Sunday, October 04, 2015

Gaiola Aberta


O meu pai gostava de ler os livros de JV, aos quais a minha mãe se referia como "essa porcaria,(credo, valha-te Deus, homem)". Porém, foram autores "populares" como JV e muitos outros, dos romances cor-de-rosa aos policiais, westerns e BD que possibilitaram que eu me familiarizasse, desde pequena, com livros, pois os meus pais liam-nos. Na minha terrinha, na Beira Baixa, não havia livrarias nem bibliotecas nem a população era particularmente letrada. Pelo contrário. Os meus pais, felizmente, liam embora fosse "apenas" literatura "popular", paraliteratura. Isto fez que eu cedo começasse também a ler. O meu pai comprou-me muitos livros de princesas e de príncipes. Li também as aventuras dos cinco e dos sete. Fotonovelas também li, às escondidas, pois a minha mãe velava pela moral e pelos bons costumes, claro. No fundo, só há relativamente pouco tempo me dei conta do quanto devo aos escritores "populares". Foram eles que possibilitaram que eu conhecesse os grande e verdadeiros amores da minha vida: os livros.
Morreu José Vilhena, um homem singular e corajoso. O ensaio de Rui Zink sobre ele - Humor de Bolso (?) - ensina que Vilhena não era apenas um desbocado sem tento na língua. Pelo contrário, tinha uma mensagem de inconformismo para veicular, coisa que fez sempre e lhe valeu, por várias vezes, a perda da própria liberdade. Eu admiro-o. E espero que ele não leve a mal se eu disser: que Deus o tenha em sua paz!