Wednesday, October 30, 2019

Thursday, October 24, 2019

Linha da Frente: Exaustos


Não gosto do formato do programa: a música, o quotidiano de quem mudou de profissão, as declarações dos filhos, etc.
Sobram as declarações das duas professoras (minhas colegas), a informação da especialista em história do trabalho - acertou em tudo o que disse, especialmente quando referiu que hoje nas escolas não se coopera, compete-se, e quando referiu que se trabalha para os números - e a intervenção do psiquiatra. Mas, no final, fica a sensação de que um tema tão importante como este foi apenas aflorado, em 45 minutos. Fica a impressão de que ficou tudo por dizer. Aliás, os formatos de informação, na televisão generalista, andam pelas ruas da amargura. O Prós e Contras, por exemplo, é infotainment puro e duro. Com tantos convidados com pontos de vista extremados e uma ampla plateia que ora faz barulho, ora aplaude, ora intervém, fica tão só a sensação de barulheira infernal, de agressões verbais e ausência de debate.
Lembro-me sempre da última vez que assisti a um programa destes. Era sobre a eutanásia. Para meu espanto, aqueles que estavam mais preparados para falar em defesa da eutanásia ficaram na "plateia". Eram uma professora universitária (Laura Laura, minha querida), com obra publicada sobre o tema, e um médico. Ambos sofriam de cancro. Ambos estavam numa cruzada pela legalização da eutanásia e tinham argumentos de ordem científica, ética e sociológica sobre o tema. Não eram palestrantes de balcão de tasca. Ambos foram tratados com desrespeito e descaso no referido programa. Pior: ambos morreram  - sabe Deus com que sofrimento - sem terem feito realmente a diferença e sem terem o reconhecimento que mereciam. Como não há, no movimento pela despenalização da eutanásia, quem tenha o saber, o peso e o prestígio de  qualquer um deles, o tema como que entrou em hibernação.
Pessoalmente, ver hoje este programa fez-me lembrar aquilo que quero a todo o custo esquecer: que profissãozinha triste; quanta falta de respeito gritante; quanta solidão - muitos de nós tentam apenas sobreviver ao dia, sem levantar muitas ondas. Mas fez-me reflectir também uma vez mais - com raiva e revolta - a forma como o meu trabalho do ano passado foi menosprezado. O meu trabalho, meu dinheiro e o meu tempo. E a minha saúde! É grande o nojo e o desprezo e a raiva e  até o ódio que sinto pelas personagens sem sentido de ética, sem um módico de profissionalismo e de vergonha na cara, que protagonizaram mais este atropelo. De facto, tudo o que fizeram, de rojo no altar dos números, mais não foi que atropelos, faz de conta, fraude: fake!!
E chega. Fiquei cheia de dores de cabeça. Vou tentar dormir. Oxalá consiga. O dia foi terrível. Bom foi ver que, no meio da tragicomédia laboral do dia de hoje, houve alunos que queriam até chegar a vias de facto para me defenderem!!!
Vamos ver o que acontece amanhã...

imagem: Beksinski

Thursday, October 10, 2019

On a Dark Night I Left My Silent House



Peter Handke ganhou o Prémio Nobel de 2019.

A Academia parece afinal saber o que é um escritor, um homem de Letras. E o que é Literatura. Gedicht an die Dauer, o livro de poemas à duração, tem textos absolutamente sublimes. Eu não aprecio poesia, mas há poemas viciantes, e Handke escreveu um desses poemas.
Procuro um livro seu, na Amazon, e encontro este título - On a Dark Night I Left My Silent House; Numa Noite Escura Abandonei a Minha Casa Silenciosa -  que é já uma história com princípio, meio e fim, e personagem e tempo e espaço e tudo. Vou ler, claro. Mas em Inglês. Como escritor digno desse nome, o meu fraco domínio da língua alemã não me permite lê-lo em alemão: Schade!

Nota: olho-me e olho esta fotografia e penso que já durei demasiado...

Wednesday, October 09, 2019

Boa noite!


"Devias...". Devias? Não devo não! Como se atreve a começar uma frase dirigida a mim pelo verbo dever? Noites boas? Só a mim as desejo.
E a cena trágico-cómica? «Tenho eu que fazer!!!». Coitadinha, tão trabalhadeira: «não adoeças, olha que eu sem ti… » A outra mete logo atestado!
Tivessem feito as coisas como deve ser. Não tivessem metido o bedelho - incompetentíssimo! - aonde não são chamadas.
Elas é que são as verdadeiras perzzzzzidentes da junta. :)


Monday, October 07, 2019

Saturday, October 05, 2019

Lá longe...



Nunca mais passarei aqui. Não teria sequer companhia.
Já passou o tempo em que andava quilómetros e quilómetros por campos e pinhais e serranias, completamente sozinha...

Thursday, October 03, 2019

The Assassination





Acordei com medo do escuro. Depois pensei que talvez não estivesse acordada. Mas estava. O medo, porém, não estava no meu quarto real, na penumbra, com alguma luz, a da madrugada, a entrar pelos limites da janela. Fechei os olhos, para não ficar já acordada à espera do dia. Vi então o que me perturbava. 
Eu estava naquela casa. Tinha ido por um longo corredor para o meu quarto. Atrás de mim, vinha um cão branco, que se imobilizou em frente à porta. Mas eu entrei, e senti logo alguma coisa incómoda. Sentei-me no meio da cama e tentei acender a luz, nos muitos interruptores que saltavam da parede. Mas a luz não acendia. Foi aí que comecei a sentir dificuldade em respirar. Mas eu não estava às escuras. Lá fora, estava o escuro próprio da noite. Mas não no quarto, que estava claro, embora tivesse todas as luzes apagadas. Ah! Era disso que eu estava com medo. Porque é que o quarto não estava escuro? E saí a correr, com a sensação de que alguém vinha atrás de mim. Procurei uma porta para sair para a rua. E vi o cão. Estava encolhido e levemente quadrado. Metia medo. E pena.
Começo então a percorrer o labirinto da casa. Sobre uma mesa vi um x-ato, o mesmo que eu andava há muito para comprar. Agarrei-o. A lâmina fininha, quase meiga. Iria fazer a cena há muito imaginada. Só precisava de um sítio cheio de gente, ou daquela casa de um bairro triste. Sentar-me-ia no meio de todos…ou bateria à porta daquela pessoa. Depois deixar-me-ia ir … Mas para ir a algum lado, precisava de sair daquela casa. 
Distraí-me, perdida em fantasias. Quando recuperei a consciência de mim, vi o cão cada vez mais encolhido a desaparecer num enorme corredor. Era o único caminho naquele sítio. Fui atrás dele, que se movia como se fosse um novelo. Rebolava, levantava-se, andava de lado, olhava para mim com olhos grandes e tristes. E continuava. E a lâmina ia quente na minha mão. Entretanto, a casa transformara-se num túnel infindável. De bom grado me deitaria na cama do quarto claro, sem luz, no meio da noite escura. Nessa impossibilidade, sentei-me no chão, cansada, sem fôlego, ao lado do cão, cada vez mais pequeno, quase invisível. Mas amigo, companhia. Devo ter adormecido naquele corredor. Depois devo ter acordado, mas já não naquele sítio.
Tornei a acordar, com um sentimento de medo, de desconforto. Ouvi, então, ruídos. Vinham do computador ligado sobre a minha cama. Nele, estava Sean Penn no aeroporto, sem fôlego, em agonia, preparando-se para mostrar a todos o que o ignoraram, o afastaram, o desamaram, o incompreenderam, que existia e que iria inscrever-se para sempre na memória deles. O espectáculo da solidão absoluta estava ali à minha frente. Já o tinha visto tantas vezes e tantas vezes me sentara junto a Sean Penn, no mesmo sentimento de impotência e abandono sem remédio. Desliguei o computador. Não estava em condições de ver o plano falhar. Falhar tudo. Sean Penn a morrer no avião que tentara sequestrar. E a televisão a dar a notícia de forma monótona. Ninguém soube sequer que ele morreu: nem a ex-mulher, nem o ex-amigo, nem o ex-irmão. Ninguém. 
A manhã, senti, já estava instalada no meu quarto. Mas ainda era cedo. Fechei os olhos novamente, tentando ver o cão informe do meu sonho. Nada. Voltei ao corredor labiríntico sozinha. Tornei a deitar-me lá. Fechei os olhos, para fazer de conta. Para voltar atrás, o mais atrás possível. Nisto senti um barulho, um murmúrio, e imaginei que o animal estava ali. Na minha mão, senti também a lâmina meiga e salvífica. Estava em posição de continuar a noite até ao meio-dia. Tinha junto a mim tudo o que precisava para me defender do abandono e, sobretudo, do desespero.