Hoje passei a tarde a recordar canções dos anos 70, 80 e ainda dos anos 90. Escolhi esta esta para colocar aqui. Ouvi 10cc - I'm Not In Love - YouTube . The Korgis - Everybody's Got To Learn Sometime (HQ) - YouTube. Há boas versões, mas esta é incomparável.
A música é como uma banda sonora da nossa vida. Ouve-se um acorde, uma palavra, a voz que canta e vêm imagens até nós. Imagens de tempos passados, congelados no tempo. Hirtos. E lá estamos nós, no grande ontem, com tudo o que nos trouxe até aqui por viver. A dado momento, de repente, vi-me na aldeia, no tempo em que ela ainda estava como que no fim do mundo. Longe de tudo. Sem caminhos asfaltados. Tudo era terra amarelada.
Estou no meio do caminho sentada numa cadeira de palha, daquelas que se usavam para estar junto à lareira, no inverno. Na cabeça, tenho uma coroa de papel forrado a prata e tenho ainda uma colcha pelos ombros. Teria que idade? 13, 14 anos? Estava a fazer de rainha, claro, no meu trono de palha. Ali estou a anos - muitos - da pessoa que agora está aqui a escrever no teclado halo do meu computador. Naquele tempo, e naquele dia, tinha pessoas à minha volta. Ocupava o centro. Eu era a rainha não sei de quê. Aliás, eu raramente era a personagem principal do que quer que fosse. A não ser dos "filmes de acção". Levava, na escola, pancada de todos os que me quisessem bater. Eu não sabia defender-me. Ou não queria. Ficava parada. A apanhar. Foi assim até um dia um rapaz me ter arrancado, com as unhas de selvagem, um "bife" da cara, na zona das têmporas. Nesse dia a minha mãe mexeu-se, que nunca mais ninguém se atrevesse a bater-me. Fiquei, então, sob a protecção do Rambo da escola: o que dava sova em todos e ganhava sempre. O João! Que nunca me bateu, diga-se. Ele era o terror do sítio, mas respeitava, pelos vistos, quem não se metia com ninguém: eu...
E fui sempre sendo periférica, pela vida fora. Aliás, a minha vida é uma grande caminhada para o deserto... Quem não pode, não consegue, desde os 27 anos, sentar-se a uma mesa e partilhar uma refeição, uma bebida, uma água, com quem quer que seja...
Ainda ouvi outras músicas, claro. Mas fico por aqui. Big Love, de Lindsey Buckingham, não me traz nenhumas memórias. Tenho pena, por um lado, que assim seja. Queria recordar. Ou talvez não. É melhor não ...
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