São 02:22 do dia 28 de Maio. Ainda estou acordada e vou continuar mais um bocadinho. Quando o dia acaba - o dia do ressoar daquela garganta, som ominoso e revoltante, e do repentino fechar de portas: o animal a marcar o terreno com os seus dejectos -, quando o dia acaba, dizia, chego a casa e tento retardar o momento de dormir, de perder a consciência de mim. São os momentos do dia em que tento provar que estou viva, que posso estar de olhos bem abertos, alerta, que posso movimentar-me e olhar em redor, porque não há aqui ninguém para além de mim.
Às vezes, penso como seria bom se houvesse um fantasma na minha casa. Há pessoas que desenvolvem grande cumplicidade com os seus fantasmas. O meu telemóvel antigo costuma iluminar-se a despropósito. Claro que é algo normal, mas às vezes penso que alguém está a tentar comunicar comigo. Por vezes digo-lhe: o que é? O que foi? Na semana passada, depois de apagar a luz, no escuro, portanto, já bem tarde, a luz do telemóvel acendeu-se e apagou-se duas vezes seguidas. E eu disse em voz muito alta, dado que estava tudo em silêncio: ESTÁ AÍ ALGUÉM? Não estava. Confesso que fiquei aliviada, porque seria estranho se ouvisse uma resposta. Mas também fiquei muito frustrada, porque não pude estranhar a existência de resposta...
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