Monday, December 31, 2018

This was the year that was the year...



This was the year that was not the year
I repaired the bathroom tap
or emptied out the kitchen drawer
of a liftime's worth of crap

(…)

This was the year that WAS the year
I didn't get that much done
much the same as the year before
much like the one to come

Brian Bilston

Talvez nao...

Sunday, December 30, 2018

My Precious


Discutir precos de gatinhos a esta hora. Que bela maneira de comecar o ultimo dia do ano. Ou talvez sejam efeitos secundarios da medicacao…
So quero ser um bocadinho feliz. E ter alguem exclusivamente meu... ninguem mexe!

Vou ao Entroncamento...



Talvez venha a ter motivos para amar o Entroncamento… ainda mais!

Thursday, December 27, 2018

Deitar tarde e tarde erguer


… nem da (acento) saude (acento), nem faz crescer. Mas sabe bem, quer dizer, sabe mais ou menos bem. Isto e (acento), sabe mais bem que mal. Ou seja… Chega.

Tenho de ir as (acento) compras. Ja (acento) nao (acento) ha (acento) leite nem pao (acento). Nem fruta. Uma macada (cedilha) ter de comer fruta. Nao (acento) seria melhor comer croquetes, peixe frito, batatas fritas, hamburgueres (acento), cachorros quentes, etc., etc. A vida ja (acento) e (acento) tao (acento) desagaradavel (acento), o portugues (acento) tem tantos acentos e a culinaria (acento) tambem (acento) nao (acento) ajuda! E (acento) tudo uma grande macada (cedilha)!

Wednesday, December 26, 2018

Volta a Alguma Normalidade



Pensava ter hoje um dia mais activo, menos esparramado - de corpo e alma - numa cadeira e agarrada ao computador. Quem sabe e (do verbo ser) amanha (com til), que comeco (com c de cedilha) a bulir! A esperanca (com c cedilha) e (vb ser) a ultima (com acento no u) a morrer.
Para ja (com acento), espero conseguir levantar-me desta cadeira a tempo de ir para a cama, onde continuarei a ler a Historia (com acento no o) da Humanidade. Ler tornou-se para mim uma coisa que faco (com c de cedilha) sobretudo na cama, encostada a abundantes almofadas. Mas, por agora, ainda vou manter-me sentada por mais um nadinha… depois logo se ve (com chapeu/com acento no e).

Tuesday, December 25, 2018

Xmas Day


Hoje estou mais animada. Ja consigo dar um passeio no meu cavalo.

PS1: O teclado nao poe acentos.
PS2: Os amigos fizeram as honras da quadra…
PS3: A imagem e de Berksinski, o artista que se apropriou do conteudo dos meus sonhos - e dos dele - para me deslumbrar.

Ultima hora: cumpriram-se todas as tradicoes!

Monday, December 24, 2018

Saturday, December 22, 2018

Mad as Hell





I'm not going to take THAT anymore!




Friday, December 21, 2018

Entroncamento


Eu devo ser das poucas pessoas que gosta do Entroncamento. E serei talvez a única que está obcecada com o Entroncamento. Haverá alguém que quando se deita e fecha os olhos repete vezes sem conta: quero ir ao Entroncamento? Neste aspecto, creio poder dizer que sou a única. A não ser, gostaria de conhecer essas outras pessoas que fazem o mesmo, para formarmos um grupo e discutirmos o nosso amor pelo Entroncamento.
Na viagem de comboio - também costumo dizer, na cama, com os olhos fechados, "quero ir de comboio para o Entroncamento" - , que fiz para Tomar, no Domingo passado, fiquei uma hora inteirinha na estação do Entroncamento.
Já estava escuro e, durante essa hora, no escuro, pude descansar, comer um bolo, devidamente isolada, e tirar fotografias. Tive, pela primeira vez, a possibilidade de olhar bem em redor, para tentar perceber porque é que o Entroncamento dos meus sonhos é como é. Tentar perceber em que pormenor, pormaior, me terei focado, durante as muitas horas que passei nesta estação, durante muitos anos, para construir a estação gloriosa dos meus sonhos, enorme, com comboios enormes, também, e comigo a correr, atravessando linhas - embora houvesse apenas uma - para não perder o comboio altíssimo. É que nem a plataforma, em que eu, cheia de bagagem pesadíssima, corro, feliz por ver o comboio chegar, mas também ansiosa porque o comboio está cheio e eu temo não ter lugar, se parece com a plataforma em que me encontro, com uma malinha com rodas, na realidade fria da noite. É só o nome: estação do Entroncamento. É quanto basta para ver tudo: a noite, a correria, o barulho de água por perto, talvez mar, o barzinho com cheiro a café e bolas de Berlim, o vulto do comboio a chegar, com grande barulho de metais deslizantes,  a minha bagagem imensa, que permanentemente me angustia, a minha vontade de espreitar pela porta, para ver a cidade, que imagino lindíssima. E é, era. Só a vi uma vez: chão de pedras castanhas, casas rústicas, de pedra castanha, janelas pequeninas com cortinas transparentes, mas escurecidas pela cinza das fogueiras que fazem o ar opressor e cinzento. Mas depois, por entre o cinza do ar e o castanho de todas as pequenas construções com cortinas tristes e luz amarela e baça, ouve-se um barulho de redemoinhos de água, e vê-se um mar verde cristalino a espalhar-se pela cidade, deixando para trás um brilho de cristal e espuma.  
É este o Entroncamento a que quero ir todas as noites. É por isso que, de olhos fechados, peço: quero ir para o Entroncamento de comboio, quero, quero...    

Thursday, December 20, 2018

O relógio





Começou a contagem decrescente …

Hello! Wait for me.



Hora de deitar e juntar-me à minha "crime family". Coming...

Livros de Papel!



Livros de papel! É difícil esperar que eles cheguem - os digitais, mal acabamos de os desejar, já eles estão connosco -, mas depois é bom tê-los nas mãos.

Ninguém diga que está bem, de Alberto Gonçalves, e com prefácio de Maria Filomena Mónica! Alberto Gonçalves, que é um selvagem, faz-me sempre rir. Acabo por não saber bem - nem interessa - o que é que ele considera ser "bom". Parece-me que ele também não sabe. Como o diz o outro, não sei por onde vou, sei que não vou por aí. Assim é o divino AG. Terei de renovar a assinatura de O Observador, só para ler as crónicas dele.
As Novas Crónicas da Boca do Inferno, de Ricardo Araújo Pereira, com uma crónica para montar, como o IKEA faz… Eu preciso de me rir. E o RAP faz parte das pessoas que me fazem companhia. Assim como o Pedro Mexia, o Carlos Vaz Marques e até o semiinsuportável João Miguel Tavares.
A Brief History of Humankind, de Yuval Noah Harari, que também escreve sobre o futuro. Se este livro não me desiludir, visto que gostei de ler a entrevista que deu ao Público, comprarei também o livro sobre o futuro, que é um espaço e um tempo que não quero de todo habitar.
Três livros que espero poder levar para as sessões de formação. Há muito não tinha formandos que gostassem de assuntos mais complexos. Que me pedissem para lhes levar fotocópias dos meus apontamentos! Que tirassem apontamentos daquilo que eu digo! Que me pedissem para eu repetir qualquer coisa devagarinho para eles poderem escrever! Só espero que o trabalho que tive a preparar três antologias de textos - artigos de jornal, poemas, contos - não tenha sido em vão. Que bom, alunos que me fazem querer ler para poder contar-lhes o que li, que querem ouvir as músicas de que eu gosto - e eles também.
Para além dos meus "amigos" do YouTube e dos meus escritores, este ano tenho também a companhia de dois ou três alunos. Não estou assim tão sozinha. Mais, os meus alunos são reais, estão frente a frente comigo… e gostam!

Thursday, November 29, 2018

Nevoeiro


Hoje, regressei sozinha a casa. Já tinha curiosidade de saber como seria enfrentar a noite desde aquela última vez…
Não aconteceu nada. A noite voltou a estar como sempre e voltei a gostar dela. Estava tudo calmo, silencioso e enevoado. Tudo passa. Isto… também vai passar!

Saturday, November 17, 2018

Sou quase um gato...gata



1- Não sou muito sociável - Sim!

2- 99% da população aborrece-me de morte - Verdade!!

3 - Odeio aquilo que os outros acham divertido - Confere.

4 - A minha felicidade não se limita à quilo que é caro - Verdade, mas… não desgosto de coisas caras. Nada mesmo. Essa é que é essa. O dinheiro no meu bolso é que não abunda: hélas!

5- Gosto de afecto nos meus termos - Verdade, sem beijocadas e outras maçadas afins!

6- Sou vítima de mudanças bruscas de humor - Errado! Respeito os outros. Tento esconder muito daquilo que sinto para não ferir ninguém. Por isso, também, me mantenho o mais isolada possível, longe de todos, para não resvalar para a expressão da minha impaciência, do meu mal-estar, do meu desprezo, até. E não me sinto bem comigo quando sou bruta. Mais: sou-o em legítima defesa. Apenas. Aliás, detesto cataventos. Gente que vive só para ela, para o seu umbigo. Agora quero. Agora não. Gente imatura, que não sabe lidar com a frustração. Gente que não sabe o que quer. Gente para a qual só o seu bem-estar conta. Gente que não faz compromissos. Gente incapaz de se sacrificar, se daí não resultar um qualquer benefício. Gente tóxica! Gente que faz mal aos outros. Gente que não é feliz e dificilmente consegue fazer feliz os outros...

Por isso, sou apenas, quase, uma gata.

Sábado - 20:50



Passei a semana a empurrar os dias. E eles foram passando comigo a fazer força nas suas arestas. Hoje, pelo contrário, tentei fazer tudo para atrasar o tempo: olhei  muito para o relógio, para intimidar e envergonhar os ponteiros na sua marcha. Deitei-me no sábado, de modo a fazer peso e a atrasar a passagem do dia. Mas já são 20:53. Até às 11:00 de amanhã, será, para mim, sábado ainda. Depois, começa logo a 2ª feira… dia(s) mau(s)…


Tuesday, November 13, 2018

Dormir bem




(…) I feel personally attacked 😂😂😂 this is an actual image of me.

(…) This is so me! I go to sleep every night watching true crime shows

A parte boa da Internet. Encontramos pessoas como nós, lá longe...

https://www.facebook.com/stolethispage/photos/a.327937670613947/2312618572145837/?type=3&theater, consultado em 13 Novembro, 2018

Thursday, November 01, 2018

A Ponte de Whistler

Resultado de imagem para whistler painter

Há uma narrativa curta que sempre me fascinou. Nem sei bem porquê. Faz parte de um conjunto de histórias “exemplares”, que me fazem lembrar as Histórias do Sr. Keuner de Brecht - Geschichten vom Herrn Keuner, Berthold Brecht.

«Em 1850, o pintor americano James McNeill Whistler passou uma temporada breve, e academicamente infeliz, na academia militar de West Point. As crónicas dizem que, quando ele foi contratado para projetar uma ponte, desenhou uma ponte de pedra romântica, sobre a qual colocou duas crianças a pescar. Para além disso, desenhou as margens do rio de forma  idílica, cobertas de relva.

"Tire essas crianças da ponte!", disse o instrutor. "Isto é um exercício de engenharia!" Whistler removeu, então, as crianças da ponte, e desenhou-as a pescar numa das margens do rio. Perante o novo exercício, o instrutor berrou furiosamente, "Eu disse-lhe para remover essas crianças! Elimine-as completamente!»

Mas a criatividade de Whistler era muito forte. Assim, quando refez o desenho, eliminou completamente as crianças. Agora, numa das margens do rio, podiam ver-se dois pequenos túmulos.»

Tradução livre, de minha autoria, do texto seguinte:

«Hacia 1850, el pintor norteamericano James McNeill Whistler pasó una breve -y académicamente desafortunada- temporada en la Academia Militar de West Point. Cuentan las crónicas que, cuando le encargaron diseñar un puente, dibujó un romántico puente de piedra, sobre el que había dos niños pescando, flanqueado por idílicas orillas cubiertas de hierba. «¡Quite a esos niños del puente!», le dijo el instructor. «¡Esto es un ejercicio de ingeniería!» Whistler quitó a los niños del puente, los dibujó pescando desde una de las orillas del río y entregó de nuevo su ejercicio. El instructor bramó enfurecido: «¡Le he dicho que quite a esos niños! ¡Suprímalos totalmente!» Pero el instinto creativo de Whistler era demasiado fuerte. Cuando rehizo el dibujo, había «eliminado completamente» a los niños, efectivamente; ahora los había enterrado bajo dos pequeñas tumbas en la orilla del río.»

Mello, Anthony de, La oracíon de la rana, em file:///C:/Users/draad/Desktop/La-Oracion-de-La-Rana.pdf
Imagem: http://thebluelantern.blogspot.com/2015/08/the-book-on-whistler-sadakichi-hartmann.html, consultado em 31 de Outubro, 2018

Helena Ramos


Elegância. Classe. Num mundo de barulho, sente-se mais a falta de quem manteve sempre a discrição.
Não sabia que gostava tanto de Helena Ramos…

Wednesday, October 31, 2018

Dia dos Mortos





Tia Maria, Avó Maria, Avó Soledade, Tio Bernardino, Tia Bé, Tio Jaime, Tio Ângelo.

Paizinho...

Sunday, October 28, 2018

M.I.R.I.A.M.





 A "tempestade" vai passando. Já esqueci todos os planos feitos, as promessas de companheirismos: ida à Figueira da Foz, ida a Lisboa, ida a Sintra, a pintura… a pintura…

Eu irei sozinha. Eu farei tudo sozinha. Afinal, não sou boa companheira. Sou um empecilho: não posso ir a um restaurante, não posso beber um café na rua, comer um bolo, um gelado. Comigo, o trabalho é a dobrar. Não sou, definitivamente, pessoa para partilhar com os outros - passo a redundância -  as horas felizes do dia.

As minhas horas felizes são na Internet, com gente que está comigo, mas não tem de "sofrer" o incómodo das minhas "peculiaridades".

A inscrição neste curso está feita. Começo a estudar na próxima semana. Na próxima semana, irei, também, começar a comprar as tintas e os pincéis, e o escadote, e o rolo e a fita isolante. Em Dezembro, irei fazendo as pinturas. Depois, conforme a vontade, irei à Figueira, a Sintra, a Lisboa. Não por esta ordem. Também quero ir a Coimbra: como se terá degradado o meu hotel? Tornarei a ficar no quarto com vista para as máquinas do ar condicionado ? :)

Há pastéis de Tentúgal na Briosa… É o que interessa.

Entretanto, 6ª feira, com o risco de falência, de andar a pão e água, durante uns tempos, terei o perfume que ando para comprar há anos. Está feito. Se não morrer antes, no Sábado que vem, o meu dia preferido, estarei perfumada daqui até à lua.

Hora de dormir!

Back to school


Feito!

Friday, October 26, 2018

Os Beijos Dos Avós










Estalou uma polémica (?) algo grotesca em torno de umas declarações/teorias sobre educação e violência sobre o corpo da autoria ou coautoria, sei lá, de um professor doutor universitário.
Alertada para a vetusta polémica, procurei o vídeo no YouTube e vi o que passo a descrever: um jovem, ou talvez não muito jovem, pelos vistos um intelectual, ou talvez não, também, enfim, um ser do sexo/género masculino no Prós e Contras - sobre o me too -, levanta-se, muito lampeiro, e diz que obrigar as crianças a dar um beijo ao "avozinho" ou à "avozinha" é uma violência, etc. . A moderadora diz-lhe, e bem, que não percebeu. E o dito intelectual, que até cita Foucault, reitera, mais lampeiro ainda, que o beijo aos avós é uma violência e que mais tarde os jovens andam a espreitar, se não me engano, os telemóveis uns dos outros. Pior, numa turma dele, de 40 alunos, todos dizem que os homens só violam porque não se conseguem controlar!  Vejamos o raciocínio:

Fases da vida: infância; adolescência; idade mais ou menos adulta.
Comportamentos desviantes e atentatórios sobre o corpo, segundo as fases da vida: infância/beijos nos avós; adolescência/devassa aos telemóveis; pós-adolescência/violações potenciais por falta de controlo.

Daquilo que ouvi do douto professor, nada se aproveita. Pessoalmente, ao contrário de muitos que viram  nas declarações, entre muitas outras coisas, um ataque à família e aos valores tradicionais, vi foi um ataque à lógica, à instituição universitária e à seriedade das chamadas ciências sociais. Estas parece que, cada vez mais, se preocupam com questiúnculas que as expõem ao ridículo e ao descrédito. Mais: a atitude (lampeira) com que o prof. iniciou a sua deriva lunática deixou bem claro que ele está habituado - e gosta - a proferir enormidades para deixar as plateias boquiabertas. Uma espécie de rebelde sem causa - e sem efeito propriamente dito. O tom, a forma como pronunciou as palavras avozinho e avozinha - note-se o diminutivo -, foi de provocação, mas uma provocação que espera aplauso e embasbacamento. Enganou-se. Tirando defesas pontuais, como a de Manuela Moura Guedes, e outras que pelos vistos são de amigos, caiu-lhe em cima uma caterva de insultos à boa velha maneira da Internet: o costume. Houve também quem, não concordando com as declarações, se mostrou incomodado com a devassa aos hábitos do professor e da sua orientação sexual e, também, com a qualidade rasca dos insultos. Eu confesso que não tive pena nenhuma! E porquê?

Detesto beijos! Detesto! Quando pequenina, a minha mãe diz que eu pedia para ela me lavar a cara quando vinha da aldeia, depois de ter sido beijada por toda a parentela (que Deus a tenha! Obrigada pelos beijos que me deram). Não gosto de cumprimentos de espécie nenhuma. Os apertos-de-mão são autênticos pesadelos. Para mim, as palavras bastam. Mas claro, apesar de me manter sozinha todo o tempo que posso, assim que estou com os outros não tenho outro remédio que não seja aguentar-lhes os beijos. Mas eu compreendo que cumprimentar é uma forma de dizer: somos amigos; estamos juntos; és bem-vinda; és das nossas. Não vejo o gesto como um abuso sobre o meu corpo. Afinal, os beijos de circunstância vêm da parte de pessoas que gostam mesmo de mim, ou que querem mostrar que eu sou bem-vinda. No consultório dentário,  por exemplo, sou beijada desde que entro até que saio: a assistente, a dentista, o dentista. Penso que a vontade que têm em beijar-me será muito parecida à minha própria vontade. Mas é um gesto de inclusão, de me pôr à vontade. Não é uma violência. Violência são os modos circunspectos  do meu oftalmologista: mas eu gosto dele! Ou seja, ninguém gosta menos de beijos que eu, mas, quando vindos das pessoas que conhecemos e com quem convivemos, são gestos de amizade, de entrega, de pertença. A propósito, esta semana, uma colega, como forma de se desculpar por algo que me fez, vem direita a mim e diz-me: Delinha, eu sei que não gosta de beijos, mas vou dar-lhe um beijinho na mesma e pedir-lhe desculpa. E a coisa foi ultrapassada. Mas não vou deter-me mais em beijos. Vou para a questão da família e dos avós.

Nada me poderia interessar menos do que a desagregação da família "tradicional" (de que tradição falamos?) e seus "valores". A família é como o pai Natal: só existe quando somos pequeninos. Claro que há famílias e famílias. Quando cheguei à idade da razão, dei-me conta de que a minha família, mais do que ser uma "família", tentava comportar-se como tal. Andava tudo fartíssimo de se aturar, mas tentando manter a ilusão de família: uns esforçavam-se mais do que outros, claro! Agora, nem se dão ao trabalho de fingir. Cada um na sua. Os valores da "interajuda", do apoio, do "nos maus momentos é que se conhecem os amigos", não são recíprocos. A ingratidão, o cuspir no prato em que se comeu, esses sim, são os "valores" que predominam. Felizmente não construí uma família. Mas pertenço a uma família: hélas!  A caminho dos sessenta anos, dou-me conta de que pus, no centro da minha vida,  os outros, não eu. Coloquei-me sempre em segundo lugar. Ajudei, como pude, quem necessitava da minha ajuda. Porém, quando eu precisei e pedi ajuda, só veio o nada. O nada não. Minto. Veio a indiferença e até o desprezo. Olhando para trás, vejo inclusive como a própria linguagem foi mudando: a escolha das palavras. À medida que se vislumbrava uma luz ao fundo do túnel, sendo eu cada vez mais dispensável, a atitude foi mudando. Assim que deixei de ser útil, só o silêncio. Mas não um silêncio qualquer. Não. Um silêncio enfadado. Uma raiva. Um ódio, até, que eu sinto ser alimentado. Intensificado. Do que dei, do que de bom fiz, de tudo, ficou apenas o incómodo… o "que maçada ter precisado desta fulana"...

E os avós. Conheci apenas as minhas avós. Delas tive tudo. Elas deram-me coisas. Deram-me beijos. Deram-me carinho. Foram as pessoas que mais gostaram de mim. A minha avó Maria, pouco dada a subtilezas, uma mulher da aldeia, inteligente, ativa, algo rude, mas cheia de alegria, apesar de todo o sofrimento - os filhos cegos, o marido… -, era afectuosa. Passei com ela muitas noites de riso. Muitos serões à lareira, a ouvir histórias. Quanto à avó Soledade, pequenina, frágil, mas muito ativa, muito sofredora também, foi a pessoa mais meiguinha que conheci em toda a minha vida. Vivi com ela muito tempo e em circunstâncias muito particulares. Ela deixou "coisas" para trás, para estar comigo. Ela, naquela altura das nossas vidas, pôs-me a mim no centro da vida dela. Pôs-se em segundo lugar para eu estar bem, para me proteger. Foi a única pessoa a pôr-me em primeiro lugar. Também tenho uma tia que me ajudou. Mas a conversa é sobre avós.
E é talvez porque as pessoas que eu acredito que gostaram de mim, verdadeiramente, foram as minhas avós, que eu não posso deixar de abominar a conversa insana daquele professor que, com as suas palavras e a sua falta de lógica, se atreveu a falar com desdém das pessoas que eu mais admiro: os avós. Delas, das minhas avós, os beijos são como no livro de não sei quem, que interessa?, que dizia, quando o seu amor o beijava: está a cobrir-me de mimosas… estou inundada de mimosas…




Saturday, October 20, 2018

Porquê?



Levantei-me cedo. Compromissos. Servi dois cafés a estranhos. Nunca estranhos tinham aceite a minha oferta de café. Improvisei uma coisa simpática, servida na entrada da minha casa. 
Passei os olhos pelas notícias enquanto esperava pelos estranhos e depois, também. Depois da retirada dos estranhos. Senti as horas todas passarem, surpreendentemente lentas. Agora mesmo, estou à espera de sentir mais horas passar antes de ir para a cama, na esperança de ter vontade de fazer um lanchinho, de beber chá, qualquer coisa que ocupe as horas de forma densa. 
No Público, li uma entrevista de António Lobo Antunes: “Quando é que eu fui feliz?”
Um comentador diz que não lhe interessa nem quer saber da infelicidade de ALA. ALA discorre sobre a vida, a dele, a sua infância, o seu gosto por estar com os “humildes”, com quem “aprendeu tanto”, e afirma que as “classes altas não lhe interessam” (cito de cor). Que falta de humildade! Quanto snobismo paternalista. Mas ele diz não ser snob. É! É, sim. E pode ser. Porque não seria? 
ALA faz um género de escritor nostálgico, atormentado por qualquer coisa. Faz de sonso. Fala de um e de outro escritor: é um homem cheio de Literatura! Faz de conta que não se lembra dos seus livros e vai explicando os seus desconcertantes títulos: Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura.
Excelente! O título, claro. Penso, e se eu levasse esta entrevista para uma aula?  Como os meus pupilos a achariam vomitiva!!!
Eu não acho. Eu, anos atrás, ficaria esmagada, quereria conhecer um homem assim: cheio de Literatura, de snobismo, de importância, de chá em pequenino, de berço de ouro. Diria: que homem interessante. Hoje não digo nada. Leio o que este homem diz e gosto de ler. Mas, depois, advém o esquecimento. Não fica nada. Foi um momento denso – tempo denso – que senti passar. Só isso.
Às tantas, Lobo Antunes, o António – eu, humilde, muito você cá, você lá, tio,com as classes altas – cita uma frase que gostaria ele de ter escrito:
 “Não me sacudam que estou cheio de lágrimas.”  (Louis Calaferte)
Alguém nos comentários acha a frase “brutal”. Eu tento achar qualquer coisa acerca da frase. Mas acho apenas que, tempos atrás, não longínquos, seria capaz de pedir, pelos mesmos motivos de Calaferte, para não me sacudirem. Agora é-me indiferente. Podem sacudir-me.
Encontrei uma nova série de vídeos no YouTube: tenho, portanto,  um novo produto no meu kit de sobrevivência. 
E ouvi música dos anos oitenta: quase me parece que fui feliz nos anos 80. É mentira. Mas estas canções levam-me no tempo e vejo-me nele, feliz. O pavilhão à noite. A piscina no escuro. O arvoredo. A bicicleta. A amoreira. O cão debaixo dela. Eu em cima. O meu amor dos cabelos compridos e dos olhos “como relâmpagos envoltos em veludo”.
 A memória, como é um espaço pouco iluminado, torna tudo – quase – belo…

Monday, October 15, 2018

Furacão





A ver tango. Assim passei os dias da tempestade, que pôs todos a zelar pelo bem-estar dos seus "entes queridos".

Hoje, falava-se dos telefonemas inquietos. Ainda tive, eu também, de sossegar a inquietude da minha mãe. Pessoalmente, ninguém se preocupou com os danos que o furacão poderia causar-me. Felizmente, na Covilhã, a tempestade foi meiga: muito vento e muita chuva. Mas tudo muito breve.

Como pensei viajar a tempos felizes, através da música, acabei por encontrar novas viagens, que nunca tinha feito. Aliás, alguns destinos eram totalmente desconhecidos para mim. Santa Maria Del Buen Ayre, por exemplo. Passei aí muito tempo, hipnotizada, enquanto os que se amam usavam os telemóveis para ouvirem a voz dos seus e sossegarem, e enquanto a tempestade bramia, derrubava, destruía…

Foram os dias do furacão.


Saturday, October 13, 2018

Boney M.





Goodbye depression. Vive Boney M!!

Friday, October 12, 2018

When you fall...




Who's gonna tell you when it's too late Who's gonna tell you things aren't so great You can't go on thinking nothing's wrong Who's gonna drive you home tonight? Who's gonna pick you up when you fall Who's gonna hang it up when you call Who's gonna pay attention to your dreams Who's gonna plug their ears when you scream You can't go on thinking nothing's wrong Who's gonna drive you home tonight? Who's gonna hold you down when you shake Who's gonna come around when you break
You can't go on thinking nothing's wrong Who's gonna drive you home tonight? You know you can't go on thinking nothing's wrong Who's gonna drive you home tonight?


https://www.youtube.com/watch?v=xuZA6qiJVfU


Monday, October 08, 2018

Noite fria



A noite arrefeceu. Na cama, já não basta o lençol. O casaco leve já tem de se colocar ao final da tarde. O tirar a roupa já arrepia. O Outono está a chegar. Ainda não vi folhas no chão. Nem árvores na sua metamorfose para espectros. Em breve tudo isto chegará.
Ontem o vento foi forte e bom. Não tarda, chega a chuva. Incómoda, quando o caminho está previamente definido. Bela e boa, quando o dia acaba e somos livres…

imagem: https://www.elo7.com.br/mini-tela-noite-fria/dp/AA2395, consultado 9 Outubro, 2018

Saturday, October 06, 2018

Raquel e Ruben



Aos meus sobrinhos!


6 de Outubro



Também aí estive, discretamente…
Alegria. Felicidade.

Imagem: https://www.dhgate.com/store/product/palette-knife-paintings-by-leonid-afremov/408495868.html, consultado em 6 de Outubro, 2018

Thursday, October 04, 2018

Pessoas Sem Qualidades



Como elas gostam de prometer e não pagar. Falham sempre. Sempre! Não fazem nada daquilo que dizem. Cataventos. Hoje estão assim e amanhã estão de outra maneira. Em comum, o de todos os dias: enganar, mentir, levar a água ao moinho delas, nada fazer, fazer de conta. Elas, a do costume e a outra, a que não se enxerga, a que pensa ser boa, boa, justiceira. É uma pobre bacoca que anda no mundo aos gambozinos. Não há como dizer à sujeita que os gambozinos não existem: escusado! Deixo aqui a definição de gambozino, não vá haver outros pobres tontos, que tenham necessidade de saber que os gramozilhos não existem.

. Animal imaginário, para a pesca ou caça do qual se convida uma pessoa considerada ingénua que se pretende enganar. (Mais usado no plural.) = GRAMONILHO, GRAMOZILHO

"gambozino", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/gambozino [consultado em 04-10-2018].

Nota acerca da definição supra: quem aqui se quer enganar é o próprio gambozineiro e de ingénuo não tem nada.

A do costume, que tonta, a autodenominar-se de forma tosca, para não se denominar de outra forma, para que os outros não a denominam por aquilo que ela é! Como é que eu ainda acredito que talvez as pessoas sem qualidades ainda estejam a tempo de as obter? Claro que isto não se aplica à que não se enxerga! Essa é irrecuperável. Essa gosta de se refastelar na sua virtude atacada, isto quando está lânguida, amarfanhada. Quando está acordada, rasga as vestes contra as injustiças do mundo. O mundo sou eu, leia-se, uma víbora, uma desbocada, que vivo só para a desconsiderar! E ela pensa que me castiga com a sua ausência…

A tarefeira acabou de abrir a boca para botar faladura. Já a fechou. É para disfarçar, para tentar fazer de conta que o que se passou não se passou.

Quanto ao outro, o da triste figura - ficam-lhe imensamente mal aquelas calças com que declama trovas! -, especializou-se em comunicar comigo para que eu me certifique que ele não tem nada para me dizer. Tipo: "Está lá?"; "Sim, quem fala?"; "Sou eu."; "Eu quem?"; "Eu!!". "Está bem, e o que deseja?"; "O que deseja??"; "Sim, eu não trata desconhecidos por tu."; "Mas sou EU!". "Ah, sim, EU, e o que… queres?"; "Nada. É só isto!".

Muito bem!



Friday, September 28, 2018

Os dias do nosso (des)contentamento...



Xxxx querid@

vamos por partes: 1.º (…) 😌! Olha, espero que não chegues a fazer as figuras que eu faço, por causa da visualização - e leitura -  intensiva de coisas sobre crime. Hoje mesmo, por exemplo, aconteceu-me:  chego a casa, de noite, e vejo que a fechadura está estranha. Ora, já me vandalizaram, há tempos, a fechadura. Tive que mandar vir um técnico - de uns 80 e tal anos! - para me mudar a dita cuja. Então, como dizia, quando dou pela fechadura numa posição esquisita, parei, olhei em volta e pensei: será que está alguém em minha casa? Tirei logo uma caneta, como arma de defesa. Depois abri a porta. Depois mantive-a aberta, acendi as três luzes da entrada e olhei pelos vidros das portas. Depois fechei à chave, de forma rápida, as portas do escritório e da entrada para a zona dos quartos. Depois fechei a porta da entrada. Depois vasculhei a cozinha e a lavandaria. Depois abri a porta do escritório e vi tudo. Depois a entrada para a zona de dormir: fui com as costas contra à parede. Depois vi a casa de banho. Depois o meu quarto. Finalmente a minha rouparia, que é maior e exigiu particular atenção, com abertura de armários e perscrutação sob a cama que lá se encontra. Relatório de buscas: tudo em ordem; nenhum meliante penetrou no meu condomínio. (oooooohhhhhhhhhh! que monotonia!). E pronto. Foi assim. Isto para não falar da altura em que vi tudo o que havia de arrepiante sobre casas assombradas 😱! Que é outro tema que adoro. Mas já vi tanto, que agora já nada me faz disparar o coração, nem andar com a sensação de que oiço barulhos. E olha que a luz do tecto do meu quarto acendeu-se e apagou-se sozinha, mais do que uma vez (que bom!). A minha vida seria tão (mais) monótona se não existissem estes fantasmas e estas pessoas suspeitas pela minha casa…
Portanto, comporte-se, não faça as figuras que eu faço, qual D. Quixote a combater serial killers imaginários com uma caneta.
etc. etc.

Thursday, September 27, 2018

Surpreendente!





Lindo, lindo, lindo!

Sunday, September 23, 2018

Sonhos, pesadelos...





A canção Sweet Dreams é seguramente uma das minhas preferidas. Há diversas versões. Esta encontrei-a ontem, como banda sonora da vida de uma mulher invisível - degradada, abusada - que se tornou visível apenas quando se transformou, ela própria, num monstro, numa criminosa.

Não gosto particularmente deste vídeo. Preferia ter colocado o outro, com fragmentos da vida de uma assassina. Mas isso seria, não sei, desrespeitoso. Claro que na sociedade do espectáculo, o horror, a morte, o crime são o espectáculo último (das massas): tem tudo! Mas eu não quero esse espectáculo aqui: tenho de manter alguma sanidade, algum bom gosto, sei lá…

Este vídeo, pelo que percebi, tem a ver com o filme Sucker Punch, de cuja banda sonora Sweet Dreams, na voz de Emily Browning, faz parte.

É a distopia num mundo distópico...

Friday, September 21, 2018

Literatura Policial, mas pouco



Não consigo - quase - ler literatura, ficção, romance. Nas férias, li dois, não, três policiais:

 - Os Crimes Inocentes, de Gabriel Magalhães (que não é bem um policial)

 - ???, de ???

- Em Nome do Porco, de Pablo Tusset (que não é bem um policial, ou talvez seja)

Todos os romances começam bem: crime no Museu dos Coches, crime no parque e crime num matadouro. Preparei-me para o pior, mas ele não veio. O "mordomo" do primeiro romance é o país. Sátira. 
O primeiro capítulo, do romance de cujo título não me lembro, é excelente: segue bem a fórmula. Aliás, o pior foram as tentativas de lhe fugir (à fórmula), com aquelas incursões pelo passado traumático do polícia, veterano do Vietnam, e a descrição da vida pessoal deste com a sua mulher. Esta, traumatizada também. É demasiado trauma e pouca mestria para que estas incursões traumáticas façam sentido. As personagens dos policiais de Ruth Rendell são autênticos casos mentais, mas esta escritora sabe como escrever romances que fogem à formula, sendo mesmo policias (o policial negro, psicológico): o espaço claustrofóbico, as personagens fascinantes, únicas, solitárias, incapazes de se integrarem no mundo que as rodeia. Depois,  na busca pelo assassino, vão-se somando pessoas/personagens, para despistar o leitor, como convém a um "whodunit". Mas, eis que, como quem não quer a coisa, somos levados a um consultório de veterinária, lugar insuspeito, e surge um simpático homem em cadeira de rodas. Eu disse logo: é este o assassino e a cadeira de rodas é só para disfarçar; anda mais ele sozinho do que as restantes personagens todas juntas, cães incluídos!  E prometi que, se estivesse certa, comprava uma caixa de pastéis de Tentúgal. Claro que escusado será dizer que, findo o livro, me dirigi de imediato à pastelaria!
Em "Em o Nome do Porco", temos também um bom começo: estamos num matadouro, e um detective explica como se procede para matar os porcos, desde a sedação até ao desmembramento e embalamento das várias peças de carne. Ora, entre os porcos, e recebendo tratamento semelhante, estava a vítima: uma mulher. Isto no primeiro capítulo. De seguida, assistimos à vetusta rotina do inspector velho e sua mulher, até à morte daquele, e à não menos vetusta - e também kitsch e inquietante e violenta - do inspector novo. Às tantas, uma pessoa já está farta de saber o que é que os ditos vão almoçar e jantar e como é que o inspector mais velho beija a mulher. Porque é que o leitor - moi même - não deita o livro para o lixo? Porque há bons momentos, boas frases, promessas de histórias que ficam só pelo começo ou pelo anúncio. Mas nós não sabemos que essas histórias ficam por ali, a menos que continuemos a ler. E esperamos, em vão, pelo regresso ao matadouro e por saber quem matou a vítima e porque é que a matou. Nada. Não ficamos a saber nada. Sabemos é que o inspector novo é um psicopata, que agrediu selvaticamente e até matou uma pessoa bem ali à frente dos nossos olhos, isto enquanto vai para a terrinha onde se localiza o matadouro. Terrinha esquisita. Dir-se-ia uma alucinação de um drogado. Mais: há coisas extremamente irritantes, como o debitar de nomes da música e a obsessão com Me Gustas Tu, de Mano Chao. E a cena de sexo - da terceira idade - à noite, no mar? Não há pachorra! Mas há também coisas muito boas: a descrição da morte, por acidente, do inspector velho. Quase morremos com ele, também. E as referências ao livro de Robert Hare, sobre psicopatas. Afinal, apesar de ser um livro da década de 90, e de eu ter lido livros de discípulos de Hare, muito mais recentes, vou mesmo ter de ler Robert Hare! 
Quanto a quem matou a mulher no matadouro, ficou-se a saber, para aí na última página - p. 398! -, que foi não sei quem. Aliás, o caso fica ao deus-dará. Só o leitor é que parece estar interessado em saber. O escritor, ao que parece, ficou muito satisfeito por ter encontrado uma enorme cenoura para colocar em frente ao nariz do leitor e depois, no fim,  após ter maçado o leitor de várias maneiras, diz apenas: ah, pois, a mulher trucidada no matadouro, foi o fulano, aquela besta mal-encarada, que fez o servicinho!! E pronto! 
Comum a Os Crimes Inocentes e a Em Nome do Porco, são as incursões pela cultura e o humor. No segundo romance, com tanto trauma, não há humor que resista! Será que se buscam novos caminhos para o velho policial? É  que a Literatura Policial já não é o que era...
E é aí que vem o YouTube, com os seus vídeos de casos de polícia reais, quase todos registados em livro. São esses agora os meus "policiais": as reportagens biográficas dos casos mais inquietantes do mundo do crime... É leitura! É bom!


Monday, September 17, 2018

«Inconseguimento Verbolejante»



 O Paulo escreveu um texto com um título maravilhoso: Inconseguimento Verbolejante! O único momento de riso deste dia.
O F. enviou mensagem: que querido… digamos. De resto, depois de quatro tempos a falar, quase fiquei sem voz. Entre o período da tarde e o da noite, estive 90 min em casa, tão cansada, que dir-se-ia que tinha andado a cavar. Quando vejo colegas "entusiasmados" (!!??), que os há, poucos, mas há, dá-me vontade de me embebedar, para afogar as mágoas, embora pareça que elas já aprenderam a nadar…
Escrevi à minha amiga, que está mal, mal - mas vai passar! -, basta não poder ser senhora das suas horas e decisões, mas andar ao sabor das circunstâncias - estarmos prisioneiros, limitados, frágeis, para se estar mal. E ela, nesse sentido - e noutros - está mal. Do que depender de mim, tudo farei, assim eu possa, para não a deixar no vazio. Tenho experiência de ficar no vazio, e não aprecio…
Choveu. Foi a parte boa do dia.

Nota: o título não é da minha autoria, como já se percebeu.

Friday, September 07, 2018

Tumular...


Ontem e hoje, depois de vir do local de trabalho, digamos assim, cheguei a casa moribunda. Parece que tinha andado a cavar. Sentia como se não tivesse sequer esqueleto, ou como se este estivesse a dissolver-se. Tinha que comer alguma coisa, porque a mudança de horários -a hora de levantar, a hora de comer, etc. - me põe num estado de quase estranhamento do meu corpo. Não me conheço, assim como quase não reconheci alguns colegas: estão mais velhos, visivelmente mais cansados e alguns estão numa fase de desencantamento abissal (eu, por exemplo: velha, cansada, desencantada, sem saber aonde ir buscar forças…). E aquela que foi sempre a pessoa mais optimista que eu conheci apareceu como no dia em que nos despedimos: adoentada. Fez exames e mais exames…
A outra - uma de entre muitas/os com depressões - desde que teve aquela doença, aliás continua a ter, ficou instável. Ignorou-me olimpicamente por três vezes, nos últimos tempos, o que muito me custou, porque não era coisa que ela me tivesse alguma vez feito - e eu não sou de ferro, e na altura ainda menos. Agora, no entanto, ontem, mas sobretudo hoje, sempre focada em mim, falando como se nada fosse. Pergunto-me como será a próxima vez que nos reencontrarmos, por altura de alguma reunião. Felizmente, trabalho na noite e num sítio pouco frequentado, de portas bem aferrolhadas, pelo que raramente me cruzo com "os outros". Daquilo que depender de mim, procurarei evitá-la, para ficar com a impressão de amizade que hoje partilhámos…
Mas, dizia eu, depois de findo o dia de trabalho, a chegada a casa tem sido quase a gatinhar, a arrastar-me. Hoje, por exemplo, ainda tentei motivar-me para sair e fazer umas compras, coisas de que preciso. Mas não. Fui deitar-me e, tanto ontem como hoje, caí num sono tumular. Um sono tão pesado, que dir-se-ia que o meu corpo, sem esqueleto, corria o risco de fazer um buraco na cama, ir por ele fora e desaparecer, parando apenas num sítio de tal modo duro, que fosse impossível perfurar. Acordada de tal sono, fica uma sensação de náusea e de dor de cabeça...

De repente, vem-me à memória a personagem de Mia Couto que, quando se deita, retira a pele e os músculos, como se de uma roupagem se tratasse, colocando-a depois no ramo de uma árvore. Se eu pudesse fazer isso e se viesse alguém e me levasse a pele… e o resto.

Wednesday, September 05, 2018

Assédio Sexual




No jornal Público, vai uma grande polémica acerca de um artigo sobre uma mulher que reage a um "piropo": Olá, Princesa!
A maioria dos homens acha que o pobre homem que levou nas orelhas, e bem, devido ao dislate, foi injustiçado. Que um homem já não pode "elogiar" a beleza de uma jovem, que um homem não pode isto, não pode aquilo, que a rapariga devia tratar-se porque tem traumas, que as mulheres agora odeiam os homens, que se o fulano galanteador viesse num Porsche e tivesse um Rolex - arghhhh - , já podia dizer o que bem lhe aprouvesse, e que as mulheres bem que gostam de se embonecar e perfumar diante do espelho, mas depois não querem que um homem, tadinho, olhe, etc., etc.. Ou seja, muitos homens continuam a achar que as mulheres são montras ambulantes, para cujas mercadorias suas excelências olham, para proferirem o que lhes vier à real  - força de expressão - cabeça.
O engraçado é que muitos dos homens que estão do lado da mulher que se queixa do olá princesa, o fazem recorrendo àquilo que para eles são mulheres: a mãe, a filha, a irmã e a esposa. "Gostavam que galassem as vossas mães, filhas, irmãs, esposas??? "
Eu entendo a perspectiva deles e aprecio-a, mas fica a sensação de que mulheres são aquelas pessoas com aqueles graus de parentesco. O resto é gado. Já as poucas mulheres que comentam o dito artigo, que já vai com umas 18000 partilhas, estão do lado da galanteada, digamos, e malham forte, e bem, no lombo do galanteador - de meia tigela. Nunca as mãos lhes doam. Uma acaba por citar George Bernard Shaw:


'Never wrestle with pigs. You both get dirty and the pig likes it." 
Tradução minha: Nunca se engalfinhem com porcos. Ficam ambos sujos e o porco gosta.
Que engraçado era Bernard Shaw: verdade?
(Imagem algures na Internet. Perdi o link.)


Tuesday, September 04, 2018

A Última Ceia





Comi um chocolate inteiro. Um crepe com mel e canela e um pastel de nata. Foi a festa possível. Fui aos correios, já que os correios não foram à minha casa. Fui ao Lidl. Está diferente. Muito lindo, cheio de coisas que apetece comprar. Fiz uma figura triste, o costume: não sabia onde estavam os sacos para pão e croissants e empadas. Pior: tiveram - um senhor simpático - de me explicar duas vezes!
E foi assim o final de férias…
Agora é tomar banho e gerir a noite.

Saturday, September 01, 2018

Only The Birds





Todos os dias há algo lindo para encontrar...

Thursday, August 30, 2018

Passado Imperfeito




O passado é um pilar simbólico que nos sustenta. É povoado de coisas e gentes. Nele habitam luzes, pequenas clareiras de felicidade e desertos enormes de grande tédio e pequenos e médios desencontros. Partes do passado já não o são. Integram o espaço virtual do esquecimento. Por vezes, afloram de forma fugidia, mas não passam de pequenos relâmpagos longínquos, que não produzem som. Nem fúria. Há, porém, partes do passado que queremos que sejam sempre presente(s). Para tal, procedemos a gigantescos actos de sublimação. Tal e qual um escultor, vamos tirando tudo o que não nos agrada. E, um dia, ali está esse passado, essa narrativa com princípio, meio e fim. Tudo belo, perfeito, inatacável. Arrumamo-lo então, e visitamo-lo quando o presente nos falha ou nos magoa.
Porém, há sempre um tempo, em que alguém atira uma mão cheia de vulgaridade sobre a nossa estátua, longamente burilada, bela, perfeita... (quase) destrutível…!

Tuesday, August 28, 2018

Seven Days



Talvez amanhã vá a cabeleireira. Talvez. Talvez amanhã faça alguma coisa, ao contrário de ontem e de hoje. E dos dias anteriores. Se bem que hoje retirei, debaixo de uma cadeira no meu quarto, três copos sujos de … leite! E uma chávena suja de chá, da minha secretária. E três copos de água e poeira amontoados junto do sofá de leitura. Posso, por isso, dizer que hoje foi dia de limpezas.
Amanhã, se não for à cabeleireira, poderei lavar as "mantas"/tapetes do chão do meu quarto e da minha biblioteca. Ah, e levantarei o presépio. Que está sobre a manta/tapete da biblioteca. Também poderei começar a pensar onde colocar a estante que está para vir - já deveria ter chegado - e tirar as medidas para ver se compro a cadeira amarela ou a vermelha e branca.
Também deveria ir ao Bricomarché, para começar a escolher as latas de tinta. Já devia ter ido, aliás. Mas todo o tempo é pouco para estar fechada na minha casinha!
E já só faltam sete dias…

Saturday, August 25, 2018

Red Velvet Dreams




Hoje, volto aos sonhos de Beksinski. Não há pesadelos. Pesadelo é dormir e não viver o sono. É isso a aniquilação. Ficar circunscrito às peripécias trágicas do dia, da realidade. Quando cai a noite, a escuridão expulsa de imediato o real. Pelo menos quando se vive sozinho. Chega-se a casa e já não há nada para conversar, para explicar, para fingir, para mentir, para executar, para observar. Para ser observado.
Claro que, muitas vezes, permanece, mais tempo do que gostaríamos, uma baba imunda que ficou colada a nós e que arrastamos connosco, noite dentro, na nossa mente. É uma espécie de perdigotos imateriais. A impressão pessoal deixada na nossa alma pelas criaturas que habitam o nosso quotidiano. Por isso, há que evitá-las o mais possível.
Não escolhemos, desafortunadamente, aqueles que ocupam o mesmo espaço que nós, no oprimente mundo do trabalho. Temos que dirigir-lhes a palavra e o olhar. Devidamente disfarçados - vestidos, calçados, hidratados, perfumados e com batom, tudo nas cores certas - e apetrechados -  a carteira, a pasta, o livro, o kindle, o telemóvel; os instrumentos de trabalho: o computador, as fichas, a agenda - e a expressão mais conveniente para a circunstância - indiferença risonha, riso indiferente, simpatia forçada, simpatia mesmo, desprezo às vezes, alheamento quase sempre. Ponto final. É assim que devemos equipar-nos para atravessar o dia. Também há que ter atenção ao vocabulário, à modulação da voz, à expressão do olhar, ao movimento das mãos. Tudo emite uma mensagem. E a mensagem deverá ser esta: estou para trabalhar, estou para trabalhar, estou para trabalhar, não me aborreça.
Mas podemos escolher aqueles com quem queremos conviver: quem nos vende o pão, o café, o chá…. e os outros, que não os do parágrafo anterior. Não deve ser nunca uma multidão. Nem se deve dar uma segunda oportunidade a quem nos deu uma primeira má impressão: é o erro mais fatal de todos. Dar oportunidades uma e outra e outra vez.
Ficamos sós? Sós, ficamos apenas se nos rodearmos de quem não nos quer bem. De quem nos quer mal. De quem nos impede de usufruir da nossa própria companhia, ocupados que estamos a livrar-nos do eco das vozes, das palavras más, da enxurrada de desamor que nos preenche por completo e nos submerge. Uma vez livres e limpos, devemos cercar-nos só do belo e do sublime: a literatura, a música, a pintura, a arquitectura, o pensamento. Quanto ao resto, quanto à excitação imensa da aventura e do desconhecido, de abrir a porta e sair ou deixar entrar alguém… de agarrar, falar, rir e sentir medo e esconder-se e ficar na expectativa, só nos sonhos. Em mais sítio algum: só nos sonhos ou nos pesadelos. Não interessa.
Tem de ser de noite. Tem de ser escuro. Tem de se estar a dormir. Tem de ser no azul, vermelho e amarelo; no preto e branco; com espectros, caras a sair de paredes, pessoas esguias de olhos fechados; com árvores espavoridas, pássaros vermelhos, marés verdes e de outras cores, céus estranhos; com morte por todo o lado, ossos; túneis, catedrais largas, catedrais estreitas, cadeiras, cruzes; pessoas que se abraçam, ainda que já não vivam. E casa, casas, paredes, muros, carros vermelhos… Viver é assim. Para mim é assim.

Imagens e música:
https://www.youtube.com/watch?v=mqkYnIwgxzw