Friday, February 26, 2021

O Homem dos meus Sonhos

 

Aquilo de que mais gosto na vida, aliás, a vida vale a pena, porque podemos sonhar enquanto dormimos. Sou viciada em sonhos: os meus. 

Quantas vezes desejo poder ver as paisagens, as cidades, as pessoas que encontro nos meus sonhos. Quando alguma imagem é particularmente marcante e nítida, desejaria conseguir desenhá-la. Mas não. Não sou capaz. Por isso procuro escrever. Durmo com um gravador junto de mim, para poder ditar alguma história, descrever alguma personagem, descrever algum sentimento sublime e que, inevitavelmente, vai desaparecer. Estou sempre atenta às minhas aventuras nocturnas. Hoje, por exemplo, lembro-me de que estava numa situação muito confusa e que estava com medo. De tal modo que, quando se abriu uma porta para entrar alguém ou alguma coisa, só vi uma mancha vermelha e forcei-me a acordar. Já acordada, com algum medo do escuro, tapei-me, liguei o tablete, para espantar os fantasmas, e finalmente, com o coração mais calmo e a respiração controlada, recriminei-me: porque é que acordei? Possivelmente nunca mais verei aquele sítio medonho e eu queria ver. Queria. Queria. Queria até ao infinito. Mas, quem sabe Beksinski também já esteve naquele sítio e deixou-o numa tela que eu ainda hei-de encontrar, como encontrei hoje este homem. 

Eu vi homens assim há muito tempo, ainda nos anos 80. Homens que depois tornei a encontrar já no século XXI. Homens que não vêem, não porque sejam cegos, mas porque não é necessário que o façam. E Beksinski tem ainda outros homens mais parecidos ainda. Altos, com a cara coberta e os olhos enigmáticos. E o cabelo?  É cabelo ou é uma penugem macia, longa? Os meus homens têm este pêlo longo e macio no corpo todo. E aquele mar azul também já o vi. Muitas vezes!


Beksiński w Warszawie. Wystawa obrazów Zdzisława Beksińskiego [INFORMACJE] | naTemat.pl, consultado em 26 de fevereiro, 2021

Tuesday, February 23, 2021

Há dias assim...


 Agradeço encarecidamente à pessoa que prepara estes instrumentos de autoanálise, porque me permitem exprimir os meus sentimentos de forma superior. Capital! Capital! Como dizia o outro, em inglês, em Pride and Prejudice.

Estes gatos são um verdadeiro espelho da minha alma. O 1 representa-me quando estou em atividade culinária desastrosa, naturalmente. E a minha comida também esverdeia com facilidade. O 2 sou eu a ser simpática, verdadeiramente simpática aliás. A dar o meu melhor no campeonato da simpatia, digamos. Representa também a minha cara de consolo em actividades culturais de pendor literário. O3 sou eu a pensar na morte da bezerra, coisa que faço amiúde e em concomitância  com pensamentos do tipo: sou um deserto, sou tão boa a pôr as pessoas a milhas de mim. O 4 é a minha cara de contentamento profissional: faz-se o que se pode! A pessoa tenta fazer o seu melhor, e a mais não é obrigada, naturalmente. O 5 é quando a pessoa tenta levar o contentamento ao nível seguinte, tenta, como se costuma dizer, arreganhar a pragana. É, digamos, um upgrade em termos de alegria. A pessoa esforçou-se e já consegue mostrar os dentes.  O 6 exprime aquele estado em que a pessoa já está por tudo: porque é que se há-de ter a língua na boca se é possível tê-la de fora? Estamos numa democracia! Somos livres de ter a língua onde nos apetece. Eu tenho muitos momentos deste jaez. É a minha forma de ser rebelde. O 7 representa, naturalmente, um upgrade em relação à rebeldia, que consiste em ter a língua de fora, mas em canudo. Para aprenderem! A 8 nem carece de explicação. É uma cara de espanto verdadeiro, quando se ouve uma  coisa acertada, verdadeira, sensível, sensata, linda. Boa! É expressão que raramente exibo. E agora a 9, que fala por si. Que mais podia senão aquele momento em que, depois de não poucos esforços, conseguimos, felizmente, mostrar descontração e contentamento com tudo. Com as pessoas e a humanidade em geral, bem como tudo o resto: a vida! Essa coisa maravilhosa que é a vida. 

Respondendo agora à pergunta, direi que me sinto como o gato 9. Feliz e contente. Afinal, quem é que gosta de ser carrancuda? É certamente o meu mau feitio que leva as pessoas a ignorarem-me. Mas agora, com este ar, sou um verdadeiro íman. Só quero ver quem se atreve a virar-me as costas. Olhem bem para mim em figura de 9 e digam: conseguem resistir-me? Hein?

Thursday, February 18, 2021

Rotina Diária

 

Vou abrir uma pasta e dou-me conta de que tenho o registo, parcial, do meu horário de trabalho. Isto, só nesta pasta. Entretanto, estou à espera... parece que me deram uma sova. É como se as minhas articulações estivessem liquefeitas.

A função tornou-se nisto. Fora as reuniões, os encontros online, os "webinares", as "formações" sem fim. Ah, e os emails, o estar atento ao email.

 O silêncio, apanágio do "ócio", desapareceu. Tudo tem de ser dinâmico, activo, etc. 

Cansaço!


Monday, February 15, 2021

Carnaval 2021

 


Sinal dos tempo. 

Por falar em tempos, estou a viver a minha fase burocrática: representação e agora só me faltava avaliação, ou melhor, observação de ... daquilo que há para observar. Não quero. Não posso. Ando cheia de trabalho. Mais: não concordo com a função. Observarem-me a mim? Quem? E quem sou eu para observar os outros? Ridículo! Inútil! Meramente burocrático! De faz de conta. 

Count me out!!

Em Podence, os Caretos chocalham a pandemia | Fotogaleria | PÚBLICO (publico.pt), consultado em 16 fevereiro, 2021

Monday, February 08, 2021

Morte em Veneza


Um romance, de Thomas Mann, inesquecível. Um filme inesquecível. Uma cara inesquecível...

Monday, February 01, 2021

Os Caçadores de Livros

 


Quando li acerca deste livro, fiquei em dúvida se devia comprar. Um ensaio com laivos de romance? Foi o que percebi, e não me agradou. Ensaio é ensaio! Estou farta de abastardamentos de toda a ordem. Mas comprei, porque a história do livro e da leitura, organizada por Roger e Chartier, bem como os ensaios de dois investigadores portugueses, que agora não recordo, acerca do mesmo tema, não esgotaram, para mim, o assunto. Precisava de saber mais. E comprei, por isso, este livro tão premiado e tão recomendado, e bem! 

A abordagem é, de facto, diferente. Irene Vallejo está sempre presente no livro, a reger as fontes, como se de uma orquestra se tratasse. O livro prende, como uma obra de ficção, porque surpreende. Mas, pessoalmente, aquilo que mais admiro é a erudição. Esta é a obra de uma investigadora cujo deslumbramento, na recolha de informação, está presente no livro de uma forma palpável. Tudo o que é dito traz esse lastro de prazer associado à descoberta. Por consequência, as palavras, as frases surgem como explosões de fogo de artifício. A autora sabe que tem uma boa história para nos contar e vai-se demorando em detalhes, que acrescentam, claro, mas atrasam a "matéria" principal. A autora sabe que todo o prazer está no antes, na expectativa e, assim, vai avançando em círculos, deixando-nos à espera do que vem a seguir. Para já, estou a adorar a história da Grande Biblioteca de Alexandria, bem como  das façanhas de Alexandre o Grande. 

Este é um livro para ler e tirar apontamentos. É assim que eu leio, com apontamentos, tudo aquilo de que gosto. E recomendo, claro!