Beksinski vai buscar inspiração aos seus pesadelos.
Hoje, ouvi um especialista em espiritismos dizer uma coisa interessante acerca dos sonhos. Dizia ele que nós continuamos a viver enquanto dormimos. Certo. Acrescentou que os sonhos são uma espécie de registo da nossa vivência nocturna. Implícito estava o facto de serem reais, do ponto de vista onírico, digamos, as pessoas e as situações dos sonhos. São vivências, extraordinárias, penso eu, e diferentes das do dia-a-dia, dado que nos sonhos o nosso corpo é imaterial. Isto sou eu já a interpretar. Mais, dizia o especialista, de forma muito articulada, a sensação de déjà-vu não é mais do que a validação de que em sonhos já conhecemos essa pessoa. Por isso nos parece já tê-la visto. E vimos. Em sonhos. E contou um episódio em que, indo ele na rua com a mulher, de repente vê alguém que lhe deu a sensação de conhecer. Essa pessoa olha para ele e reconhece-o, também. Aproximam-se e cumprimentam-se, cúmplices. Tinham estado juntos num sonho.
Foi a coisa mais linda, mais sublime, que ouvi em muito tempo. Quem me dera conhecer os meus companheiros de sonhos: o homem que me oferece café incessantemente, enquanto eu procuro uma casa; uma mulher muito velha adormecida a uma mesa de café, na noite, com um gato adormecido no colo; as centenas de pessoas de cabeça tapada que compartilharam comigo, numa pensão, uma mesma cama gigante e em crescimento contínuo; o homem do canavial que me procurava e a quem eu procurava também e que, de tanto andarmos à roda, no meio das canas, para nos encontrarmos, sem o conseguir, se transformou numa roçadeira eléctrica e desapareceu no ar; a A, na sua grande casa; a I, na sua cave das janelas grandes; a X, muito velha e redonda, a indicar-me um quarto para eu dormir; o homem da camisa aberta a falar imenso numa rua ladeada de gigantescas árvores cheias de flores vermelhas; o homem que me deixou numa estrada muito movimentada, e partiu com outra mulher no seu carro, muito feliz; o homem de olhos cobertos por imensas pálpebras, que me esperava numa varanda imensa de cujo beiral caía chuva; a mulher que me deixou no rio, sozinha, porque se lembrou que tinha de fazer um eletrocardiograma (ahahahahahahah); o recepcionista do hotelzinho na FF, muito magro e de cabelo muito fininho, que me transporta em braços para o meu quarto, subindo, a correr, uma altíssima escada em forma de caracol, etc., etc.. Como eu gosto desta gente. Como eu tenho saudades desta gente. Onde é que eu a encontro?
Já os lugares a que me desloco, enquanto durmo, têm sido mais fáceis de encontrar. Pelos vistos, eu e Beksinski frequentamos os mesmos lugares.
A propósito, o especialista em espiritismo disse que os sonhos a preto e branco são reais e os outros são a cores, ou vice-versa, ou nem uma coisa nem outra…
B. sonha a preto e branco e também a cores. Eu já sonhei a cores o que B. sonha a preto e branco. Por isso, acrescentei pétalas vermelhas… aos sonhos dele, pretos, que eu tive a cores.
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