Monday, September 19, 2016

A maldade


A Internet, mais propriamente o Facebook, é uma fonte inesgotável de grotesco. Falo dos comentários dos internautas. O discurso do ódio, da raiva, da inveja e o recurso ao insulto mais rasteiro são endémicos. Mas há gente muito compreensiva. Estranhamente compreensiva. Há dias, se calhar ontem, li uma notícia macabra: uma mãe, porque queria assistir a um homicídio, contratou um executante e pôs no cadafalso a própria filha, uma criança. À sua frente, a menina foi violada, torturada e morta. Depois, ambos, mãe e executante/homicida, desmembraram a criança numa banheira. os comentários eram, de um modo geral (e bem), de horror, e de desejo de que todas as pragas do Egipto caíssem (e bem) na cabeça e noutras partes do corpo dos dois facínoras. Pois bem, nisto, vem um ser bem-pensante pôr os pontos nos is. Indignado, diz que a notícia era apenas mais uma história sensacionalista, pois apenas dava conta dos factos, sem se importar em questionar e compreender o que tinha levado a mãe a ter um comportamento daqueles. Claro que o psicólogo de esplanada foi insultado (e bem) de tudo o que é mau e ruim até à quinta geração (ou mais). Há que compreender!?
Numa cena memorável da série CSI, apanhado o assassino, autor dos mais bárbaros crimes, este, num tipo de cena muito comum deste género televisivo, pergunta ao Inspector: «Quer saber por que razão é que eu fiz isto?»  Lembro, antes de dar a resposta, que geralmente o mal-feitor aproveita para despejar uma ladainha do tipo "ninguém gostava de mim, os meus pais eram umas bestas, os meus professores idem, etc.", tentando passar a mensagem de que não há homens (e mulheres, naturalmente) maus, é a sociedade e a família e a educação, entre outros, que geram os monstros. Não quero problematizar esta premissa, mas não a acho de todo, em tese, válida para todos os casos de violência. Voltando ao CSI, após a pergunta do assassino, eu, sem pachorra, preparava-me para mudar de canal, pois não estava disponível para a supra-citada ladainha, quando a resposta me surpreende agradavelmente. O Inspector diz: «Eu sei por que razão você fez isto. É porque vocé é mau!» E o episódio termina (e bem).  
A maldade existe e é largamente praticada: há que não esquecê-lo!

Imagem: http://www.imprevisivel.com/2013/06/a-arte-sombria-de-zdzislaw-beksinski.html, consultado em 19 de Setembro, 2016
.

No comments: