Sunday, August 01, 2010

Os Veneráveis Mortos

Morreu António Feio. Não há muito tempo morreu também José Saramago, o escritor, e Beto, o cantor.
José Saramago viveu uma vida longa e linda. Encontrou o amor numa idade em que já não se costuma encontrar nada. Como o invejo! Eu já nem procuro. Ainda espero, no entanto, que o acaso me traga alguém...E não sou passiva. Porém, a última vez que me pus em campo, activamente, só desaguaram pessoas fechadas, de uma forma ou outra, uma espécie de enigmas, fósseis, estátuas. Também vieram pessoas com janelas e portas abertas, porém medonhas. Não quis acolher-me nos seus braços vulgares e nada confortáveis. Piores mesmo, foram os de "boca escancarada", boçais, aterradores! Depois, vieram os complicados, os quezilentos, etc... uma galeria desconcertante de figuras rígidas que não amam nem se deixam amar. Voltando a Saramago, ele continuaria a escrever e bem. Mas morreu junto ao seu amor, na sua casa, no país onde decidiu viver.
Beto não era um cantor que me agradasse particularmente, mas era um artista muito profissional, que não escolhia o caminho mais fácil, as melodias mais na moda. Tinha um estilo, um público...e tanta esperança de vida ainda! Custou-me vê-lo partir. No fundo, ele vivia na minha parte não consciente. E apreciava-o.
O António Feio era um actor excelente. Daqueles que fazem brilhar tudo aquilo em que se metem. Pena os textos, os argumentos, em Portugal, deixarem a desejar. Mas ele conseguia sempre ser brilhante. Era versátil também. Drama ou comédia, ele estava à altura (Como o genial Nicolau Breyner).Para além do mais, era simpático! Tinha manias? Mau feitio? Não sei, nem me importa. Aliás, o defeito de muitos actores portugueses é não as terem. Não têm "star quality". Vestem mal, de forma desadequada para a idade e com assaz mau gosto. Hélasssss!!
Com o risco de fazer uma triste figura, pois não compreendo o belíssimo poema de H. Helder, não consigo descodificar os seus "signos", ir além da superfície, vou utilizar, no entanto, as imagens desconcertantes desse poema. Também, que importa fazer triste figura no meu cemitério? :)

Olha...junto à linha do caminho-de-ferro...Saramago, Beto e o António Feio...descalços, roendo maçãs!

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