Friday, August 24, 2018

Os Nossos Veneráveis Pesadelos



Beksinski vai buscar inspiração aos seus pesadelos.
Hoje, ouvi um especialista em espiritismos dizer uma coisa interessante acerca dos sonhos. Dizia ele que nós continuamos a viver enquanto dormimos. Certo. Acrescentou que os sonhos são uma espécie de registo da nossa vivência nocturna. Implícito estava o facto de serem reais, do ponto de vista onírico, digamos, as pessoas e as situações dos sonhos. São vivências, extraordinárias, penso eu, e diferentes das do dia-a-dia, dado que nos sonhos o nosso corpo é imaterial. Isto sou eu já a interpretar. Mais, dizia o especialista, de forma muito articulada, a sensação de déjà-vu não é mais do que a validação de que em sonhos já conhecemos essa pessoa. Por isso nos parece já tê-la visto. E vimos. Em sonhos. E contou um episódio em que, indo ele na rua com a mulher, de repente vê alguém que lhe deu a sensação de conhecer. Essa pessoa olha para ele e reconhece-o, também. Aproximam-se e cumprimentam-se, cúmplices. Tinham estado juntos num sonho.
Foi a coisa mais linda, mais sublime, que ouvi em muito tempo. Quem me dera conhecer os meus companheiros de sonhos: o homem que me oferece café incessantemente, enquanto eu procuro uma casa; uma mulher muito velha adormecida a uma mesa de café, na noite, com um gato adormecido no colo; as centenas de pessoas de cabeça tapada que compartilharam comigo, numa pensão, uma mesma cama gigante e em crescimento contínuo;  o homem do canavial que me procurava e a quem eu procurava também e que, de tanto andarmos à roda, no meio das canas, para nos encontrarmos, sem o conseguir, se transformou numa roçadeira eléctrica e desapareceu no ar; a A, na sua grande casa; a I, na sua cave das janelas grandes; a X, muito velha e redonda, a indicar-me um quarto para eu dormir; o homem da camisa aberta a falar imenso numa rua ladeada de gigantescas árvores cheias de flores vermelhas; o homem que me deixou numa estrada muito movimentada, e partiu com outra mulher no seu carro, muito feliz; o homem de olhos cobertos por imensas pálpebras, que me esperava numa varanda imensa de cujo beiral caía chuva; a mulher que me deixou no rio, sozinha, porque se lembrou que tinha de fazer um eletrocardiograma (ahahahahahahah); o recepcionista do hotelzinho na FF, muito magro e de cabelo muito fininho, que me transporta em braços para o meu quarto, subindo, a correr, uma altíssima escada em forma de caracol, etc., etc.. Como eu gosto desta gente. Como eu tenho saudades desta gente. Onde é que eu a encontro?
Já os lugares a que me desloco, enquanto durmo, têm sido mais fáceis de encontrar. Pelos vistos, eu e Beksinski frequentamos os mesmos lugares.
A propósito, o especialista em espiritismo disse que os sonhos a preto e branco são reais e os outros são a cores, ou vice-versa, ou nem uma coisa nem outra…
B. sonha a preto e branco e também a cores. Eu já sonhei a cores o que B. sonha a preto e branco. Por isso, acrescentei pétalas vermelhas… aos sonhos dele, pretos, que eu tive a cores.



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