Friday, December 22, 2023

Liberdade de Expressão


Hoje descobri um homem brilhante: Konstantin Kinsin. Isto quer dizer que vou ter mais para ler e ouvir e aprender. Este homem nasceu na Rússia, onde vivia na maior pobreza. Os seus pais, no entanto, tiveram a coragem de tudo fazer para o levar para o Reino Unido. Para o Ocidente. Para um mundo novo de facilidades, liberdades e abundância. Será disto que trata o seu livro, que acabei de comprar: An Immigrant's Love Letter to the West.

Jordan Peterson, o sábio, como lhe chamam, é visto como a voz da razão e do conhecimento neste mundo insano em que vivemos. Fartos de comida, obesos até às órbitas, empanturrados, portanto, livres para dizer todo o tipo de dislate e com um tecto sobre as nossas cabeças, por vezes furado, é certo,  os ocidentais, em vez de se contentarem, resolveram fuçar na realidade até encontrarem mais problemas para poderem sofrer. E encontraram, benza-os Deus. Descobriram que a língua é opressiva, que tem palavras como ele, ela, homem, mulher, velho, gordo, tonto, careca etc. e revoltaram-se contra a língua. Querem uma língua nova, asséptica, esterilizada. Descobriram que há muito mais identidades para além do tradicional e bafiento homem e mulher. E decidiram que cada um é aquilo que sente ser. Ontem conheci um ser que se identidicava como palhaço/clown e que declarou que os seus pronomes eram clown e clownself. Descobriram que o sexo heterossexual é sobrevalorizado e que só é a norma, porque as crianças não têm conhecimento sobre outros tipos de sexo. E decidiram começar a ensinar as crianças, desde os bancos da primária, todas as modalidades de sexo, recorrendo a livros profusamente ilustrados e a filmes, também. Descobriram as alterações climáticas e decidiram retirar o sorriso dos lábios da Mona Lisa, bem como esparramarem-se pelas estradas do país e do mundo (livre) e atrapalhar a ida para o trabalho da cristandade (em sentido lato, claro). Etcétera, etcétera. Voltemos agora à vaca fria, ou boi, se preferirem: J Peterson, homem com O grande, para muitos. Admiro o seu combate contra a cultura woke e as questões de género, o que já lhe trouxe dissabores e idas a tribunal e sanções. Mas, depois, o homem mete-se em tudo o que é assunto, desde a existência de Deus até à inexistência de uma coisa qualquer, de que agora não me lembro. É um tudólogo, um vulgarólogo. Tem, depois, uma espécie de admiradores embasbacados que o ouvem de queixos caídos pelo pasmo. É um erudito? É. Parece um erudito? Não, não me parece. A minha concepção de erudito não se coaduna com o embasbacamento das massas. E depois há a atitude: não tem um pingo de humor! Fala com o semblante de quem está a perder tempo com imbecis, rodeado de imbecis com os quais tem de partilhar a sua sacrossanta sabedoria. Depois, ainda, não admite nunca que não tem razão. Ele é a razão! He is the one who knocks. Eu não tenho paciência para o ouvir!

E agora deparo-me com KK, um homem que viveu em dois mundos e que fala sobre woke e ideologia de género e liberdade de expressão com os pés assentes na terra. Ele sabe o que é não ter liberdade de expressão. Muitos dos que hoje falam em opressão no ocidente - vide Gustavo Santos -, não fazem a mínima ideia do que isso é. Ora, na Amazon, ao ler as críticas ao livro de KK, encontro esta frase sobre liberdade de expressão:  

« My dad came to the US from the Soviet Union at 3. He teased that going to the dentist there was so painful because no one was allowed to open their mouths....»

Traduzo: O meu pai veio  da União Soviética para os Estados Unidos aos 3 anos. Ele costumava brincar dizendo que lá era muito doloroso ir ao dentista, porque ninguém tinha permissão para abrir a boca...

Ironias à parte, é uma das mais eloquentes formas de ilustrar o que é não poder exprimir-se livremente que já li.