cidades destruídas. E que arsenal! Isto é - peço desculpa pela repetição -, estas cidades, quando reinava a normalidade, estava cheia de gente que detinha todo o tipo de armas sofisticadas, armazenadas nas suas casas, com o fim de destruir o seu semelhante. O que as pessoas gostam de destruir os outros. De matar. De aniquilar. E nem sequer são necessárias armas.
Hoje mesmo, assisti a várias formas de tentativa de aniquilação: com palavras, virar de costas, indiferença, desprezo. Eu própria desprezei em legítima defesa. Sim, que não me dou ao trabalho de atacar. Que mundo! De merda!

Imagem: https://www.facebook.com/PolishMastersofArt/photos/a.1526688624261610.1073741945.1489475997982873/1953891651541303/?type=3&theater, consultado em 22 Outubro, 2017

Saturday, October 21, 2017

Vem, abraça-me, beija-me....



«O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons.»
Martin Luther King

https://www.pensador.com/frase/NDg1MjYy/

E Marcelo Rebelo de Sousa é bom e comparece! Ele não virou as costas àqueles que desesperam no momento de aflição. Claro que os abraços não resolvem os problemas imensos que a tragédia deixou para trás. Mas não se subestime o valor do afecto, da amizade, do carinho. Bem diz o ditado que é na dor que se conhecem os amigos.  E MRS, num mundo de "líderes" boçais e ignorantes, é inteligente, é digno e, sobretudo, é BOM!

Sunday, October 15, 2017

Nighttrain to Lisbon





A insónia levou-me a procurar um filme já perto da madrugada. Acabei por deparar-me com este. Nem sabia que existia. Já tinha lido o livro no qual se baseia há algum tempo. Mas também já o tinha esquecido. A noite nunca, quase, me desaponta, até na insónia.

Que belo filme! Que bom rever o querido Nicolau Breyner e todos os outros excelentes actores portugueses. E que bom ver Jeremy Irons deambular por Lisboa, belíssima também.

Mais um filme para a lista dos inesquecíveis!

Friday, October 06, 2017

Kazuo Ishiguro, The Remains of the Day


Este ano a Academia deu o prémio a um escritor, como deveria ter feito sempre. Mas a escolha foi tão boa, a meu ver, que se conseguiu redimir das asneiras de anos anteriores.
" Os Despojos do Dia". Conhecia o nome deste romance, que associava apenas ao filme. Quanto ao nome do escritor, não o saberia escrever. Acontece-me também o mesmo com Akira Murakami, se não estou em erro. Mas o nome deste último era-me bem mais familiar. Eu, porém, não tenho grande apetência por escritores que não escrevam em português, inglês, francês ou alemão. Claro que não sabia que Ishiguro é britânico, embora tenha nascido no Japão, e que a sua obra está escrita em inglês. Tudo isto aprendi ontem, posto que fiquei curiosa para saber a quem tinha este ano atribuído a Academia o Nobel. E eis quando me deparo com o título The Remains of the Day. Comprei-o de imediato na Amazon e de imediato o li. Ainda não consegui sair de uma espécie de encantamento em que entrei a partir aí da quarta ou quinta página. É tudo tão bom, de tão bom gosto, tão bem escrito, tão bem estruturado, que parece escrita fácil. A Literatura é isto. É assim que é um romance literário.
Por vezes, quando agarramos num escritor canónico ou respeitado pela crítica académica, temos a sensação de estar em presença de um livro que só é aceite por ser tão intragável. Não vou dar exemplos. Mas posso falar daquela coisa de não haver necessidade de contar uma história, pois só a linguagem importa. Não concordo. Eu quero uma história. E em The Remains of the Day conta-se uma história, uma grandiosa história. Está lá tudo: personagens, tempo, espaço, etc. Quanto à linguagem, é de uma simplicidade que impressiona: não há tiradas retóricas, junção de palavras de grande efeito, enfim, malabarismos linguísticos Há tão somente simplicidade, palavras adequadas para relatar/descrever o que interessa para o desenrolar da acção. Mais nada! Por outro lado, apesar da carga emotiva inerente àquilo que é contado, na primeira pessoa, não se pode "culpar" a escolha de vocabulário específico para emocionar. Tão pouco se pode apontar o dedo ao narrador, que é quase esfíngico.
O que vai tomando conta do leitor é um eco da humana incapacidade de alguns de nós - ou muitos de nós - de agarrar o dia, de criar laços, de deitar a mão àquilo que se nos oferece e agarrar com força, para não deixar fugir. É a omnipresente solidão de tudo aquilo. É a viagem ao encontro de alguém que já não está ao nosso alcance, para dizer adeus, um adeus definitivo, numa tarde de chuva, numa paragem de autocarro, com o guarda-chuva aberto. E depois regressar ao ponto de partida, à casa, quase vazia, a única referência de que algo aconteceu, de que algo foi vivido, apesar de tudo.
Num dos artigos que li sobre este escritor, diz-se que duas das suas referências literárias são Kafka e Jane Austen. Claro que lerei mais livros seus e tentarei procurar neles estas duas referências. Para já, em The Remains, é fácil encontrar Kafka na solidão extrema, quase sem sentido, da personagem principal. Quanto a Jane Austen, está bem patente na elegância da escrita. E na casa, grandiosa, que quase poderia ser Pemberley.    

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