Thursday, August 23, 2018

A Falácia Patética


Dia 24 de Agosto. Calor, trovoadas e chuva nalgumas zonas.
O bom da passagem do mês de Agosto é que depois dele vem o Outono. Começa a vir o frio. Enfim. As queixas de frio e medo da trovoada e do vento, etc. ouvir-se-ão sempre. As pessoas não estão nunca contentes com o tempo que faz.
É interessante como a expressão idiomática inglesa "be under the weather", "estar sob o tempo" , em tradução literal, quer dizer algo como estar doente, sentir-se mal ou mesmo, se não estou em erro, "estar com os azeites". Os portugueses poderiam bem ter esta expressão na sua/nossa língua, na medida em que o seu bem-estar e atitude (feitio, mau-feitio) está tão dependente do boletim meteorológico.
Hoje, por exemplo, quando a minha mãe telefonou, vi logo que alguma coisa não estava bem: estava trovoada! Depois lá se animou. Para tal, bastou eu fazer um relato do pandemónio que houve na Sertã devido à chuva forte. O drama anima a minha mãe: abençoada.
Voltando à expressão, nós temos "estar como o dia", que normalmente se usa quando o dia é de mau tempo: céu plúmbeo, frio, relâmpagos ao longe.
David Lodge, em The Art of Fiction, dedica um capítulo à questão do tempo/weather. Diz ele que, na Literatura, só a partir do final do século XVIII é que se começou a falar do tempo na ficção. Isto devido ao Romantismo e sua ligação à natureza, bem como ao "self", ao eu. Diz ele, Lodge, que, como é sabido, o tempo afecta o nosso comportamento. Deste modo, muito romancistas começaram a incluir, nas suas histórias, uma forte correlação entre o tempo e a disposição das personagens. A isto, diz Lodge, chamou John Ruskin "the pathetic fallacy". A falácia patética!

Lodge, David, The Art of  Fiction, London, Penguin Books, 1992, pp. 84-88 

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