Sunday, January 09, 2011
Morte em Nova Iorque
A morte violenta ainda continua a chocar, a fascinar. A ficção quotidiana surpreende. Era uma vez um homem velho e homossexual e baixo e sem charme, mas simpático.Era uma vez um homem novo, belo, alto, com charme e, parece, heterossexual. Simpático, também. E modelo. Encontram-se, por qualquer motivo que desconheço. Tornam-se namorados, ao que dizem os amigos de um. Não, não se tornam namorados, dizem os amigos do outro, pois ele é heterossexual. Dizem as notícias que foram para Nova Iorque em lua-de-mel. Que estavam muito felizes. Um, o mais velho, adora N.I., quer que as suas cinzas sejam espalhadas sobre a cidade. Mas, dizia eu, estavam felizes, o homem velho e homossexual e o homem novo e heterossexual, a viver a sua improvável e espantosa lua-de-mel na cidade grande, quase capital do mundo. Lua-de-mel num hotel de luxo e intercontinental. Ontem, porém, a TSF dá-me a notícia da morte assassinada do homem velho e sem charme: agredido e mutilado. O outro, o modelo alto, esbelto e, parece, heterosexual, vestiu-se bem e disse que o outro não tornaria a descer do quarto do hotel. Pouco depois, a TSF disse-me que o homem hetero tinha sido hospitalizado e estava sob controlo policial. Tinha os pulsos cortados. O homem, não a polícia. Assim termina esta história de amor improvável, de um homem que amava um jovem belo, que o abandonou num quaro de hotel agredido e mutilado, possivelmente por ele mesmo. Não se sabe. Não se sabe quem é o assassino. Só se sabe quem é o presumível assassino: o jovem belo e hetero, ao que parece. Consta também que a cidade, bela e branca de neve, continua acordada pela noite dentro, como de costume, indiferente às histórias de amor e morte que a escolhem como cenário.
Descansa em paz, Carlos Castro!
PS: que a história não se centre na "orientação sexual" de cada um. Que não se queira que sejam só os heterossexuais a julgar ter licença e legitimidade para viverem as suas histórias de amor.
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