Sunday, December 22, 2019

Domínio Público, Paulo Castilho


Já não me lembrava deste livro. Recordo, agora, no entanto, que, depois de algum tédio inicial, dei boas gargalhadas quando menos esperava. Na altura, era obrigatório lê-lo. Felizmente. Digo isto porque, caso contrário, teria perdido bons momentos daqueles que só os livros nos podem proporcionar.
Vou ter de arranjar mais um projecto à séria, com pagamento de propinas e tudo, para ser obrigada a ler. Quantas coisas boas ficam por viver, pelo simples facto de nos entediarmos com um livro… ou com uma pessoa… ou com outra coisa qualquer.
Por exemplo, as pessoas que não me apreciam privam-se dos bons momentos que eu lhes poderia proporcionar. É verdade! Por muito que dê vontade de rir. Eu sou uma excelente companhia. Mais, como só tolero os outros a curtos intervalos, nem chego a maçar ninguém. Não faço visitas. E as que faço são curtas. Não me posso fazer convidada para almoços e jantares, posto que sou deficiente otorrínica. Isto é, não dou despesa. Para além disso, sou generosa e divertida - a sério -, em doses homeopáticas, o que faz com que as pessoas me "comam" e chorem por mais. Não falo em comer no sentido bíblico, obviamente. Nesse departamento deixo a desejar. Aliás, não quero nada com esse departamento. Mas, claro, como dizia Eça de Queirós, este país, e as suas gentes, acrescento, gostam de esfomear o génio. Por isso mesmo, génio que sou - é verdade -, ando com alguma fomeca. E acabo por aqui este aparte.
Volto ao livro. Que bom que é fazer notas. Assim, sei sempre como não me perder nas 402 páginas  deste romance.
Curioso, assinalei algumas frases como interessantes, e agora não lhes acho interesse nenhum! E também não me apetece rir das frases engraçadas!
Ah, espera. Está aqui uma frase que me diz alguma coisa:

«Ficaram a sorrir uma para a outra e a medir o quanto tinham ficado a detestar-se logo no primeiro encontro - pareceu-me.» (Castilho, 2011: 341)

Ter-me-ei rido da palavra "espertalhufas"?

«(…) os mais distraídos ainda não repararam que estamos no século XXI e dizem frases como: não suporto espertalhufas.» (idem, 10)

Muito boa a página 51. Percebo agora a importância que teve este livro naquela altura. Não há dúvida. Dei todos os passos que tinha que dar. Li tudo o que se impunha ler. E, com este livro na mão, quase sinto o velho entusiasmo, a excitação, o prazer de descobrir coisas e sentir que essas mesmas coisas me levariam a novas descobertas. Tinha de me conter...

A imagem dos dias frenéticos, da secretária sempre cheia de papelada e livros. Por vezes, essa visão enchia-me de terrores e calafrios. Sentia uma impotência, um cansaço. Outras vezes, com as folhas a acumularem-se, repletas de frases, sentia que poderia continuar a escrever até ao fim dos tempos. E com prazer!
  Vou dormir.

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