Friday, June 26, 2020

Sunday, June 21, 2020

Saturday, June 20, 2020

Le Silence de la Mer


Um Homem vai vivendo. Vai enfrentando a vida, como pode. Aparentemente tem sucesso. Aparentemente está feliz. Na rua, nas revistas, nas "redes", está feliz. Nas redes, toda a gente está feliz. Ou atormenta de forma soez os que estão felizes. Os obstáculos, as pequenas angústias, o pensar no futuro, o pensar como continuar a ser feliz e a ter sucesso no futuro, tudo aquilo que nos aperta um pouco, que nos sufoca, só se manifesta no palco vazio da nossa mente. Não falamos porque o nosso interlocutor mais imediato se aflige. E não queremos afligir o outro. E não temos ninguém a quem possamos contar o pequeno drama que se vai desenrolando no nosso íntimo. A depressão vai-se confundindo com uma pequena crise. A crise da meia idade. A crise das outras idades. O encurtar de tudo, de tempo, de oportunidades, de amigos. Alguns deixaram-nos devido aos nossos sucessos - pequenos sucessos -, porque não suportam que tenhamos subido um degrau. Não importa qual. Outros nunca sequer foram nossos amigos. E demonstraram-no, posto que sempre nos viraram as costas nos momentos mais frágeis. Mas nós não queríamos acreditar. Nós esperávamos que fosse só um momento, que não se repetiria. Nós não sabíamos que a nossa existência, e tudo que nela existe, era visto como uma espécie de parasitismo. Para nós termos, o outro deixou de ter. A nossa existência teve como contraponto uma série de inexistências e de raiva acumulada dirigida a nós. E nós não sabíamos. Embora saibamos que não foi assim...
E um dia um Homem olha em volta e não vê nada que valha a pena. Já ultrapassou a angústia de pensar na angústia dos outros. Já não vê nada. Já arranjou coragem para dar um fim ao psicodrama da sua mente. Só quer dirigir-se para o mar. O mar grande, onde já nadou, onde já foi feliz. É para o mar que se dirige, mais uma vez, a última, em busca de ser feliz. Pela última vez.

Descansa em paz, Pedro. Podias ter dito alguma coisa, íamos os dois. 

Imagem: Beksinski

Wednesday, June 17, 2020

A ordem


Tudo tão sossegado. As folhas deitadas, as canetas quietas. O computador aberto e silencioso. A mala transparente. O cachecol cinzento descansado, enrolado. As cadeiras afastadas das mesas,
 expectantes. A luz amarelada e triste. Os meus óculos, que mal se vêem. O frasco de álcool, que há muito é meu companheiro, aliado. Nada  - quase - dá conta de mim, algures, ao pé de algum formando. Bem menos quieta que todos os meus objectos...
Foram dias maus. Passados! 

Sunday, June 07, 2020

Obsessões: cabelos e germes



Estava tão bem aqui, o meu cabelinho. A cor estava linda, mas o raio da cabeleireira não infrequentemente enganava-se na cor! Até que me cansei e tomei o assunto nas minhas próprias mão, embora pareça que toda a gente andou a tosquiar-se durante a quarentena. É que não há como a pessoa ser original! Em abono da verdade se diga que o meu cabelo tem andado a compor-se, até já cresceu um pouquinho, embora no sítio errado: where else? Lástima é que não ceda à força da gravidade, é que anda sempre em pé ou, pior, agarra-se-me à cabeça como se temesse despenhar-se no solo. E encaracola-se! Meu Deus, tenho de comprar uma peruca para os dias em que ele está temperamental. Pela manhã, é um desfile de horrores. Hoje acordei com um redemoinho traseiro - não confundir com no traseiro - e uma aba poderosa do lado esquerdo. Tive que recorrer à força dos braços para baixar tudo. Cabelos...
E agora os germes ou melhor perdigotos. Toda a minha vida fui acometida de grande náusea à ideia de que o "ar puro" mais não é que ar reciclado após ter saído dos pulmões de alguém. Não há ar puro! É fake. O ar é um concentrado imenso de perdigotos, germes e outras coisas. Há que tempos eu já usava álcool e outros líquidos para tentar purificar-me. Em certos sítios, ia abrindo o meu caminho a borrifos de álcool misturado com essência de baunilha para disfarçar. Borrifos esses que não raro me caiam nos olhos, o que nunca é bom. Daí que eu seja, talvez, a única pessoa no mundo a gostar de máscaras. Abençoadas: a nossa boca e narizinho - ou narizão - tapadinhos e aconchegados em panos e tecidinhos suaves. Tão vooommm! Penso que encontrei o amor do resto da minha vida. As mascarinhas cirúrgicas e sociais e outras, e também as luvinhas de propi qualquer coisa Aiiiiiiii.