Wednesday, August 04, 2021

Comunicar

 


Hoje, o Miguel Esteves Cardoso dizia, na sua crónica do Público, que a Internet é a Enciclopédia Britânica dos ignorantes. Compreendo o que ele quer dizer e concordo com o que ele quer dizer totalmente. Isto surge após um ignorante com idade para ser neto dele o corrigir, com base no que viu na Internet. Ou seja, o MEC, que é doutorado e cultíssimo, é corrigido por um miúdo do secundário, se tanto, porque se informou na Internet. O problema que se coloca é o da consulta de fontes por parte de quem não possui ferramentas para separar o trigo do joio, nem conhecimentos para fazer a destrinça entre o essencial e o acessório. Pior, acrescento, professores há que, na correção de trabalhos, não conseguem detectar cópias da Internet. E, se conseguem, agem como se não conseguissem. A Madre Abadessa, por exemplo, é perita em validar competências à Wikipedia. Mais: fica muito maçada porque há quem, em vez de validar tudo o que lhe põem à frente, se recusa determinantemente a fazê-lo. That would be the day! 

- «Porque é que não aproveitas o que está no portefólio?»
- «PORQUE NÃO HÁ LÁ NADA QUE SE APROVEITE!!!!!»

Adiante. Dito isto, ou melhor, aquilo, é claro que a Internet não é de todo a enciclopédia britânica dos ignorantes, excepto para os ignorantes propriamente ditos. Aliás, as escolas, que andam tão preocupadas com a literacia digital - aceder a plataformas, usar as ferramentas das plataformas, fazer e trabalhar com materiais interactivos, etc. -, sem pensarem, por vezes, na mais-valia real de certas ferramentas, deveriam pensar em fornecer ferramentas linguísticas e outras para usar "os conteúdos" disponibilizados na Internet. Para não falar da necessidade de fazer uma desintoxicação do chamado embasbacamento digital. É que há gente permanentemente de queixos caídos perante as maravilhas da inovação tecnológica. Os viciados em plataformas então... Deus nos guarde! Está na plataforma, logo existe!

Mas eu quero dizer apenas uma palavra acerca daquela ideia feita de que a tecnologia diminui o contacto entre as pessoas, entre as famílias, entre os amigos e afins. E eu digo: que bom! Da minha experiência, o contacto entre certas famílias já deixava muito a desejar. Olha, eu, uma das vezes em que tentei contactar um familiar de viva voz, fui corrida. AHAHAHAHAHAHAHAH! E que corrida. Digna de uma medalha olímpica. Graças à Internet, tenho, pela primeira vez, uma quantidade enorme de amigos. Virtuais, claro. Perfeitos. Não quero outros. Há três ou quatro anos, vi um filme que adorei. Adorei. Mas nunca pude trocar uma palavra sobre ele com ninguém. Ainda falei com os meus formandos, mas eles não conheciam o filme. E, de repente, há alguém que fala desse filme, que tem o mesmo fascínio que eu por ele e com o qual posso trocar umas palavras. Gostei!!

A Internet impede a comunicação? Para mim, a Internet permite-me comunicar de uma forma que eu gosto. Que me conforta. Tenho encontrado nos comentários a filmes imensas pessoas incríveis, que fazem leituras interessantíssimas daquilo que viram ou que, simplesmente, aproveitam para falar delas, daquilo que as aflige. E ninguém faz comentários maldosos. Há quem responda com palavras de apoio. Há quem diga: olá amigos, bom filme para todos.  Falta de comunicação? A comunicação que interessa! 

 

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