Untitled (155) by Zdislav Beksinski (1929-2005, Poland) | Oil Painting Replica Zdislav Beksinski | WahooArt.com
https://www.publico.pt/2021/12/31/opiniao/opiniao/via-lactea-1990359
Quando o telefone toca... heeeeeeeelllllppp!!
Chegou email... aaaiiaiaiaiiiiiiiiiii
À escuta... uuuiiiiiiiii
Enfim só!https://sorisomail.com/partilha/174656.html
https://www.istoedinheiro.com.br/seu-gato-e-um-psicopata-faca-este-teste-online-para-descobrir/
https://www.pethealthnetwork.com/cat-health/cat-behavior/your-cat-secretly-stressed
https://zolina.com.br/2017/05/15/como-saber-se-o-seu-gato-esta-feliz/
Saí. Para ir à farmácia e para pagar contas. Que mais me faria sair? Mas aproveitei a noite. Fria. Um pouco húmida. E com luzes nas janelas dos prédios. Do lado de lá das janelas, pergunto-me, quantos estarão a arrostar com o pesadelo que é a sua vida. Tudo de tromba. O marido mal humorado. Os filhos agarrados aos telemóveis com cara de poucos amigos. As mulheres barra esposas a tentar arrumar a casa. A colocar o lixo debaixo do tapete e as couves na panela da sopa. Alguns estarão à mesa, a comer, com muito pouca vontade de encarar a tromba dos demais.
«Como correu o teu dia?».
«Correu, correu. Se o dia corresse, fazia parte dos maratonistas dos jogos olímpicos.»
«Credo! Só fiz uma pergunta.»
«Pergunta de novela mexicana. Ninguém faz essas perguntas parvas na vida real!»
«Estou a tentar comunicar, para não parecermos múmias à mesa.»
«Eu cá não tenho nada contra as múmias.»
«Fica descansado. Se eu fosse a ti, não ia ao Museu Nacional da Civilização Egípcia. Não te vão confundir...»
«Múmia és tu!!»
E todos perdem o apetite. Depois de já terem comido, claro. Fim.
Eu aproveito e tiro umas fotografias.
Comecei o dia bastante tarde, com café, croissant de cereais e sumo de laranja. Ao almoço, tudo normal, excepto a cerveja sem álcool e a sobremesa de profiteroles com molho de chocolate. Excelente. Não fiz nada. Vi uns filmes, nenhum deles digno de menção. Telefonei à minha mãe três vezes. Depois bebi chá e comi umas coisas: excesso de calorias. Mas são as festas. Depois volto ao regime militar.
O pai Natal trouxe-me muitos perfumes. Eu portei-me bem.
A noite acabou com um banho, seguido de um outro banho: Flower, by Kenzo. Creme, desodorizante e perfume. Adoro.
Vou tentar encontrar um filme que valha a pena e quem sabe ainda vá ao frigorífico, buscar um iogurte grego. Quem sabe... É só para aproveitar a noite. O dia, amanhã, vou desperdiçá-lo a dormir.
“Transportes em Berlim oferecem “bilhete canábis” para combater stress do Natal”
Diário de Notícias, 14/12/2021
«E assim ficámos a saber, por cá, que a direcção da empresa dos Transportes de Berlim está a oferecer aos passageiros bilhetes comestíveis com sabor a óleo de canábis. Um antigo presidente da câmara desta cidade, que também gostava de se exibir como muito sexy, definiu-a uma vez como “pobre mas sexy”. Foi um sucesso, não havia berlinense que não se sentisse orgulhoso dessa pobreza tão sedutora. Tradições de forte liberdade em muitos domínios, incluindo o sexual, não faltam a esta cidade, e este gostinho a canábis distribuído nos transportes públicos é uma prova disso. Mas a lição principal deste gesto é outra: o Natal, tal como existe, é uma corveia que faz sofrer, um obstáculo que é preciso ultrapassar, eventualmente com ajuda de fármacos. Quanto à consciência desta condição, um dia seremos todos berlinenses.»
https://www.publico.pt/2021/12/17/culturaipsilon/cronica/lingua-proprietarios-1988695, o sublinhado é me
https://www.noticiasaominuto.com/pais/1876901/luzes-de-natal-ja-iluminam-lisboa
Run for your lives!
Eu gosto ou gostava de literatura
surrealista, mas o surrealismo saiu das páginas da literatura e anda à solta na
rua. Os negacionistas disto e daquilo, por exemplo. Há quem acredite mesmo que
não há pandemia nenhuma e que isto é tudo uma manobra para impor uma ditadura
global. Ou coisa que o valha. E que essa
ditadura global tem a ver com pedófilos comunistas que querem apanhar
criancinhas. Anda para aí gente aterrorizada com globalistas e comunistas, sem
máscara, oferecendo os orifícios ao vírus, e clamando contra a ditadura. A
ditadura? Parece que os nossos políticos querem impor-nos uma ditadura,
tirando-nos a liberdade de nos divertirmos e nos esfregarmos uns nos outros,
com o pretexto de que anda para aí um vírus. Que ninguém viu. Não anda para aí
nada. É a gripe! E as vacinas? Transformam as pessoas em jacarés. Na Índia, vi
eu uns homens de barba cobrirem-se de bosta de vaca, no combate ao vírus. Porque
a ciência quer impingir-nos vacinas para se encher de dinheiro. Já a caca de
vaca é grátis e cura. Disse-o um curandeiro. Por isso é verdade. No Brasil, um
pastor evangélico não vai tão longe. Fica-se pelo feijão, que vende ao incauto
rebanho, para o proteger da pandemia, não vá dar-se o caso de ela existir
mesmo. Entretanto, anda para aí, também, uma pandemia de ressurreições.
Admiradores de Trump rumaram a Dallas, onde esperaram pela ressurreição de John
Kennedy. Depois de horas e horas de espera, alguns foram-se embora convencidos de que se enganaram na data. Mas outros parece que continuam lá, à espera dele. No Brasil, por sua vez, um pastor evangélico deixou disposições
para que o seu corpo não fosse autopsiado ou tratado na funerária, porque ele
ressuscitaria três dias após a sua morte e qualquer intervenção poderia levar à
falência deste desiderato. Bem. Ele entretanto morreu e, como requerido,
depositaram-no na urna intacto. Como após três dia não havia indícios de
ressurreição, os agentes funerários levaram-no para o cemitério, seguidos de um
vetusto cortejo que clamava pela manutenção do corpo até ao seu ressurgimento
para a vida. Chegados junto à cova, os fiéis queriam que os coveiros abrissem o caixão. Mas os coveiros, que conhecem o conceito de decomposição, recusaram. Isto embora o pastor tivesse assegurado, em vida, que o seu corpo se manteria intacto e com bom odor. E foi ao som de «abram, abram, abram» que os coveiros desceram o caixão à cova. Acrescento que a funerária foi, entretanto, processada por não ter preparado o corpo. Enfim!
Ora eu, que pensava que todo o enredo de Tubarão 2000 era um disparate pegado - no bom sentido -, começo a rever conceitos. Vejamos, será assim tão estranho que uma seita, que pretendia abrir um lucrativo negócio de próteses penianas, tivesse colocado uma cerca eletrificada na zona onde os estudantes, durante a queima das fitas, iam fazer xixi, com o propósito de que os ditos estudantes ficassem com as pilas esturricadas e, claro, necessitados de uma reconstrução das flambeadas partes? Não me parece. Não me parece mesmo nada.
https://ifunny.co/picture/qanon-supporters-gather-in-downtown-dallas-expecting-jfk-jr-to-9LmLUij39, em 2 de Novembro, 2021
O DN fez uma reportagem sobre o impacto da exposição pandémica, por parte das crianças, a youtubers brasileiros. Os pimpolhos, para horror dos pais - que aliás se horrorizam com tudo: com as aulas online, com a disciplina de Cidadania, com os confinamentos, as zaragatoas, as vacinas, enfim, tudo -, para horror dos pais, repito, desataram a falar uma língua inexistente: o brasileiro! O brasileiro, senhores! A ignorância conhece sobretudo coisas que não existem, posto que têm horror à realidade. E o que é o brasileiro? Segundo as asininas criaturas, é a língua que se fala no Brasil, uma espécie de português cheio de erros e pronúncia assaz patusca. Alguns pais estão, inclusive, a levar a prole à terapia da fala, não vão as crianças ficar com lesões crónicas no aparelho fonador. Claro que uma professora de linguística, se não estou em erro, pôs o assunto em perspectiva, mas o que ficou foi o horror, o choque e o pânico por parte dos progenitores. E, do outro lado do Atlântico, passo o lugar-comum, alguns youtubers atiraram-se ávidos às canelas dos portugueses e encheram-nos de nomes e reivindicações:
- Xenófobos
- O único país onde sofri de xenofobia e não foi pouca
- São uns preconceituosos
- Têm a mania que são os melhores. Uma tia minha, portuguesa, estava sempre a dizer, o nosso vinho é o melhor. Claro, bem pode gabar o vinho, não produzem mais nada....
- Eles é que falam mal o português
- Kkkkkkkkkk, tomem, colonização ao contrário
- Vamos mas é chamar brasileiro à nossa língua, e deixá-los a eles a falar português, para serem como os búlgaros. Ninguém mais fala a língua deles. Saem logo do mapa.
- Eles sabem de tudo o que se passa aqui, deve ser porque pensam « o Brasil é nosso, temos que ver o que lá se passa... »
- Uma professora de História que tive dizia sempre: fomos colonizados pelo país mais "fudido" da Europa
- Ainda se tem sido a Espanha, a Inglaterra ou a Holanda a descobrirem-nos
- Para eles, os brasileiros são putas, veados ou ladrões
- Devolvam o nosso ouro!!
- E o nosso ouro?
- Queremos o nosso ouro de volta!
- São uns antiquados
- Se os filhos falassem inglês já não se importavam
etc., etc. Também houve quem tivesse falado de forma assisada e usado argumentos válidos. Mas isso agora não interessa nada, como dizia a outra.
O que é que eu penso? Compreendo que os pais corrijam os filhos, que são novos, e lhes expliquem que há duas normas de português, devendo eles aprender a norma europeia. Sem pânico! Deus sabe o que eu gosto de dizer que o X é muito "espaçoso", e que me quer "tirar uma casquinha". Eu própria tirei uma casquinha a um colega afro, no mestrado, para lhe ensinar o que é tirar uma casquinha. Mais, é verdade que para muitos portugueses o "brasileiro" não é português correcto, o que me irrita solenemente. É de uma ignorância linguística atroz. Mas daí a pintarem-nos como um povo xenófobo e que vê os brasileiros como pessoas de segunda ou, pior, como "putas, veados e ladrões"!!!!
Resta-me dizer o que me disse uma vez um energúmeno: ponham mais tabaco naquilo que andam a fumar!!
E, para não deixar os créditos por mãos alheias, acrescento ainda o que se segue. Razão tinha Umberto Eco: a Internet veio dar voz aos tontinhos da aldeia. Ora, os tontinhos da aldeia deviam estar a fazer o seu espalhafato na tasca, enquanto apanham, pinguços que são, borracheiras épicas. Ou como dizem os lisboetas, enquanto apanham bubas. Grandes bubas!
Para os menos letrados, esclareço que buba é a forma curta de "bubadeira", segundo me explicaram.
Mas este bom dia que me leva a escrever não é sequer dirigido a mim, é à direção de uma instituição, que mereceria outo respeito e formalidade. O conteúdo, como expectável, conduz com o bom dia: pobreza franciscana.
Há uns tempos o Miguel Esteves Cardoso escrevia uma coisa também a este propósito. No caso, vindo de mestrandos ou doutorandos a pedir colaboração no preenchimento de inquéritos. E concluía que, com tal sem cerimónia, apetecia era mandar os ditos para aulas de decoro e polimento. As palavras são minhas. De facto, como dizia Vasco Pulido Valente, o mundo está um lugar perigoso.
Tão cedo desta vida...
Se os fantasmas existem, vem, no Natal, visitar quem não pode saber que partiste.
Dois piolhos...
estavam na cabeça de um careca. Diz um: «vamos sair daqui, que é muito escorregadio.»
O Joãozinho...
chegou a casa todo molhado. Perguntou a mãe: «porque é que estás todo molhado?» Responde o Joãozinho: «porque estivemos a jogar aos cãezinhos, na escola.» Pergunta a mãe: «mas como é que te molhaste??». Diz o Joãozinho: «eu fiz de poste.»
Foi um dia de muita chuva. Tive de andar de um lado para o outro. Teste aqui, reunião ali. O pior é a gente, é o ter de funcionar com os outros. Dou por mim a falar muito alegre e descontraída, enquanto interiormente me pergunto: estás a rir de quê? Sei lá. É o hábito.
Vesti a minha gabardina preta, linda, para me proteger da chuva. Mas não estava frio. E todo o dia senti um fresco desagradável que acontece quando se está parado, durante longuíssimos minutos - 90? - e se sente calor, mas não se pode tirar a roupa, porque o tempo está, como se costuma erradamente dizer, desagradável. Entretanto, acabou o dia, isto é, as obrigações, os compromissos. E cheguei a casa. Aproveitei para distender a cara. Estender, até, para apagar os vestígios de riso despropositado. Fui retornando à normalidade. Mas demorou tempo. Talvez porque fiquei a ponderar formas de acabar de vez com isto... Não ter mais necessidade de fazer de conta, de ouvir coisas sem sentido, coisas que me enervam, que me provocam indignação...
Queria ter feito coisas, mas estava paralisada. E pensativa. Tornou-se tarde para tudo, excepto para ir para a cama, o sítio a que desejo voltar, desesperadamente, durante o dia todo. Finalmente cheguei. Para sentir o calor de que senti falta o dia inteiro, pus uma coberta branca e fofinha na minha cama. Ficou tudo muito lindo. Com sorte, conseguirei sintonizar pensamentos bons: todos os que me afastem da realidade. Oxalá!
Imagem: retirada algures de um jornal. É a fotografia, recente, de um casal que se protegeu da chuva debaixo do chapéu desta escultura admirável. Por vezes, olho para o espaço entre o braço forte e decidido de um homem e o seu casaco, um sítio quente e oculto, quase um túnel, e tenho vontade de entrar ali e ficar lá...
O nosso ano começa em setembro. «Bom ano!», «Igualmente, obrigada.». A cerveja já está guardada para algum dia feriado, ou algum dia de "quero lá saber". É mais dor de cabeça, menos dor de cabeça. Há que comer frutas e verduras, se bem que, como cortei com os doces - oh! -, tive que me "consolar" com fruta. Tirando umas uvas, que não eram nada más, as laranjas ou eram ácidas ou estavam secas. As ameixas moles, farinhentas ou sem qualquer sabor! As bananas, envolvi-as em papel alumínio, para retardar o amadurecimento e, quando fui abri-las, estavam cozidas. Minto: duas mumificaram e enegreceram. Estavam duríssimas. As cerejas, uma era boa e a outra era incomível. Foi uma luta insana para meter uma ou outra vitamina no organismo. Creio que incrementei as minhas rugas de expressão, devido à procissão de caretas provocadas pela infeliz ingestão dos supracitados frutos.
Para aligeirar a necessidade de bolachas - e que necessidade! - comprei palitos la reine. Ninguém em seu perfeito juízo tem vontade de enfardar um pacote inteiros de palitos. Mais rapidamente me atiro ao açucareiro munida de uma colher. Já de bolachas Milka... é melhor nem comentar. E os bolos de Tentugal? Mas por que razão é que eu comia a caixa inteira? Porquê seis de seguida, senhores? Tenho, sem dúvida, de praticar a frugalidade!
Ah! O momento alto do dia é o do iogurte, aí por volta da meia-noite... Need I say more?
JUIZ: levante-se o réu!
RÉU: Eu?
JUIZ: É o réu?
RÉU: Posso ser. Já que ninguém se levanta…
JUIZ: Como se declara?
RÉU: Em que sentido, meritíssimo?
JUIZ: Inocente ou culpado?
RÉU: Inocente!
ASSISTENTE: Mentira! Culpado e bem culpado. Forneceu-me todos os seus materiais de trabalho e está a fazer o trabalho que me pertence a mim e que eu não tenho nenhuma vontade de fazer. Disse!
JUIZ: Isto é verdade, senhor réu?
RÉU: É. Eu dei-lhe tudo porque ele me pediu.
JUIZ: Confessa, então.
RÉU: Isto confesso, mas…
ASSISTENTE: Pôs-se a ler aquilo que me cabia a mim, mas que eu não tinha vontade de ler, pondo assim a seriedade de tudo em causa. Eu até lhe disse que aquilo era tudo muito difícil e incompreensível, que ninguém conseguia compreender. Mas ele fez orelhas moucas.
RÉU: Aquilo não era difícil, o assistente é que não deve muito à inteligência. Ah! E foi ele TAMBÉM, repito, TAMBÉM que sugeriu que eu lesse. Só que quando ele viu que eu ia mesmo ler… aí começou a dizer que ninguém entendia.
JUIZ: Que descaro! Olha como ele confessa o crime de que é acusado. Levante-se a sombra.
Sombra: Levantada e pronta, meritíssimo.
JUIZ: O que tem a dizer?
SOMBRA: Tenho a dizer que o réu é muito espaçoso, como dizem os brasileiros. Todo lampeiro e alapado na papelada, para fazer um belo relatório, digo eu, que nunca me engano.
ASSISTENTE: Precisamente. Não só ia começar a deslindar aquela maçada, como me ia obrigar a mim a mexer-me também. E a minha amada sombrinha… – com voz embargada – não adoeças, sombrinha, senão eu meto atestado.
Sombra: Oh... assistentezinho... assistentinho...
RÉU: Mas o relatório tem só uma página.
JUIZ: Não quero diálogo e maricadas no tribunal.
ASSISTENTE: Foi uma brincadeira. Ninguém acredita que eu ia adoecer.
RÉU: Desculpe, mas que raio está a dizer? Quem falou em doenças?
JUIZ: Caluda, meus senhores. Voltemos à vaca fria. Que mais fez?
RÉU: Quem, eu?
ASSISTENTE: Quem mais havia de ser? Sonso!
RÉU: Sonso é você!
– Martelada forte perpetrada pelo juiz irado –
RÉU: Aiiiii…
ASSISTENTE: Aiiiiiii
SOMBRA: Aiiiiiiiiii
JUIZ: Aiiiiiiii
RÉU: Eu fiz tudo o que me tinha sido pedido para eu fazer. Isto é, fiz trabalho que não me pertencia. Que pelos vistos não pertencia a ninguém, aliás…
Assistente: Se você se fizesse de morto, ainda hoje estávamos no belo ripanço.
RÉU: Mas já se tinha falado abundantemente de gastronomia e dietas…
ASSISTENTE: Esse falador de dietas e alimentos é outro abelhudo e incompetente que devia estar com os ossos no tribunal.
SOMBRA: E amigo do nosso inimigo, ainda por cima.
ASSISTENTE: O nosso inimigo que tem coisa com o Belzebu… sempre na converseta. E o réu também!
SOMBRA: Nem mais. Sempre na converseta com o nosso inimigo. Mas no outro dia rimo-nos todos do nosso inimigo. Até o réu…
RÉU: Culpado! Mas não me ri, sorri apenas. Já o assistente até ia caindo da cadeira com a risota. Que grande brincalhão! Quem diria, tão santanário, tão simpático, tão falinhas-mansas e olha…
JUIZ: Ordem! O que fez com o inimigo?
RÉU: Nada.
ASSISTENTE: Mentira. Falou com ele, ajudou-o, cumprimentou-o, tratou-o como gente. Mesmo depois daquilo do mel… e da sua figura com um saco cheio de gelo.
SOMBRA: Ahahahahaah. Desculpe meritíssimo, mas o réu fez uma fraca figura, quando apareceu no sítio com um saco com gelo e não havia nada para congelar.
ASSISTENTE: Ahahahaahahah. Peço desculpa.
JUIZ: O réu falava com o inimigo? Como se atreve?
RÉU: mas se estamos todos no mesmo barco… somos uma tripulação.
ASSISTENTE: Até foi trabalhar para ele, o Belzebu, armado em grande intelectual. É como diz o outro, o poeta: pois se até tu tiraste o título!
JUIZ: Não se desviem do assunto! Que título é esse?
ASSISTENTE: É o título académico.
JUIZ: Como assim?
ASSISTENTE: Os títulos é que lhes dão a volta ao miolo.
SOMBRA: É como eu sempre digo: sobe-lhes o título à cabeça.
JUIZ: Voltemos à vaca, ou melhor, ao boi.
RÉU: Boi?
ASSISTENTE: Boi, sim, sempre a ruminar, sempre a ruminar.
RÉU: Mas eu só sigo ordens. Eu só cumpro metas… já que a assistente e a sombra só encanam a perna à rã, há que dizê-lo…
ASSISTENTE: Protesto, meritíssimo, também roçamos o traseiro pelas esquinas!!
JUIZ: Peço ao réu que não insulte o assistente.
RÉU: Hein??
JUIZ: É verdade que leu toda a papelada?
RÉU: Mas nin…
JUIZ: Responda à pergunta, não tergiverse.
RÉU: Sim… ninguém mais ..
JUIZ: Cale-se!!
RÉU: LEU… leu… desculpe…leu.
JUIZ: É verdade que partilhou todos os seus materiais com o assistente e a sombra?
RÉU: Eles pediram…
- Martelada perpetrada pelo juiz irado -
RÉU: Aiiiiiiiiii… pediram…. SIM!
ASSISTENTE: Aiiiiiiiiiiiiii desrespeito pelo tribunal…
SOMBRA: Aiiiiiiiii sempre armada em chapéu-de-sol sem
JUIZ: Aiiiiiii caluda!!!!!
SOMBRA: …varetas…. Caluda… caludinha…
JUIZ: É verdade que preparou a papinha toda para a assistente comer?
RÉU: É. Ela gosta DE COMER.
ASSISTENTE: Comer é viver!! Se não sabia, fica a saber. Mas eu não lhe pedi para me fazer a papa.
RÉU: Pediu, sim. Pediu, sim.
ASSISTENTE: Pedi, mas não era para você fazer… era para fazer de conta!
SOMBRA: Nem mais! Fazer de conta, seguindo o belo exemplo da nossa bela assistente, que, repito, que nunca faz nada. NADINHA!
ASSISTENTE: Não te canses, sombrinha, olha teus pulmões…
JUIZ: Silêncio, meus senhores, silêncio. Deixem-me trabalhar! Deixem-me trabalhar!
RÉU: Faça de conta que trabalha, meritíssimo. Siga o exemplo da assistente, que nunca faz nada. NADINHA. A calaceira.
JUIZ: Ah, então chama à assistente calaceira. Verdade?
RÉU: Verdade!
JUIZ: E você, é calaceira?
RÉU: Não, senhor juiz. Não sou!
JUIZ: Então confessa...
RÉU: Eu sou trabalhadeira… lhadora.
JUIZ: Condenada! Fechada a audiência. Andor!
ASSISTENTE: Ganhámos, sombrinha. Deixa-me estreitar-te contra meu peito.
SOMBRA: Estreita… estreita.
imagem: https://wonderfulverse.tumblr.com/post/173926419463/zdzislaw-beksinski, em 8 de setembro, 2021
A minha coisa preferida são as férias. Dentro das férias, a minha coisa favorita é acordar tarde, passar a tarde - o que resta dela - no meu quarto, com a cortina preta estrategicamente fechada, a ver filmes, ouvir palestras, etc., etc. De seguida, gosto de me deitar cedo e estar até tarde, noite dentro, a ler, escrever e ver coisas no YouTube.
Proeza: não saí de casa uma única vez - tão bom! - a não ser de noite, para depositar o lixo nos contentores - tão mau!
Parte desagradável: fiz limpezas, lavei paredes, reboquei mal e porcamente uma parede e pintei, também, mas não tudo - nem um décimo do que devia.
PS: sim, enfrasquei-me, mas a cerveja é sem álcool... com grande pena minha. Porém, dado que estive grande parte do tempo na horizontal, juntar álcool tornaria a verticalidade impossível. Pior: teria de rastejar em busca da bebida. E seria muito deprimente. Ora, a verdade é que a palavra deprimente não faz parte do meu vocabulário. Goes without saying!
Reuni uma dúzia de lemas enunciados por várias personalidades, que responderam ao Questionário de Proust. Eis:
1- Nunca desistir.
2- Dos fracos não reza a história!
3- O mesmo de Churchill: “Never give in, never give in, never, never, never, never—in nothing, great or small, large or petty—never give in except to convictions of honour and good sense. Never yield to force; never yield to the apparently overwhelming might of the enemy.”
4- Ama as rosas e desvaloriza os espinhos.
5- Não me levar demasiado a sério.
6- Serve, serve, serve e aprende, sempre e em todas as situações.
7- Viver com ética, fazer a diferença.
8- Vai correr bem …
9- "Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”.
10- Saúde e Fraternidade.
11- Nunca sejas irrevogável.
12- Uma frase de Gracie Allen diz tudo : “Nunca ponhas um ponto final onde Deus pôs uma vírgula”. Há sempre tanto, tanto para fazer!!!
Que lesmas, senhores, que lesmas. Quer dizer, que lemas!!
No Verão, é hábito fazer o
questionário de Proust a um conjunto “alargado de personalidades”, que se desdobram em respostas assaz
interessantes. Se a minha preguiça não fosse endémica, faria uma recolha de
todas as respostas e personalidades e tiraria conclusões. Do que li, no site
que coloco no final deste texto, Marcel Proust respondeu a este questionário, um
«conjunto de perguntas de autoconhecimento», tendo o questionário passado a ser
conhecido como Questionário de Proust.
Coloco o questionário e as
resposta do escritor que procurou o tempo perdido... e coloco as minhas
próprias respostas.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Conheça as questões (e o que
Proust respondeu para cada uma delas)
1- Qual o principal aspecto de
sua personalidade?
“A necessidade de ser amado;
mais precisamente, a necessidade de ser acarinhado e mimado, muito maior do que
a de ser admirado”
A generosidade. Mas, pegando
nas palavras de Proust, a necessidade de ser admirada, muito mais que ser amada
ou mimada.
2- Qual sua qualidade favorita
num homem?
“Qualidades masculinas e
sinceridade na amizade”
A capacidade de estar ao lado (não
em cima!!), de acompanhar, ser cúmplice.
3- Qual sua qualidade favorita
numa mulher?
“Charmes femininos”
Que não aborreça de morte os
outros com a narrativa da sua gravidez e parto. Quando as mulheres se põem a
falar da sua experiência da maternidade, é de fugir.
4- O que mais aprecia nos
amigos?
“Ter carinho por mim, se sua
personalidade for incrível o suficiente para deixar seu carinho ainda mais
valioso”
Ter carinho por mim. E admiração. Eu gosto de deixar o outro banzado
com as minhas proezas...
5- Qual seu principal defeito?
“Não saber e não conseguir
‘querer’ algo”
Não conseguir alcançar nada. Deixar
tudo fugir...
6- Qual seu passatempo
favorito?
“Amar”
Fechar-me no meu quarto e ler,
escrever, ver filmes...
7- Qual sua noção de
felicidade?
“Acho que ela não é incrível o
suficiente. Não tenho coragem de revelá-la, tenho medo de destruí-la só por
contá-la”.
Ser admirada. Hei-de ter,
certamente, qualquer coisa admirável...
8- Qual sua noção de
infelicidade?
“Não ter conhecido minha mãe
ou minha avó”
A invisibilidade. A
irrelevância. Ser esquecível.
9- Se você não fosse você
mesmo, quem seria?
“Eu mesmo, que é quem as
pessoas que me admiram gostariam que eu fosse”
Alguém que já morreu e,
portanto, já não pensa em felicidade ou infelicidade. Alguém que já é ninguém.
10- Onde gostaria de morar?
“Num país onde certas coisas
de que eu gostasse se tornariam realidade como num passe de mágica, e onde
carinho sempre seria retribuído”.
Faço minhas as palavras de
Proust.
11- Qual sua cor favorita?
“A beleza não está nas cores,
mas na harmonia entre elas”.
O amarelo.
12- Qual seu escritor
favorito?
“Atualmente, Anatole France e
Pierre Loti”
Gabriel Garcia Marquez.
13- Qual seu poeta favorito?
“Baudelaire e Alfred de Vigny”
Não gosto de poesia. Gosto
apenas de alguns poemas.
14- Qual seu herói favorito na
ficção?
“Hamlet”
Mr Darcy?
15- Qual sua heroína favorita
na ficção?
“Berenice”
Jane Eyre?
16- Quais seus pintores e
compositores favoritos?
“Leonardo da Vinci, Rembrandt,
Beethoven, Wagner e Schumann”
Zdzisław Beksiński; Béla
Bartók, György Ligeti.
17- Quais seus heróis na vida
real?
“Sr. Darlu e sr. Boutroux”
Aqueles que partilham os meus
gostos no YouTube, com os quais falo e
dos quais necessito. Os meus amigos.
18- Qual sua figura feminina
favorita na história?
“Cleópatra”
A mulher anónima, ao longo da
História, que contribuiu muito para o seu tempo, mas que ninguém viu. Ninguém
se deu sequer conta da sua existência.
19- Quais seus nomes
favoritos?
“Só tenho um por vez”
Hein?
20- O que você mais odeia?
“O que é ruim em mim”
A ingratidão.
21- Quais as figuras
históricas que você mais odeia?
“Não sou instruído o
suficiente para responder”
Faço minhas as palavras de
Proust. Porém, o que não falta hoje são
figuras odiosas que ficarão na História.
22- Qual o evento militar que
você mais admira?
“Meu serviço militar!”
Houve há pouco um evento
militar que eu admirei, digamos, porque confundi com um desfile carnavalesco...
mas com muito mais fumo e carros alegóricos mais decrépitos...
23- Qual o talento natural que
você gostaria de ter?
“Força de vontade e capacidade
de sedução”
Faço minhas as palavras de
Proust.
24- Como você gostaria de
morrer?
“Evoluído e amado”
De repente. Sem sentir. Não
acordar.
25- Qual é seu estado mental
atual?
“Entediado por ter pensado
sobre mim mesmo para responder a essas perguntas”
Entediada, como é hábito.
26- Por qual defeito você tem
menos tolerância?
“Aqueles que compreendo”
Volubilidade. O chamado
catavento. A toxicidade humana.
27- Qual seu lema favorito?
“Eu deveria ter medo demais
para me causar desgraças”
Já que não podes com eles,
mantem-te o mais distante possível.
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-o-questionario-proust/,
consultado em 27 de Agoato, 2021
The Perfect Enemy. Em inglês, este inimigo pode ser uma inimiga. A palavra não tem género. Em português, contudo, o masculino engloba frequentemente o feminino. Dizer tenho dois irmãos, não quer dizer que sejam os dois homens, mas um é, de certeza. Os meus tios, o casal, incluem também a minha tia. Em português, os meus pais incluem a minha mãe. Etc. O inglês é especialmente eficaz no que toca ao mistério, ao suspense. The enemy? Quem será?
Depois de dias e dias a evitar filmes que não fossem de mero entretenimento, encontro um filme que não se percebe de imediato que é um filme excepcional. E, quando se percebe, já não se consegue voltar atrás. E é assim que, sem querer, mas sem querer mesmo, encontro um dos melhores filmes da minha vida. Um thriller psicológico. Mais, com uma incursão pelo Cemitério do Père Lachaise, duma beleza quase sobrenatural.
Começou a contagem decrescente...
Hoje, para além de ter estado ao telefone com a minha mãe seis vezes, a última das quais às dez da noite, aproveitei para ficar na minha cama. Vi filmes, li e fiquei no meu quartinho, devidamente resguardado do exterior através de cortinas pretas, sempre fechadas. Ficarei em modo quarto até ao Domingo. Depois, tenho coisas maçadoras para fazer. Tédio. Depois... depois logo se vê.