Wednesday, September 02, 2015

Vou contar-te uma história



Esta noite dormi! Sei-o porque durante alguns momentos tive um sonho daqueles que eu gosto. Não é difícil, eu gosto de todos. Excepto, claro, daqueles em que há gente mesmo, à séria. Cruzes!!

Foi um bocado confuso, é verdade. Mas foi bom. Depois de uma série de andanças sem nexo, eis que estou com um grupo de desconhecidos, em biquíni, discutindo quem vai com quem para a água, tomar banho, logicamente. Estamos pois, junto ao mar, ou ao rio, ou a uma lagoa, ou mesmo lago... posto que a água que esta à nossa frente ora tem horizonte, ora não tem, ora é comprida, ora é redonda. Desde que não fuja, penso, já não é mau. Bom, ponho os olhos num moço bem constituído, mas… como se adivinha… quando chegou à minha vez já só havia uma rapariga para emparceirar comigo! O moço avantajado, perdão, musculado, tinha-se evaporado completamente! That’s the story of my life! Lá fui eu, então, com a outra rapariga – sim, porque eu também era uma rapariga, toda jeitosa, até - tomar banho, quando chegou a minha vez. Informação importante: naquele mar, rio, lagoa, lago, era preso quem estivesse só ou com mais de uma pessoa na água. Adiante. Metemos os pezinhos “no precioso líquido” – momento kitsch, “pardon!” – e verificámos que mal nos cobria o peito do pé. Fomos então andando à procura de um lugar mais fundo, para mergulharmos, mas os lugares fundos fugiam de nós de forma espavorida e assaz irritante. É que nem os tornozelos conseguíamos molhar!  Nisto, encontrámos uma quinta a boiar e pedimos fruta ao fazendeiro, alemão, que disse que teria todo o gosto em falar connosco. E eu disse: «Importa-se de gravar? Assim posso ouvir mais tarde.». Ele ficou entusiasmado. Assim, lá ficou o senhor alemão debaixo de uma macieira a gravar a conversa que estava a ter connosco, enquanto nós continuávamos à procura de um sítio em que a água nos chegasse pelo menos aos joelhos. Acabada a conversa, o senhor deu-nos as cassetes – que não eram poucas – dentro de um saco de plástico, juntamente com uns biscoitos e umas peças de fruta. Agradecemos profusamente. A minha parceira até se desequilibrou de tantas vénias que fez, enquanto, embargada, dizia obrigada, obrigada. Porém, colocou-se-nos logo um grave dilema: como íamos tomar banho, com o saco das oferendas? Começámos, por isso, em busca de uma pedra onde pudéssemos colocar o incómodo carrego. A minha colega, que tinha um pescoço anormalmente longo, tanto o esticou que acabou por avistar ao longe – eu também avistei, aliás, apesar de ter o pescoço curto – uma festa. Uma festa!! Era uma espécie de arraial, mas também havia sardinha assada. Diz logo ela: «E se fossemos lá?». «Nem pensar. Agora que a maré até está a encher…». E responde ela: «É que eu aproveitava e fazia uma TAC.» Como com a saúde não se brinca, só lhe disse, «vai rápido, que ainda me apanham aqui sozinha e me prendem. Ah, e vamos a terra colocar o raio do saco que o estafermo do alemão se lembrou, em má hora, de nos oferecer.» E lá fomos. Colocámos o saquinho junto de uma bicicleta que nos tinha saído numa rifa e ela foi para a festa e eu procurar um sítio para mergulhar, com a promessa de que em quinze minutos estaríamos ambas em terra para irmos… enfim, para algum sítio. Estava a anoitecer e teríamos, certamente, alguém à nossa espera e certamente, também, com alguma preocupação, não fossemos nós afogar-nos naquelas águas profundas. Com tanta sorte, que apanhei uma leva de água, de tal modo, que até fui de escorrega por ali abaixo, toda consolada. Nisto, contudo, sinto o traseiro a derrapar em seco, por cima de umas pedras lascadas, uma coisa horrível. Olhei, já era noite escura, e não se via água em sítio algum. Só pedras e cascalho e restos de neve e uma ponte escura prestes a desabar sobre a minha cabeça. Corri então para terra, com o traseiro a assar, esperando que a minha companheira já estivesse pronta, também, para darmos continuação ao nosso dia/noite. Primeiro contratempo: tinham-nos roubado tudo! Segundo contratempo: a outra estava desaparecida. Chamei: «Palmiiiiiiiiiiiiiiiiira, Palmiiiiiiiiiiiiiiiiiiiira, etc.». Nada. Lá fui sozinha - é a minha sina – pela noite adiante e pela festa longínqua adiante, sob uma luz amarela e um cheiro de sardinha assada de morrer… e chorar por mais.  
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