Estava novamente naquela sala de aulas enorme e caótica. Uma sala, aliás, que se vai tornando maior à medida que regresso a ela. Ontem estava gigantesca. Os alunos, que eu conheço mas só daquele espaço, sem nunca os ter visto, uma espécie de figurantes dos meus sonhos, estão irrequietos. Alguns esperam que eu fale, que eu dê a aula. E eu estou na minha secretária, que é muito comprida, e estou em cima de um estrado. Tenho também um quadro atrás de mim e fios, microfones, enfim, equipamento para vencer a grandeza do espaço. Estou também frenética. Quero impressionar todos com o que vou dizer. Levanto-me, vou para o meio da sala, depois regresso à minha mesa comprida. Mas a minha voz sai sempre baixa. Por vezes nem baixa sai. Quero falar e falta-me a voz. Gesticulo imenso, tento escrever no quadro e movimentar-me, para dar a ilusão que há coisas a acontecer. De repente, vejo que chove dentro daquele espaço a perder de vista e vou sala adentro, para ver se os alunos estão molhados. Não estão. Alguns olham para mim sem interesse, outros tentam parecer simpáticos, mas não têm verdadeira simpatia. E eu volto para a secretária, posto que só chove em cima de mim. Nisto, entra porta dentro um aluno mesmo, que eu conheço, com quem convivi dois anos. Entra tal e qual como é, ou como se tornou, depois de ter ficado doente. Olhou para mim e eu, dada a distância, dirigi-me para ele, para o cumprimentar como sempre: um toque com a mão fechada. Mas ele saiu entretanto e eu pensei que já nem ele tinha simpatia por mim...
Quando acordei, tive um pressentimento, e se ele saiu da vida, como saiu da minha sala?
Depois vim a saber que tinha, de facto, saído. Saiu na sexta-feira. RIP!
4 comments:
Nossa!
Um daqueles alunos que GOSTAVA DE MIM!!! Dos poucos que gostam de mim.
Quantos anos tinha?
Estava nos cinquenta, mas nem parecia.
Post a Comment