Sunday, May 09, 2021

Escola, eu te detesto!

 


Foi este o título da crónica de António Guerreiro há duas ou três semanas no Público. Nela, falava da brutalidade dos castigos físicos infligidos aos alunos durante a escola primária. Chega a sugerir que tais professores deveriam ser chamados a responder pela tortura que exerceram sobre os alunos. Para estes, a escola era um espaço hostil, de castigos, de humilhações, de reguadas, de medo. Alguém, nos comentários, entretanto, disse que hoje são os professores, muitos dos quais sobreviventes dessa escola do medo, a serem acossados e torturados. E logo apareceu alguém a dizer que os professores, como os capachos, têm aquilo que merecem: ser pisados. 

É um dos muitos comentadores que se comprazem em apoucar de todas as formas os professores de hoje, e não perdem uma oportunidade de o fazer. Estão sempre de plantão. Como se fosse necessário! O que não falta é quem dentro e fora das portas da escola se encarregue de os maltratar com palavras, actos e omissões. 

Pessoalmente, à minha escola primária digo: detesto-te! À escola secundária, industrial, a muitos professores que lá encontrei, digo: não conseguiste demover-me! Fui mais teimosa! Ao Liceu da Figueira da Foz, digo: estive muito perto de gostar de ti! 

Quanto à "escola instituição" em que trabalho, às suas práticas, a cada dia mais desumanizadas, mais frias, mais cruéis, à "escola instituição" negacionista da violência escolar, só tenho a dizer: detesto-te, escola! Detesto-te até ao fim do mundo. Por comparação, a minha primária, a minha industrial e o meu liceu eram bons! Eu era feliz na escola que frequentei e não sabia. Por comparação, claro! A esta escola com e minúsculo, a escola dos números, das metas, das quotas, da vozearia, da falta de solidariedade, do salve-se quem puder, da violência, da imensa violência, eu digo com António Guerreiro, mas em maiúsculas: ESCOLA, EU TE DETESTO!

Nota: por que motivo não mudo de profissão, como perguntam alguns, que se julgam muito inteligentes por colocarem tal questão? Porque não posso! Porque a escola pode até destruir-me ou levar-me a destruir-me, por não conseguir aguentar nem mais um dia. Mas não morrerei de inanição, debaixo da ponte. Não enquanto continuar a receber o meu ordenado ao fim do mês. Perceberam senhores perguntadores? 

Imagem: https://jornalacoplan.com.br/2020/09/09/pesquisa-revela-como-esta-a-saude-emocional-de-profissionais-da-educacao-basica-na-pandemia/



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