Nas aldeias, todos se conhecem e sentem em partes iguais toda a tristeza das situações inesperadas. A morte não é, de todo, uma intrusa. Ela chega sempre, não importa a hora ou o instante. Mas é ela que vem, sempre mais ou menos indesejada. Hoje não aconteceu assim. Foi alguém que se levantou, se preparou e foi à procura dela, deliberadamente. Decidiu ir embora e executou a partida. Para trás, deixou toda a gente agitada, devastada, tensa. E deixou também a aldeia cheia de estranhos: polícias, bombeiros, legistas, psicólogos. Mas que lhe interessa? Ela já não é deste mundo. Já não a incomodam as vozes dos estranhos e o ruído dos carros pelos caminhos. Ela está em paz. Está sossegada. Não lhe interessa também, já, a súbita tristeza dos que ficaram. Quem sabe, os que agora entristecem nunca lhe tenham dito nada que lhe aliviasse a tristeza a ela. É quando tudo acaba, irremediavelmente, que muitas vezes dizemos: poderia ter ajudado, poderia ter reparado. Dito uma palavra, feito um gesto...
Só indiferença. Por todo o lado, só indiferença...
Adeus, Leonor. Não me lembro já da tua cara, ter-te-ei visto poucas vezes, mas sei quem és. Quem eras. E até eu, esquecida que estava da tua existência, tenho a garganta apertada, custa-me respirar, no momento em que escrevo estas palavras...
Imagem: Igor Svibilsky, em https://www.facebook.com/photo/?fbid=10231332294561462&set=gm.2353474864858272&idorvanity=157947604411020, consultado em 25 Abril, 2024
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