Monday, June 17, 2019

Tempo





Na quarta-feira teremos estado no mesmo sítio. Estávamos todos ali. Fomos convocados. Não sabia como era o teu nome, mas conhecia a tua cara. Possivelmente já dissemos boa tarde, olá. E, de repente, vem a notícia da tua morte. Era daquilo que se falava hoje, enquanto esperavas para ser levada para o cemitério, onde agora estás, e onde ficarás para sempre. Os colegas falavam de stresse. Que andavas muito nervosa e com muito stresse. O colega que trabalhou contigo nos exames, na semana passada, disse que sim, que estavas um pouco ansiosa e com muito trabalho, mas que não teria sido o stresse, pois se assim fosse seria uma mortandade. E pronto. Fiquei a conhecer-te um bocadinho no dia em que desapareceste para sempre. Espero que tenha sido rápido, sem sentir, com alívio. Agora acabou tudo. Já não há contrariedades, palavras duras para ouvir, olhares de esguelha, olhares que nos fazem sentir constantemente desadequados, quase inúteis. Quem não gostava de ti, nem te queria ver, já está descansado. Quem gostava de ti continuará a gostar até te tornares uma memória. Talvez até depois disso.

Pessoalmente, não sei o que me levou a recordar-te, posto que nem sequer te conheci, apesar de trabalharmos no mesmo lugar e na mesma função. Acho que até estou com um pouco de inveja… Um pouco tonta. Perdoa-me o desvario. É da medicação. Ainda assim, o dia de hoje foi mais triste para mim. Porque tu morreste.


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