Sunday, March 07, 2021

O racismo de Os Maias e o .... coiso do outro do Bocage.


"Ou Travolta"nos clássicos portugueses. Na semana passada, saiu uma notícia no Observador - jornalzinho deprimente, só se safam as crónicas sobre literatura - acerca de uma conferência nos EUA sobre Os Maias, em que  se apontava o racismo que permeia a obra. Desde logo, as associações benignas em torno da branquitude e as negativas em torno da negritude. Os comentadores do Observador, nacionalistas e negacionistas do Covid e, quiçá, terraplanistas, atiraram-se às canelas da investigadora, espumando de fervor queirosiano. Eu própria também espumei. Mas não sou negacionista, nem terraplanista e só moderadamente nacionalista. Bom, hoje vem no Público a notícia sobre o racismo nos Maias, segundo a professora universitária de português e doutoranda de estudos "luso afro e creio que brasileiros", nos EUA. Mais, vem a opinião de que Os Maias devem ter uma nota pedagógica falando dessa faceta racista e - aqui é que eu fervo e espumo - não se recomenda a proibição da leitura do romance. Deixa-me citar, que é melhor:

« “É um material para explorarmos valores e comportamentos relacionados com a raça que existiam na época, mas que continuam a se manifestar em vários aspectos da sociedade actual. Não vejo o cancelamento de sua leitura como uma solução.”»

Ora bem, para além do anacronismo, do ler uma obra do século XIX à luz das ideologias deste triste século esquizofrénico, o que me põe de cabelos em pé é o desplante de sequer conjeturar o cancelamento do livro. É que não sobrava livro nenhum! Ia tudo para o galheiro.  Os comentadores do jornal Público, que são mais civilizados, apresentaram argumentos mais sensatos, embora quase todos no sentido de defender o nosso Eça e os nossos Maias. E eis que há até quem dê pistas sobre novas leituras:

 

«Espero com curiosidade que a investigadora se debruce sobre o mérito e o racismo do Bocage e da "Ribeira" onde ele enaltece épica e poeticamente o marsapo e as "Ações famosas do fodaz Ribeiro, preto na cara, enorme no mangalho". Aqui sim, desde o título ao último verso penso que há mais que abundante matéria para a investigadora e dezenas de investigadoras descobrirem racismos em barda na sociedade portuguesa anterior ao Eça que dariam para várias teses de doutoramento e agregação.»

 

No meio disto tudo, só o adjectivo fodaz para me fazer rir.

 https://www.publico.pt/2021/03/07/culturaipsilon/noticia/passagens-racistas-maias-justificam-nota-pedagogica-defende-investigadora-1953397?fbclid=IwAR0240juAu919yl-xRju1AoQpHIBb-GFf1yDNLZajGi5mhEhd46UdqFL0g4, consultado em 7 de março, 2021

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