Saturday, March 11, 2017

O que é que as mulheres querem? (perguntava Freud)


António Guerreiro, no Público, escreve um artigo intitulado O Fim dos Homens. Como AG costuma saber escrever, pensei que dali viesse um contributo para falar sobre questões de género. Mas não. Ele põe umas palas na lateral de cada olho e faz de vítima das mulheres e, principalmente, do Feminismo Radical. Aliás, para certas criaturas, o feminismo é sempre radical. Parece que há homens que têm mesmo medo de que as mulheres acabem com eles!! Que desplante. A findar a sua diatribe choramingona, vai buscar as palavras de uma tal de Solanas (que eu não conheço, mas que vou procurar já de seguida na Amazon) para concluir que a atrás referida se calhar tem razão, quando diz que os homens, como não fazem falta, vão desaparecer.

«Solanas desenvolvia argumentos que alguém classificou como “nietzschianismo mutante”: o homem é uma “mulher incompleta”, geneticamente deficiente devido ao cromossoma Y, por isso gasta todo o seu tempo a tentar ultrapassar essa inferioridade. Não o conseguindo, investe na guerra como compensação. Foi para servir a máquina da guerra que os homens desenvolveram a técnica. Felizmente, dizia Solanas, em breve vai ser possível prescindir dos homens, eles não serão necessários nem sequer como doadores de esperma. Esta Solanas era uma profeta.»

https://www.publico.pt/2017/03/10/culturaipsilon/noticia/o-fim-dos-homens-1764290, em 11 Março, 2017

Eu nem vou levar isto muito a sério, porque me daria muito trabalho, mas esta coisa de considerar o homem uma "coisa incompleta" e amuar por isso, é ignorar as coisas medonhas que se disseram (e dizem) ao longo dos tempos sobre as mulheres. Começa logo pelo facto de terem sido criadas a partir da costela do Adão! Faço uma lista curta a partir do livro A Brief History of Misogyny de J. Holland.

1- Corpo das prostitutas, um esgoto: «she was viewed in terms of a sewer that drained off men's lust» (loc. 464).

2- Mulher, cobra venenosa: «He who teaches letters to his wife is ill advised: he's giving additional poison to a snake.» (Loc. 434).

3- Aristóteles: mulheres são inferiores, prova: menos dentes e mais cabelo: «As a sign of women's inferiority, he referenced the fact that they did not grow bald (...) he also claimed that women had fewer teeth than men» (loc. 602).

4- Catão (234-149 A.C.) via a mulher como um animal incontrolável, se lhe derem a igualdade dominarão: «Once they have achieved equality, they will be your masters» (loc. 768).

5- São Tomás de Aquino: mulheres, objecto para reprodução e outras serventias: «a necessary object, woman, who is needed to preserve the species or to provide food and drink» (loc. 1789).

6- Rousseau desprezava as mulheres, Sade, o divino Marquês, gozava-o: «Sade mocks and derides Rousseau's vision of the ideal woman by showing that as he believed (...) the instinct for power is part  of human nature, then women can possess it as much as men» (loc.2858). Claro que Rousseau excluia as mulheres do conceito de "natureza humana"!

7- Para Kant, a mulher era uma flor. Nem vale a pena citar.

8- Nietzsche, mulher inimiga da verdade; Freud, inimiga da civilização: «Nietzsche saw woman as the enemy of truth, whereas Freud saw her as the enemy of civilization» (loc. 3280).

9- Otto Weininger (2880-1903) - mulheres são nada, nada, nadinha  (parece que ninguém odiou tanto as mulheres, e olha que não é fácil): «"Women have no existence and no essence; they are not, they are nothing."» (loc. 3292).

10- Hitler, que admirava Weininger, tinha medo das mulheres, e desprezava-as; mulher ideal, para ele, fofinha e estúpida: «His ideal woman was, in his own words, "a cute, cuddly, naïve little thing - tender, sweet and stupid"» (loc. 3353)

Etc., etc., etc.. E AG e alguns comentadores estão com medo do Feminismo Radical: mariquinhas pé de salsa!
Se nós mulheres tivéssemos medo dos homens, e motivo não nos faltou ao longo da história, ainda hoje estaríamos sossegadas e quietas a fazer o que suas excelências queriam. Mas não estamos...

HOLLAND, Jack, A brief History of Misogyny, London, Constable & Robinson, 2006



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