Monday, March 24, 2025

A Nova Ignorância

 


Este senhor é o homem-massa por excelência. Despreza a ciência. Despreza a filosofia, a cultura. Diz ele que os filósofos estão desactualizados, porque falam do ponto de vista do mundo deles: o que é que isso interessa? Penso que ele se acha um filósofo dos dias de hoje.  Diz-se escritor, mas não lê nada. Ou melhor, diz que o único livre que lhe mereceu apreço foi O Alquimista, de Paulo Coelho, se não estou em erro. Acha-se perseguido, porque, tal como Jesus Cristo, diz as verdades.
Esteve para formar um partido político, mas não queria ter "um povo às costas". A lata! 
Diz coisas extraordinárias: os não vacinados contra o vírus da "fraudemia"  - citei - foram o grupo mais perseguido da história da humanidade, incluindo os judeus!   
As palavras-chave do indivíduo são "amor próprio" e "intuição". Tudo se resolve com amor próprio e dando ouvidos à nossa intuição. Agora mesmo publicou um livro de 500 páginas que não é para ler, é para responder. Ela explica: a pessoa tem uma dúvida, que faz? Abre o livro e vê lá a resposta.  Resposta para tudo.
As opiniões sobre o papel da medicina são muito profundas. Diz ele que os médicos sabem sobre doenças, não sobre saúde. Ele, o grande Gustavo Santos, é que percebe de saúde. Porquê? Porque estudou? Não. Porque é saudável e só alguém saudável é que pode saber de saúde. Aliás, ele abomina pessoas que estudam e que se acham especialistas disto e daquilo. Etc., etc.
Gonçalez Blas prefere a expressão homem pós-moderno, para falar do homem-massa do século XXI. Qual é o traço principal deste homem? A ignorância, mas a ignorância assumida, ancorada na ideia de que, como alguém disse, "as minhas opiniões/intuições são tão válidas como o teu conhecimento", no qual, acrescento, não acredito.  







Friday, March 21, 2025

A Noite dos Vendavais

                                                                                   

Saí às 22:00 horas. Chovia imenso e o vento era forte. Fazia barulho. Por vezes, parece que se ouviam trovões. Mas não. Era apenas o vento descontrolado a sacudir tudo à sua passagem.  Ainda pensei em chamar um táxi. Mas a noite, o vento e a chuva são as minhas coisas preferidas. Não ia perder a oportunidade de as ter juntas, de me juntar a elas. Não coloquei os óculos, com medo que me fugissem. O guarda-chuva, meu companheiro, apesar de ser sacudido com força, não se virou uma única vez. Não partiu, não dobrou. Molhei-me nos sítios em que o impermeável - mas pouco-, levantado pelo vento, deixou entrar a chuva. As minhas botas, no entanto, apesar das poças de água e dos rios de chuva estrada abaixo, não deixaram entrar a mais leve humidade. O meu braço esquerdo, que tive de usar para agarrar o guarda-chuva e o manter firme, para não molhar o cabelo, nem me entrar água pelo decote, também ficou encharcado até ao cotovelo. Isto, apesar de me apetecer andar à chuva sem qualquer proteção, a sentir a água e o vento na cara, no cabelo, no corpo todo. Mas já não posso. Era gripe na certa. Também não pude fotografar a noite... Que pena. Mas tirei fotografias logo que entrei no elevador, para ver os vestígios da noite. Não se vê nada, infelizmente, graças à excelência do meu guarda-chuva! Vestígios mesmo, só no impermeável, no cachecol, na camisola e nas calças: tudo molhado. 

Noite gloriosa!!!


Thursday, March 20, 2025

Dia do Pai


Foi ontem... Eu não me esqueci. Atrasei-me apenas. Mas tu também eras uma pessoa que não se agarrava a coisas pequenas. Ontem foi um dia diferente para mim... Dor de cabeça. Coisas. 
Não lamento verdadeiramente que já cá não estejas. Não é um lugar bom... Pior: é um lugar que se vai tornando cada vez pior, especialmente quando envelhecemos e vamos ficando cada vez mais dependentes. Tenho tomado conta da mãe o melhor que posso, tendo em conta que, como tu, gosto de estar sozinha, e fazer o que me apetece sem correntes nem amarras. Mas eu não sou casada, nem tenho filhos, embora tenha cuidado, à minha maneira, de outros filhos e filhas, e agora da mãe. Também fiz por ti tudo o que pude. Aquelas idas ao hospital de Castelo Branco, repetidamente, e tu a pedires para eu não ir. Mas eu inventei coisas e arranjei pretexto para continuar a visitar-te. Lamento, sim, a forma como partiste... Felizmente, acabaste por não ter noção do que se passava à tua volta, naquele lugar de pesadelo... Só espero que morrer seja mesmo deixar de existir. Puro esquecimento. Embora, pessoalmente, não me importasse de voltar à vida, em forma de fantasma, para, por debaixo da cama, agarrar a perna dos inimigos ... Ahahahaha. Isso, sim, era de valor.