Thursday, October 24, 2019

Linha da Frente: Exaustos


Não gosto do formato do programa: a música, o quotidiano de quem mudou de profissão, as declarações dos filhos, etc.
Sobram as declarações das duas professoras (minhas colegas), a informação da especialista em história do trabalho - acertou em tudo o que disse, especialmente quando referiu que hoje nas escolas não se coopera, compete-se, e quando referiu que se trabalha para os números - e a intervenção do psiquiatra. Mas, no final, fica a sensação de que um tema tão importante como este foi apenas aflorado, em 45 minutos. Fica a impressão de que ficou tudo por dizer. Aliás, os formatos de informação, na televisão generalista, andam pelas ruas da amargura. O Prós e Contras, por exemplo, é infotainment puro e duro. Com tantos convidados com pontos de vista extremados e uma ampla plateia que ora faz barulho, ora aplaude, ora intervém, fica tão só a sensação de barulheira infernal, de agressões verbais e ausência de debate.
Lembro-me sempre da última vez que assisti a um programa destes. Era sobre a eutanásia. Para meu espanto, aqueles que estavam mais preparados para falar em defesa da eutanásia ficaram na "plateia". Eram uma professora universitária (Laura Laura, minha querida), com obra publicada sobre o tema, e um médico. Ambos sofriam de cancro. Ambos estavam numa cruzada pela legalização da eutanásia e tinham argumentos de ordem científica, ética e sociológica sobre o tema. Não eram palestrantes de balcão de tasca. Ambos foram tratados com desrespeito e descaso no referido programa. Pior: ambos morreram  - sabe Deus com que sofrimento - sem terem feito realmente a diferença e sem terem o reconhecimento que mereciam. Como não há, no movimento pela despenalização da eutanásia, quem tenha o saber, o peso e o prestígio de  qualquer um deles, o tema como que entrou em hibernação.
Pessoalmente, ver hoje este programa fez-me lembrar aquilo que quero a todo o custo esquecer: que profissãozinha triste; quanta falta de respeito gritante; quanta solidão - muitos de nós tentam apenas sobreviver ao dia, sem levantar muitas ondas. Mas fez-me reflectir também uma vez mais - com raiva e revolta - a forma como o meu trabalho do ano passado foi menosprezado. O meu trabalho, meu dinheiro e o meu tempo. E a minha saúde! É grande o nojo e o desprezo e a raiva e  até o ódio que sinto pelas personagens sem sentido de ética, sem um módico de profissionalismo e de vergonha na cara, que protagonizaram mais este atropelo. De facto, tudo o que fizeram, de rojo no altar dos números, mais não foi que atropelos, faz de conta, fraude: fake!!
E chega. Fiquei cheia de dores de cabeça. Vou tentar dormir. Oxalá consiga. O dia foi terrível. Bom foi ver que, no meio da tragicomédia laboral do dia de hoje, houve alunos que queriam até chegar a vias de facto para me defenderem!!!
Vamos ver o que acontece amanhã...

imagem: Beksinski

2 comments:

EMD said...

Dias negros atrás de dias negros... e assim nos vamos arrastando, sofrendo, violentando.
Guardei, com especial desvelo, as palavras do psiquiatra, Dr. Coimbra de Mattos, acerca do remédio: indignar-se e revoltar-se.
Pena que requeira um super dispêndio de energia, já tão escassa. Oxalá houvesse um xarope mais doce de tomar.

Beijinhos e bem-hajas pelo apoio (É nele que temos que nos confortar!).

Adélia Rocha said...

Nem mais! Beijinho