Rest in Peace

Monday, August 04, 2025

Termas de Monfortinho

 


No elevador, preparada para mais uma viagem para visitar quem espera por mim ansiosamente. Ela, aliás, espera sempre por alguém. Não gosta de estar sozinha. Mas não senti ter acrescentado com a minha companhia. Mas não estar aqui agora seria insuportável... Ela precisa de gente à volta dela. Aqui estou. Acabei de colocar as minhas coisas. Rodeei-me delas. Estou a colocar tudo o que me foi possível trazer para eu própria estar acompanhada. Vou colocar um pouco do meu perfume 212 CH NYC, companhia também, diária, antes de me deitar, para dar alívio ao meu corpo dorido: fazer a mala e as outras coisas, preparar a vinda, fazer comida para trazer, limpar - mas pouco - a minha casa, fazer a viagem, carregar coisas, apanhar um sol inclemente, preparar o meu quarto para ter um pouco daquele outro quarto que está longe de mim, na penumbra, a cama intacta... 
A minha casa é parte de mim, como os óculos, o casaco que me aquece, o meu computador... 
Mas a minha mãe hoje está mais feliz. Sabe que há, na casa, um quarto ocupado... é isso que interessa. Como ela está frágil, um pouco surda, muito teimosa... estranha, até...

Sunday, August 03, 2025

Marinhais: fogo de artifício



Prioridades: primeiro o cumprimento da tradição. Isto é, sem fogo de artifício não há festa. Não interessa se o país tem estado a arder, se alguns perderam quase tudo. Se os bombeiros estão exaustos e têm estado a trabalhar ininterruptamente. O governo proibiu exibições pirotécnicas a partir da meia-noite? Antecipa-se meia hora a exibição. Está dentro da lei. Muito cumpridores, estes portugueses. Pelos vistos, temos mais uma categoria de negacionistas. Os que se negam a prescindir da pirotecnia! Uma participante dos festejos diz que o fogo foi muito bonito. O de artifício, claro. 
Estamos numa sociedade de ignorantes hedonistas. Ninguém se sacrifica por nada nem por ninguém. Cada um quer tudo aquilo a que tem direito. Prevenir calamidades? Não. Preferem remediá-las. Aliás, os fogos só acontecem na terra dos outros, só destroem os haveres dos outros. Não os nossos. Estando eu bem, comigo ninguém se incomode.
Ignorância e egoísmo!  

Que vergonha, Marinhais! Tenham vergonha!!!

https://www.noticiasaominuto.com/pais/2829210/muito-preocupante-fogo-em-ponte-da-barca-piorou-e-esta-descontrolado, consultado em 3 de Agosto, 2025

Friday, August 01, 2025

Mortes Fabulosas dos Antigos

 


«Entre os antigos, qual era considerada a morte mais digna e exemplar? No campo de batalha ou… ?
A morte mais digna era sem dúvida o suicídio. Por exemplo, o imperador era considerado muito humano se permitisse a um condenado à morte que se suicidasse. Essa era a morte perfeita. A morte em combate vinha a seguir. E, por alguma razão, a forca não era uma boa morte. Era considerada uma morte para ‘meninas’. A crucifixão, naturalmente, também não era considerada uma boa morte. Mas morrer a combater pela sua cidade, pelo seu estado, era a maior honra que se podia ter.»

https://sol.sapo.pt/2025/05/22/dino-baldi-para-os-antigos-a-morte-tinha-de-ensinar-alguma-coisa-sobre-como-viver/, consultado em 31 de Julho, 2025

Leitura de férias!!

Saturday, July 26, 2025

O beijo

 


A realidade - líquida -, a partir do momento em que a deixei entrar na minha vida, entrepôs-se no meu gosto pela leitura, isto é, pela ficção, que foi esfriando. Abro um romance e não consigo deixar-me envolver pela história. Aquela história não me diz nada. Gissing também contribuiu para isto. Mas já li tudo de Gissing...

O último romance que li foi da autoria de Gabriel García Marquez. Romance póstumo. É um GGM cansado, mas continua a ser ele. Espero que tenha deixado mais um manuscrito, para se tornar num novo livro.

Tenho-me dedicado essencialmente à leitura de ensaios. De momento, estou a ler uma História do riso. Porém, sinto necessidade de histórias. Quero que me contem histórias.

Recentemente, apareceram no YouTube uns canais de "histórias perturbadoras" e "histórias de terror", por categorias: noites chuvosas, camionistas, taxistas, seguranças, vizinhos, férias, Tinder, casais, etc. Ora, uma vez que já esgotei outro tipo de histórias, comecei a ouvir estas à hora de dormir. São relatos curtos, alguns dos quais muito sem graça e nada perturbadores. Eu já não me deixo perturbar com relatos de bruxas e de aparições fantasmagóricas em noites escuras. Porém, há também relatos que mostram como a vida é sem lógica. Como, de repente, algo de muito mau pode acontecer. Um senhor, um belo dia, decidiu encontrar uma mulher no Tinder e conseguiu. Gostou do perfil e, passado algum tempo, combinaram um encontro num café. Chegada a hora do encontro, ele pôde observar que ela não tinha mentido sobre quem era. No entanto, achou-a pouco à vontade e até algo intimidada, posto que frequentemente olhava para trás como se temesse que alguém a tivesse seguido. Ela, então, explicou que se tinha divorciado há pouco tempo, que tinha sido uma experiência muito má e que ainda não se tinha refeito completamente. E, nisto, entra um homem alto e vociferante, que se dirige à mulher com agressividade. Era o ex. Ele, para defender a mulher da besta do ex-marido, levantou-se, para a proteger. O marido, porém, muito forte, empurrou-o, ele bateu numa zona saliente da parede e acabou por ficar paraplégico. Uma história perturbadora, de facto, mas eu estava à espera de novidade. Acabei por tê-la. Felizmente.

O protagonista é também um homem que procura uma mulher no Tinder. Acabou por fazer match com uma rapariga que lhe pareceu ser diferente das outras. Muito terra a terra, sem futilidades e bonita. Como ela gostava muito de filmes de terror, combinaram encontrar-se no cinema, para verem um desses filmes. Ele chegou primeiro. Comprou os bilhetes e ficou expectante a ver se ela chegava. O tempo passava e nada acontecia. Porém, de repente, alguém o chama pelo nome. Mas não era ela. Era uma mulher enorme, com obesidade mórbida, vestida de forma descuidada, o cabelo em desalinho e um aspecto de quem não está numa relação séria com a água e o gel de banho. «Sou eu.» Diz ela. «A fulana». «Mas não parece... a pessoa ... das fotografias.» «Mas sou eu mesma, as fotografias é que são antigas. Qual é a diferença? Sou eu a pessoa de que tu gostas.» O pobre internauta do amor teve uma vontade imensa de virar as costas e desaparecer, mas a mulher à sua frente, muito pragmática, já o estava a arrastar por um bracinho em direcção à sala. Pois seja, pensou ele, mas mal o filme acabe despeço-me para nunca mais. Sentaram-se nos seus lugares, coisa que não foi fácil para ela, posto que encaixar o corpanzil na cadeira foi uma tarefa de dimensões bíblicas. Ele estava acabrunhado. Ela, no entanto, estava nas suas sete quintas, feliz e, mal as imagens do filme apareceram para dar vida à tela, começou a meter-lhe as mãos um pouco por toda a parte. Ou seja, o filme de terror desenrolava-se, sim, mas na plateia. Ele, de perninhas muito juntas, a proteger as joias da coroa, tentava livrar-se das mãos papudas e húmidas dela. Mas nada a detinha. Muito lampeira, ia descaindo para cima dele e roçando-se, com o perigo até de o entalar. O pior, contudo, estava ainda por vir. 

Estavam eles nesta espécie de luta, ela a avançar em todas as frentes e ele a tentar detê-la, quando, de súbito, sente a boca dela, em modo ventosa, na boca dele. À beira do vómito, empurrou-a com alguma violência, mas em vão. Ela não arredava. O pobre homem começou então a sentir que ela o mordia, primeiro nos lábios e depois na língua. Mordidelas cada vez mais fortes e invasivas. Foi quando ele, com um esticão de puro desespero, se conseguiu desencaixar dela e fugir dali. Em fuga, sentia a boca dormente, estranha, dorida, pelo que se dirigiu à casa de banho. No espelho, viu primeiro o sangue que escorria. Depois, abriu abriu mais a boca e viu uma coisa que não conseguiu identificar, ou talvez sim: era a dentadura dela! 

Era a placa!!

https://fineartamerica.com/featured/untitled-the-eagle-zdzislaw-beksinski.html, consultado em 22 de Julho, 2025

Monday, July 14, 2025

Rapidinha (mensagem)


 Esta noite sonhei que estava noiva de Elon Musk!!! E estava muito feliz com o noivado. O meu adorado noivo seguia a meu lado e ia mudando de altura a cada passo: ora estava muito alto, ora me chegava ao ombro... Achei estranho: coisas de multimilionários. A paisagem também era estranha. Ora estava com ele em plena natureza, com ele naquele sobe e desce insano, ora estava num quarto sem porta, a tentar despir-me, para me deitar, sem que ninguém me visse tirar a roupa, ora descobria que o quarto não só não tinha porta, como também não tinha uma parede. Estava, pois, num quarto de três paredes sem porta!!! Como se já não fosse extremamente estranho noivar o Elon!! 

Nisto, recebo uma mensagem do meu noivo, a dizer-me que depositou na minha conta uma quantia avultada, para que todos os meus amigos tratassem dos dentes!? Olhei em volta e, realmente, os meus amigos - bastantes, diga-se - tinham todos uma dentição miserável: poucos dentes e os poucos que tinham eram pretos e esverdeados. Um pavor! Envergonhada, pensei que o meu amado estava a braços com o dilema de noivar uma pobrezinha. Passei então a língua pela minha própria dentadura e só encontrei dois dentes!! Um em cima e outro em baixo. Tive um ataque de pânico. Não podia acreditar. Entretanto, o meu Elon levou-me a jantar num hotel de sete estrela: um luxo. A julgar pela quantidade de leitão da bairrada, frango assado e sardinha na brasa esparramados numa enorme mesa, presumo que fosse um hotel de sete estrela em Lisboa. Talvez em Alfama. Comi apenas um rissol - que também os havia, claro, bem como croquetes - e pensei que ser rica é outra coisa... 

Para que conste! 

Imagem: https://www.facebook.com/photo/?fbid=1123263663177546&set=a.598147439022507, consultado em 5 de Junho, 2025

Sunday, June 22, 2025

Sunday, June 15, 2025

No Kings!


Como professora, ou melhor, como alguém que estudou até ao fim da linha, o doutoramento, não pude evitar as lágrimas que me vieram aos olhos, quando ouvi o discurso de Brian Tyler Cohen. Esta reacção do povo americano só é possível devido à Educação, ao Conhecimento, ao Estudo; à Escola, à Universidade. Na Coreia do Norte, pelo contrário, o povo não tem acesso, em liberdade, à Educação. As ditaduras florescem na ignorância. Ignorância!!
Quantas vezes digo aos meus formandos que tenham atenção ao que os filhos estão a fazer na escola. Que não interessa passar, transitar de ano, apenas. Interessa aprender! Que os bons professores não são os que passam os alunos. Isso é fácil! O que interessa, dentro ou fora da escola, é obter conhecimento. Mas conhecimento sério, não apenas a espuma dos dias... Importa a herança cultural legada através dos séculos: a Filosofia, a História, a Literatura e a Ciência. A Ciência que, apesar de tudo o que põe ao nosso dispor, está sob ataque nos dias que correm. Claro que não há absolutos. Há que saber questionar. Mas temos hoje uma massa crescente de negacionistas da ciência. 
Pessoalmente, penso que a única circunstância que poderá levar os Estados Unidos a resistir à autocracia de Donald T tem apenas um nome. Não é a ideologia, embora também o seja, é a Educação! É o conhecimento de conceitos básicos como Democracia e Liberdade de Expressão. Sem estes, que estão na base de tantos outros, os americanos seriam apenas um rebanho pastoreado por um ditador narcisista e seus cães de guarda. 
Que todos tenham consciência de que apenas o Conhecimento  - não o dinheiro - nos permite manter a nossa Dignidade Humana.