Saturday, August 13, 2011

Vieram de mota?


Há quem diga que as mulheres se vão tornando transparentes com a idade. Isto, obviamente, porque já ninguém olha para elas. E, claro, só somos visíveis quando nos vêem. Há também quem diga que as mulheres maduras (!) não gostam do seu pescoço. Eu não gosto do meu pescoço. Está dito, para memória futura.
Serei uma mulher madura? Uma mulher de 45 anos é uma mulher madura? Uma mulher que depois de fazer 45 anos nunca mais deixa de fazer anualmente 45 anos, é uma mulher madura? Parece que tenho de concluir que já sou uma mulher madura. Hélas!! Um mal nunca vem só, é caso para dizer.Porém, sim, porém, eu sou visível...Ainda não deixei de ser notada pelos cavalheiros com um bom par de olhos na cara. E confesso que não desgosto, ao contrário de antigamente. Já não acho sinal de boçalidade terminal quando algum labrego passa de carro e me grita: "Olha a loiraça boazona". Também não achei parvoíce, quando no outro dia um labrego bateu as palmas para me fazer levantar a cara, para me apreciar. Eu, claro, como até estava à espera de um colega para irmos trabalhar, levantei a cabeça para ver se era ele. Não era. Era, sim, a minha beleza (ih ih) espampanante a despertar a curiosidade da rapaziada de barba rija. Dito isto, há que salientar o facto dos mocinhos estarem a uma confortável distância da minha pessoa, não podendo, por isso, apreciar a mercadoria de mais perto. Mas, oiçam, também há quem me tenha visto de muito perto, perturbadoramente perto e tenha dito pausadamente à minha passagem: ma ra vi lho sa!! Eu até olhei em redor, para ver se estava ali mais alguém. Juro que é verdade. Não sonhei. Hoje, porém, foram batidos todos os recordes no que toca à parência, à idade e à visibilidade de senhoras maduras. Atentem!
Eu e a minha colega e grande amiga, mais velha que eu, fomos a uma florista comprar uma coroa de flores. O senhor atendeu-nos, disse que levava as flores para o velório, depois falámos de doenças, concluímos que os nossos pais tinham todos morrido com a mesma doença e, no fim, diz-nos ele: "Vieram de mota?" Eu olhei para a minha colega, ela olhou para mim (ambas estávamos com cara de enterro), depois olhámos ambas para o senhor, para ver se ele estava a dizer uma graça, até que ele apontou para o sítio onde nós tínhamos estado à espera dele e vimos uma mota. Pois bem, ele pensava que aquele fosse o nosso transporte. Nós rimos, e o senhor disse: "Então, podiam bem ter vindo de mota, qual é o problema?" Problema nenhum, claro, eu e a minha colega, as duas velhas "charras", a acelerar de mota e capacete nos queixos pelas ruas da Covilhã. Invisíveis, nós?? No way!