Saí. Para ir à farmácia e para pagar contas. Que mais me faria sair? Mas aproveitei a noite. Fria. Um pouco húmida. E com luzes nas janelas dos prédios. Do lado de lá das janelas, pergunto-me, quantos estarão a arrostar com o pesadelo que é a sua vida. Tudo de tromba. O marido mal humorado. Os filhos agarrados aos telemóveis com cara de poucos amigos. As mulheres barra esposas a tentar arrumar a casa. A colocar o lixo debaixo do tapete e as couves na panela da sopa. Alguns estarão à mesa, a comer, com muito pouca vontade de encarar a tromba dos demais.
«Como correu o teu dia?».
«Correu, correu. Se o dia corresse, fazia parte dos maratonistas dos jogos olímpicos.»
«Credo! Só fiz uma pergunta.»
«Pergunta de novela mexicana. Ninguém faz essas perguntas parvas na vida real!»
«Estou a tentar comunicar, para não parecermos múmias à mesa.»
«Eu cá não tenho nada contra as múmias.»
«Fica descansado. Se eu fosse a ti, não ia ao Museu Nacional da Civilização Egípcia. Não te vão confundir...»
«Múmia és tu!!»
E todos perdem o apetite. Depois de já terem comido, claro. Fim.
Eu aproveito e tiro umas fotografias.
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