O passado é um pilar simbólico que nos sustenta. É povoado
de coisas e gentes. Nele habitam luzes, pequenas clareiras de felicidade e
desertos enormes de grande tédio e pequenos e médios desencontros. Partes do
passado já não o são. Integram o espaço virtual do esquecimento. Por vezes
afloram de forma fugidia, mas não passam de pequenos relâmpagos longínquos, que
não produzem som. Nem fúria. Há, porém, partes do passado que queremos que
sejam sempre presente(s). Para tal, procedemos a gigantescos actos de sublimação.
Tal e qual um escultor, vamos tirando tudo o que não nos agrada. E, um dia, ali
está esse passado, essa narrativa com princípio, meio e fim. Tudo belo,
perfeito, inatacável. Arrumamo-lo então, e visitamo-lo quando o presente nos
falha ou nos magoa.
Porém, há sempre um tempo, em que alguém atira uma mão cheia
de areia sobre a nossa estátua, longamente burilada, bela, perfeita...
(quase) destrutível...!
Vulgaridade!
Texto de 02/09/2007
Imagem: https://it.dreamstime.com/fotografie-stock-storia-di-illuminazione-image36481903,
consultado em 7 Janeiro, 2017
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