Saturday, December 19, 2015

Bronski Beat - Smalltown Boy ORIGINAL VIDEO









Linda canção dos anos 80, para ouvir ao fim do dia, enquanto espero pelo Governo Sombra, a companhia do Sábado à noite, quando o Domingo começa.

Terminei a minha sessão de chá, livros e música, encostada às almofadas da minha cama grande, linda e branca.

Saturday, December 05, 2015

Brega





Morreu Marília Pêra, a minha actriz favorita! Descansa em paz e obrigada pela companhia, o riso e a felicidade que me proporcionaste!

Tuesday, November 17, 2015

Jane Eyre





J.E. é uma das personagens mais fascinantes dos romances que li. Há momentos, no livro com o nome desta personagem, que considero absolutamente geniais. Exemplifico: Jane, com 10 anos, tem o seguinte diálogo com um severo e falso, claro, moralista:

Mr. B: Do you know where the wicked go after death?/ Sabes para onde vão os malvados quando morrem?

J.E: They go to hell./ Vão para o inferno

Mr. B: And what is hell? Can you tell me that? / E o que é o inferno? Sabes responder-me?

J.E: A pit full of fire./ Um poço cheio de fogo.

Mr. B: And should you like to fall into that pit, and to be burning there for ever?/ E gostavas de cair nesse poço e ficar lá a arder para todo o sempre?

J.E: No, sir. / Não, Senhor.

Mr. B: What must you do to avoid it? / O que deves fazer para evitá-lo?

J.E: I must keep in good health, and not die. / Devo manter-me saudável, para não morrer.

(adaptado e traduzido por mim).




Monday, November 09, 2015

A Single Man (Soundtrack) - 16 And Just Like That





Para ti, em nome de todos os professores e colegas que não te puderam acompanhar... Também não poderiam, não é?



Enjoy!

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Adeus Pedro



Ainda era tão cedo ... Descansa em paz!

Thursday, November 05, 2015

O Homem Que era Quinta-Feira



«– Existe a sua ordem preciosa, esse candeeiro esguio de ferro, feio e estéril, e existe anarquia, luxuriante, viva, que se reproduz a si própria; existe anarquia, magnífica em verde e dourado.

– Ainda assim – respondeu Syme pacientemente –, neste momento, você só vê a árvore à luz do candeeiro. Pergunto-me se algum dia conseguirá ver o candeeiro à luz da árvore.»

 G. K. Chesterton, O Homem Que Era Quinta-Feira

PS: Tenho que reler este livro, para conseguir ver o candeeiro à luz da árvore.

Sunday, October 04, 2015

Gaiola Aberta


O meu pai gostava de ler os livros de JV, aos quais a minha mãe se referia como "essa porcaria,(credo, valha-te Deus, homem)". Porém, foram autores "populares" como JV e muitos outros, dos romances cor-de-rosa aos policiais, westerns e BD que possibilitaram que eu me familiarizasse, desde pequena, com livros, pois os meus pais liam-nos. Na minha terrinha, na Beira Baixa, não havia livrarias nem bibliotecas nem a população era particularmente letrada. Pelo contrário. Os meus pais, felizmente, liam embora fosse "apenas" literatura "popular", paraliteratura. Isto fez que eu cedo começasse também a ler. O meu pai comprou-me muitos livros de princesas e de príncipes. Li também as aventuras dos cinco e dos sete. Fotonovelas também li, às escondidas, pois a minha mãe velava pela moral e pelos bons costumes, claro. No fundo, só há relativamente pouco tempo me dei conta do quanto devo aos escritores "populares". Foram eles que possibilitaram que eu conhecesse os grande e verdadeiros amores da minha vida: os livros.
Morreu José Vilhena, um homem singular e corajoso. O ensaio de Rui Zink sobre ele - Humor de Bolso (?) - ensina que Vilhena não era apenas um desbocado sem tento na língua. Pelo contrário, tinha uma mensagem de inconformismo para veicular, coisa que fez sempre e lhe valeu, por várias vezes, a perda da própria liberdade. Eu admiro-o. E espero que ele não leve a mal se eu disser: que Deus o tenha em sua paz!  

Friday, September 18, 2015

Norman Reedus - Beggin'





See you in October! Can hardly wait.

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Saturday, September 05, 2015

Wednesday, September 02, 2015

Vou contar-te uma história



Esta noite dormi! Sei-o porque durante alguns momentos tive um sonho daqueles que eu gosto. Não é difícil, eu gosto de todos. Excepto, claro, daqueles em que há gente mesmo, à séria. Cruzes!!

Foi um bocado confuso, é verdade. Mas foi bom. Depois de uma série de andanças sem nexo, eis que estou com um grupo de desconhecidos, em biquíni, discutindo quem vai com quem para a água, tomar banho, logicamente. Estamos pois, junto ao mar, ou ao rio, ou a uma lagoa, ou mesmo lago... posto que a água que esta à nossa frente ora tem horizonte, ora não tem, ora é comprida, ora é redonda. Desde que não fuja, penso, já não é mau. Bom, ponho os olhos num moço bem constituído, mas… como se adivinha… quando chegou à minha vez já só havia uma rapariga para emparceirar comigo! O moço avantajado, perdão, musculado, tinha-se evaporado completamente! That’s the story of my life! Lá fui eu, então, com a outra rapariga – sim, porque eu também era uma rapariga, toda jeitosa, até - tomar banho, quando chegou a minha vez. Informação importante: naquele mar, rio, lagoa, lago, era preso quem estivesse só ou com mais de uma pessoa na água. Adiante. Metemos os pezinhos “no precioso líquido” – momento kitsch, “pardon!” – e verificámos que mal nos cobria o peito do pé. Fomos então andando à procura de um lugar mais fundo, para mergulharmos, mas os lugares fundos fugiam de nós de forma espavorida e assaz irritante. É que nem os tornozelos conseguíamos molhar!  Nisto, encontrámos uma quinta a boiar e pedimos fruta ao fazendeiro, alemão, que disse que teria todo o gosto em falar connosco. E eu disse: «Importa-se de gravar? Assim posso ouvir mais tarde.». Ele ficou entusiasmado. Assim, lá ficou o senhor alemão debaixo de uma macieira a gravar a conversa que estava a ter connosco, enquanto nós continuávamos à procura de um sítio em que a água nos chegasse pelo menos aos joelhos. Acabada a conversa, o senhor deu-nos as cassetes – que não eram poucas – dentro de um saco de plástico, juntamente com uns biscoitos e umas peças de fruta. Agradecemos profusamente. A minha parceira até se desequilibrou de tantas vénias que fez, enquanto, embargada, dizia obrigada, obrigada. Porém, colocou-se-nos logo um grave dilema: como íamos tomar banho, com o saco das oferendas? Começámos, por isso, em busca de uma pedra onde pudéssemos colocar o incómodo carrego. A minha colega, que tinha um pescoço anormalmente longo, tanto o esticou que acabou por avistar ao longe – eu também avistei, aliás, apesar de ter o pescoço curto – uma festa. Uma festa!! Era uma espécie de arraial, mas também havia sardinha assada. Diz logo ela: «E se fossemos lá?». «Nem pensar. Agora que a maré até está a encher…». E responde ela: «É que eu aproveitava e fazia uma TAC.» Como com a saúde não se brinca, só lhe disse, «vai rápido, que ainda me apanham aqui sozinha e me prendem. Ah, e vamos a terra colocar o raio do saco que o estafermo do alemão se lembrou, em má hora, de nos oferecer.» E lá fomos. Colocámos o saquinho junto de uma bicicleta que nos tinha saído numa rifa e ela foi para a festa e eu procurar um sítio para mergulhar, com a promessa de que em quinze minutos estaríamos ambas em terra para irmos… enfim, para algum sítio. Estava a anoitecer e teríamos, certamente, alguém à nossa espera e certamente, também, com alguma preocupação, não fossemos nós afogar-nos naquelas águas profundas. Com tanta sorte, que apanhei uma leva de água, de tal modo, que até fui de escorrega por ali abaixo, toda consolada. Nisto, contudo, sinto o traseiro a derrapar em seco, por cima de umas pedras lascadas, uma coisa horrível. Olhei, já era noite escura, e não se via água em sítio algum. Só pedras e cascalho e restos de neve e uma ponte escura prestes a desabar sobre a minha cabeça. Corri então para terra, com o traseiro a assar, esperando que a minha companheira já estivesse pronta, também, para darmos continuação ao nosso dia/noite. Primeiro contratempo: tinham-nos roubado tudo! Segundo contratempo: a outra estava desaparecida. Chamei: «Palmiiiiiiiiiiiiiiiiira, Palmiiiiiiiiiiiiiiiiiiiira, etc.». Nada. Lá fui sozinha - é a minha sina – pela noite adiante e pela festa longínqua adiante, sob uma luz amarela e um cheiro de sardinha assada de morrer… e chorar por mais.  
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Wednesday, August 26, 2015

Choque e pavor


As minhas férias vão de mal a pior... Agora mesmo, terminado o meu calvário - um deles - ergo a cabeça e vejo-me refectida em cinco das sete janelas à minha frente. E que vejo eu? Que estou a ficar a cara chapada da Madame Min. Pior: ainda se eu conseguisse locomover-me a bordo de uma vassoura!!
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Monday, July 27, 2015

Hello??



Espero. Espero. Nem Godot se demorou tanto, como o Sonolências Perenes. A burgessa adormecida já fez 500 tentativas de coiso. Quiçá acerta a próxima... E o Pavius Curtus? Hein? Tanta competência!!! Até o Modorra Pós e Pré-jantar estava irado - não muito, por falta de forças, claro. Que grupo! Quando o outro, o das Santas Dormências, perguntou:«...mas isso é para entregar quando?», «Em Setembro», diz o Modorras. «Setembro? Francamente - disse pausado, "derivado à"  mandíbula ter falta de treino - só estamos em Julho!!!». «Em SETEMBRO DE DOIS MIL E CATORZE!». Diz o outro, «Ah, mas era preciso fazer? Quem me ajuda? Eu não seeeeeiiii», e revirou o olho inquisitivo e mortiço para a Rapidíssima da Acelaração e Turbo - sangue azul! «Porca miséria», disse ela, que anda a aprender italiano e já aprendeu meia dúzia de palavras. Nisto, berra  o Pavius, pálido e em falta, com a papelada toda em atraso: «Dá uma canelada  ao Sonecas, a ver se acorda!». «Acorda para quê?», diz a Rapidíssima, «ele é mais activo a dormir.», «Mas está a ponto de babar-se nos documentos!», diz o Pavius, para mostrar que é indispensável ao bom funcionamento das coisas, quiçá do universo. «Então tiram-se-lhe os documentos do percurso da baba... ora esta!. Que ninguém o acorde... a besta!», «E a besta sou eu????», exclama o Pavius...Curtus - convém relembrar -, «Não, a besta é ele!». Nisto...
Momento, chegou alguma coisa... quem sabe de jeito, para variar. Voltarei para contar esta história de encantar. Aguardem que eu não tardo: se calhar!

Wednesday, July 22, 2015

In Search of Lost Time



Acabei de comprar este romance em 7 volumes. Eu tinha de o ler...

«For a long time I used to go to bed early. Sometimes, when I had put out my candle, my eyes would close so quickly that I had not even time to say "I'm going to sleep". And half na hour later the thought that it was time to go to sleep would awaken me (...)».

Já estou a adorar. Proust vai contar-me histórias  - muitas - durante sete longos volumes. Vai fazer-me companhia, dialogar comigo, ensinar-me coisas, mostrar-me o seu tempo... quem sabe até consolar-me, dizer-me "pssst", fazer-me rir...

Time to put out my candle and hope my eyes close quickly!
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Sunday, June 21, 2015

Ao serão


 
EU: Há que tempos que não nos falávamos!

OUTRO: Então, que contas? Espero que tenhas algo digno de interrompermos este longo – e apreciado – silêncio.

EU: Tenho, pois. Eu tenho sempre coisas para dizer, como sabes.

OUTRO: Vais falar d….

EU: De beijos…

OUTRO: … Mas pensava que andavas sombria e acabrunhada…

EU: Sim… mas vou falar de beijos de forma sombria e acabrunhante..

OUTRO: Ó/Oh os beijos, os beijos são como cerejas…

EU: Eu gosto mais de cerejas, embora não goste de cerejas… mas são um fruto bonito … é como os morangos…

OUTRO: Mas falemos de beijos…

EU: Vi no canal Q…

OUTRO: Quê?

EU: Sim. Um bacoco, um palerma falava de beijos como se fosse especialista, DOS GRANDES, na matéria…

OUTRO: E não era DOS GRANDES?

EU: Não!

OUTRO: Mas deu sugestões para bem beijar?

EU: Deu: não se deve ter bróculos agarrados aos dentes quando se beija…

OUTRO: Hein?

EU: Mas também não se deve escovar os dentes de forma a ter sangue gengival quando se beija.

OUTRO: argh!

EU: Disse que não se deve explorar a boca do parceiro a ponto de lhe arrancar a placa, caso ele a tenha.

OUTRO: !?

Eu: Disse ainda que o beijo envolve os lábios, a língua, os dentes e até um dedo…

OUTRO: Um dedo?

EU: Um dedo! Para meter na boca, para pressionar. Ele diz que é erótico.

OUTRO: Extraordinário!!

EU: E que não se deve pensar no IRS quando se beija…

OUTRO: Mas ele não disse nada de poética, por Deus… estamos a falar de beijos…

EU: Ele falou na bela dança das línguas. Achas poético?

OUTRO: Não, credo!

EU: Então não disse nada de poético.

OUTRO: E que mais disse o especialista?

EU: Que no dia anterior tinha comido lulas e no outro tinha comido rojões…

OUTRO: Mas… porquê??

EU: Para concluir que os dentes não servem só para trincar rojões!

OUTRO: Para que mais servem os dentes, então?

EU: Para mordiscar os lábios…

OUTRO: Ah!

Friday, June 05, 2015

What Kind Of Man - Lyrics - Florence The Machine





A sarna dos dias não me deixa tempo... Hoje vegeto e espero pelo carteiro, entre outras coisas. O dia ainda está longe da noite sempre boa e misericordiosa. Ligo a televisão... TVI, programa da manhã. Falou aquele pobre tonto, o messias das coisas vagas. O outro, o vulgarólogo tonitruante, fala e gosta de se ouvir. Diz ele: «para mim...» Cloaca! Para ele! Ele é uma pessoa que tem um bom ordenado. Não tem mais nada. No entretanto, eu, que tenho a sensibilidade de um tronco de azinheira, dou por mim a ser a pessoa mais sensível que conheço. Mas eu conheço pouca gente. Fe liz men te!

Jorge Jesus abandonou o Benfica... Até que enfim: uma tragédia mesmo. À séria. 

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Friday, April 03, 2015

Os Canibais



Não sou admiradora do cinema de Manoel Oliveira. Compreendo a sua assinatura única, a originalidade, o estranhamento. Enfim, aquelas coisa que se associam a cinema “highbrow”, a literatura “highbrow”, a cultura “highbrow”, etc. No que respeita à literatura, porém, como gosto mais de palavras do que de imagens, consigo “sofrer” a leitura de certos livros – impenetráveis (chatos!) - até ao fim. Tal não acontece, contudo, em relação ao cinema. Para mim, cinema é sobretudo entretenimento. Do cinema, quero emoções fortes: riso e/ou emoção. Não quero estar encerrada numa sala claustrofóbica a admirar, em silêncio, imagens lentas, perturbadas apenas por falas curtas proferidas por personagens estátua. É esta, aliás, a memória que me ocorre, quando recordo a visualização de “Francisca”, em Coimbra, no Gil Vicente.

Tínhamos ido ao cinema, eu a E e o C, instados pela F, grande leitora dos Cahiers du Cinema e espectadora de festivais de cinema de autor. Lá fomos, também, devido ao facto de a mulher de um nosso professor fazer parte do elenco. Éramos todos estudantes universitários na plateia – embora não parecêssemos. Lembro-me de ouvir risos e alguns impropérios, do tipo: não há pachorra! Lembro-me, também, de ver uma das personagens, no grande ecrã, a segurar um coração de carne e lembro, ainda, o barulho de passos a abandonar a sala. Isto tudo antes de adormecer no ombro do C. O nosso grupo tinha decidido que permaneceria até ao fim, e assim foi, para não sermos alvo da ira da F, como tinha acontecido com o filme “Os abismos da meia-noite”. Acabou por não ser uma má noite de cinema, embora nenhum de nós soubesse dizer porquê. A F, satisfeita com a nossa “envergadura intelectual”, tomou o nosso mutismo por admiração e fez o favor de nos explicar todo o simbolismo da história. Ficámos agradecidos.

Um dia, porém, já na Covilhã, apanhei na televisão o filme “Os Canibais”, um dos filmes da minha vida. Inexplicavelmente, hoje, nos artigos sobre a morte do cineasta, só li uma pequena referência a este filme. Será demasiado comercial? Talvez. Pessoalmente, acho-o grandioso, desconcertante, mais: humorístico. Se me dissessem que daria uma gargalhada num filme de Oliveira, não acreditaria. Depois, aquele homem que se desconjunta, cada parte do corpo para seu lado, faz-me lembrar o conto de Poe, “The man who was used up”. Aliás, aprecio bem mais os contos “witty” de Poe, do que os de terror, embora goste de “The black cat”. O final de “Os Canibais”, por sua vez, é igualmente inesquecível: se bem me lembro (má escolha de palavras), pessoas com cabeças de animais rodopiam em torno de um lago em frente de uma casa antiga, belíssima. “Os Canibais”, numa palavra, ou duas/ou pouco mais? Uma obra de arte preciosíssima!

Para mim, Oliveira é o realizador desse filme. É também um modelo de uma vida bem vivida e longa. Uma vida invejável, no bom sentido. Até na morte, não estando, que se saiba, debilitado durante muito tempo a sofrer, pode dizer-se que foi vitorioso: o coração, certamente cansado, limitou-se a parar.

 RIP

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Tuesday, March 24, 2015

Morreu Herberto Helder

 

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gentes de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera de seu tempo e do seu precipício
 (…)
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
 (…)

Mário Cesariny


São assim, como as "descreve" Cesariny - penso - as PALAVRAS dos poemas de Herberto Helder. Não percebo nada do que ele escreve. O que me faz ler os seus poemas? A beleza pura das suas palavras, as associações desconcertantes - e desconcertantemente belas - que faz. Fico sempre apenas à superfície dos textos de HH. Não tenho peso interpretativo para os aprofundar e me afundar neles. Navego neles, apenas. Não sou leitora, pois. Apenas navego na superfície dos seus textos.
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Friday, March 20, 2015

Accentus Samuel Barber Agnus Dei





Lindo!

Para o meu paizinho... com um beijo!

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Wednesday, March 18, 2015

Dormir antes de morrer


«Os doentes em estado “grave e incurável” vão poder pedir em França uma “sedação profunda e contínua” que se prolongue até à morte. A lei que o prevê foi esta terça-feira aprovada por larga maioria, pela Assembleia Nacional. É uma forma de responder ao desejo de muitos pacientes em fim de vida, contornando o sensível debate sobre a eutanásia.

A nova lei abre a porta à inédita possibilidade de “dormir antes de morrer para não sofrer” – nas palavras de um dos autores da lei, Jean Leonetti, médico e deputado da UMP, oposição de direita. O outro, o socialista Alain Claeys, destaca a vantagem de permitir aos doentes um fim de vida “tranquilo e sem dor”.»
Público, 18-03-2015
O medo de morrer e a vida como missão sagrada são o inferno terreno! Tenho que "viver até morrer?" Porque os outros querem??
Na cidade das luzes vai-se fazendo luz! Mais uma vez.
Vive la France!!!
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Thursday, March 05, 2015

... a olhar para um palácio


Georges Lemaître para explicar que o Universo teve um início: «Houve um dia em que não houve ontem.»
No Público, que hoje faz 25 anos: parabéns!

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Tuesday, February 24, 2015

O triunfo dos suínos


Insone e irritadíssima, incapaz de tirar da minha mente o cavaleiro (aliás, burreiro) da triste figura, tenho que vir ventilar a fúria para o grande nada! Discutem-se estratégias (!!!) e o belzeburro mal consegue erguer as pestanas. Discutem-se assuntos sérios (mais ou menos) e o cabisbruto, de beiça descaída e olho revirante, luta (mas pouco) para fazer de conta que não está a dormir. Finalmente, dorme mesmo, à mesa de trabalho (na "runião"), enquanto a discussão seríssima continua. Bem se berra, mas o destrambelhado está ferrado no sono e não há nada que o acorde. Ali fica, em torno da mesa redonda (quadrada, aliás), vermelhusco, beiçudo e de tromba descaída!!! Pudera, com a soneira que tem nos cornos! E assim passa o tempo, o tarata: come (atafulha-se de comida, melhor dizendo), devora bananas para armazenar potássio (muito se preocupa com as "juntas" das pernas), faz jogos no computador, vai ao "face" (dizer facebook é um esforço que está para além da sua debilitada língua!) e fala com quem calha, atroando tudo num raio de uns 500 km (sem exagero!). O fuinha só tem força na voz...quando está acordado, claro! Não se pense, contudo, que ele não acorda aí umas três vezes ao dia (as necessárias para se empanturrar). Entro e saio, saio e entro, passam os dias, as semanas e até os meses, e ele para ali está indolente, ocioso, embrutecido, enfim: esparramorto!

Este desabafo teve o gentil patrocínio de Mia Couto (embora ele não o saiba).
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Friday, February 06, 2015

A igreja estava toda iluminada




Tive, ontem, uma noite de agitadíssimas aventuras! Não foi por falta de merecimento, posto que aqui há noites sofri um atrocíssimo revés, quando me aterrou em pleno sonho uma criatura medonha vinda directamente da realidade. E em figura de gente (triste figura, claro), com a sua própria tromba e corpo. Até a roupa. Não tivesse eu fugido esbaforida de tal estafermo e poderia sentir, até, o seu cheiro característico: um ranço nojentíssimo, misto de sudorese e mau hálito. 

Bem, mas ontem foi uma maravilha. Tive uma noite prodigiosa. Atentem! Andava eu deambulando por uma rua ladeada de moradias lindíssimas, quando avisto uma em que já estive e à qual desejo voltar. Fico, então, junto à porta, na tentativa de me lembrar de uma desculpa suficientemente boa para que a dona me deixe lá entrar. Mas nada! Claro que ainda espero que a porta se abra, como é suposto as portas fazerem nos sonhos, para que eu possa simplesmente entrar. Mas esta é uma porta surda, que não liga nada à minha agitação ansiosa. Nisto, vejo um homem muito pálido, com ar de quem não está nada bem e vejo, também, uma cadeira de rodas. Não hesitei. Coloquei o homem na cadeira e fui em correria, com o homem aos guinchos, bater à porta da casa linda e hipnótica, implorando que me deixassem entrar para acolher aquela pobre alma em sofrimento, nosso irmão na fé. A senhora, muito aristocrática e de nariz franzido disse que não acolhia enfermos, que me dirigisse ao hospital. «Mas» disse eu, vislumbrando o corredor magnífico, «somos todos filhos de Deus, etc.». Ao que ela respondeu, peremptória: «o meu pai é o Sr. Nogueira». E bateu com a porta.  

Ora, de um momento para o outro, não só me vejo impedida de fazer o que queria, como me vejo a braços com um enfermo, cada vez mais pálido, amarelo até e, já agora, esverdeado em certas partes, que não interessa aqui mencionar. «Esta não será uma noite de visitação de casas», pensei, «vejamos o que me espera». E decidi passear o achacado, na esperança de que o ar fresco lhe fizesse bem. Porém, vendo-o com a cabeça muito inclinada, temi o pior e estava certa: o homem tinha falecido. Dirigi-me em correria, de cadeira de rodas em punho, para a casa, esperando que a dona não negasse a entrada a um defunto. Em vão. A senhora, nada caridosa, nem uma palavra me disse. Fiquei, claro, muito abatida e sem saber o que fazer. É então que passa um carro da polícia anunciando fazer coisas terríveis ao defunto, caso este não se casasse de imediato. Eu ainda gritei para o carro, «mas ele faleceu, espero que esteja perdoado». E responde a polícia, ao longe, mas de forma vigorosa, «só o casamento o livra». «Ele há coisas» pensei, «que mundo é este que não dá sequer paz a quem já partiu?» Dirigi-me então a uma igreja em forma de carro, com guiador e tudo, e contraí núpcias com o jazente. O padre, comovido com a minha atitude, disse-me de forma solene: «já o podes enterrar, irmã». Pois que mais podia eu fazer? E dirigi-me para o banco da frente, posto que nos tínhamos casado no banco de trás, para me dirigir a uma funerária. Nisto, passa o carro da polícia e eu gritei-lhes: «casado e bem casado!» E eles foram para outra freguesia. Com ternura súbita, deitei um olhar meigo ao meu defunto marido, estirado no banco traseiro, e vi como eram azuis e espantados e aterrorizados e cada vez mais abertos os seus olhos. «Quem és tu?», ouvi incrédula. «Sou a tua legítima esposa». «Esposa???». «Sim, esposa. Honrei-te e livrei-te de veres o sol aos quadradinhos, fica sabendo.», «Mas eu não te amo!», «Ora essa, és muito esquisito, para quem já está morto… e azulado!», «Morto? Desde quando é que os mortos falam?», «Isso te pergunto eu, ingrato!», «Ingrato? Fora eu ingrato e uma mulher como tu não poderia gabar-se de ter um marido como eu!», «Uma mulher como eu? Como te atreves?», «Atrevendo-me… antes a morte que tal sorte!». E expirou ruidosamente, mas com alívio. Nunca me senti tão humilhada na minha vida: ser esnobada, como dizem os brasileiros, por um moribundo! Conduzi, então, o carro igreja rapidamente para a mortuária, onde deixei o ingrato defunto para ir a enterrar. Não iria acompanhá-lo, pensei, nem me vestiria de preto. Foi então, enquanto encomendava uma urna de pinho, do mais barato, que tive uma ideia brilhante. Iria novamente bater à porta daquela casa. Agora, como viúva, em sofrimento. Aliás, com o marido morto logo depois da cerimónia. Aliás, antes mesmo da cerimónia. Quem negaria uma palavra de conforto e um chá, uma cama, uma estadia de uma semana (ou mais), a uma mulher assim, como eu?  «Pinho, mas do mais caro, se faz favor, e um raminho de crisântemos amarelos». E chorei um bocadinho. A alegria antecipada da permanência na casa tornou-me generosa. E, de negro, acompanhei, até ao fim, as exequiazinhas. RIP  
Imagem:IngeSchuster, https://x.com/literatura_rte/status/1756245188165414963?lang=ar, consultado em 24 de Abril, 2024
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Friday, January 23, 2015

The Walking Dead - Main Title Theme Song





Voltam em Fevereiro! Mal posso esperar...

Música linda! História... não interessa a história! Interessa o corte com a realidade imediata. A fuga que possibilita.  No YouTube discute-se a falta de coerência das histórias, etc. Pobres tontos. Arrastam-se incoerentes pela vida, mas querem coerência na ficção, querem encontrar a lógica num produto de entretenimento. Pessoalmente, só quero que Daryl não morra, que a série não termine, que todas as semanas me seja concedido o privilégio de ter esta gente toda, mortos e vivos, em correria pelo escuro do meu quarto.

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Monday, January 19, 2015

Gavin Bryars - Jesus' blood never failed me yet






Público 19- 01-2015




«“Se é mulher e não procura a felicidade, nem amorosa, sexo ou esperança, se apenas deseja morrer, mas não em solidão, ligue-me.” O anúncio vinha num jornal e saltou à vista do sociólogo José Machado Pais. O professor universitário levou um dos seus temas de eleição, a solidão, à iniciativa Escutar a Cidade, que arrancou na quinta-feira em Lisboa e se prolonga até Junho. A ideia é que não crentes digam o que esperam da comunidade cristã. José Machado Pais falou da sua solidão, da dos outros e recuperou a história da amizade que fez com um sem-abrigo. “Não se deixa um amigo na rua”, contou.

A música Jesus' Blood Never Failed Me Yet, no começo, enche a sala, a pedido do antropólogo, teólogo e compositor Alfredo Teixeira. Uma peça musical criada pelo contrabaixista Gavin Bryars, que fez um arranjo a partir da voz de um sem-abrigo. Na versão que se ouve no encontro junta-se a de Tom Waits.
“A voz não vem de um concurso de talentos, não corresponde aos estereótipos comerciais nem aos padrões de beleza mais reconhecidos. O paradoxo de uma voz banal, frágil, que transporta uma narrativa cristã de confiança”, diz Alfredo Teixeira acerca deste “canto que vem da rua, mantido na sua crueza”. Uma voz anónima que não chegou a ouvir a música criada. Quando Gavin Bryars procurou aquele homem, já tinha morrido.»







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Friday, January 02, 2015

2015



 
O medo vai ter tudo

pernas

ambulâncias

e o luxo blindado

de alguns automóveis

Vai ter olhos onde ninguém o veja

mãozinhas cautelosas

enredos quase inocentes

ouvidos não só nas paredes

mas também no chão

no tecto

no murmúrio dos esgotos

e talvez até (cautela!)

ouvidos nos teus ouvidos

 

O medo vai ter tudo

fantasmas na ópera

sessões contínuas de espiritismo

milagres

cortejos

frases corajosas

meninas exemplares

seguras casas de penhor

maliciosas casas de passe

conferências várias

congressos muitos

óptimos empregos

poemas originais

e poemas como este

projectos altamente porcos

heróis

(o medo vai ter heróis!)

costureiras reais e irreais

operários

(assim assim)

escriturários

(muitos)

intelectuais

(o que se sabe)

a tua voz talvez

talvez a minha

com a certeza a deles

 

Vai ter capitais

países

suspeitas como toda a gente

muitíssimos amigos

beijos

namorados esverdeados

amantes silenciosos

ardentes

e angustiados

 

Ah o medo vai ter tudo

tudo

(Penso no que o medo vai ter

e tenho medo

que é justamente

o que o medo quer)

 

O medo vai ter tudo

quase tudo

e cada um por seu caminho

havemos todos de chegar

quase todos

a ratos

 

Alexandre O'Neill
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