Saturday, September 03, 2022

Sábado à Noite


Começou o ano. O Sábado é o único dia de paz. De sossego. E a noite, principalmente. Ou melhor, a madrugada de Domingo. O único dia  - o Sábado - cujo tempo posso gerir sem o sobressalto das obrigações, da berraria, das caras que se vão tornando cada vez mais desconhecidas, das tarefas absurdas e desprovidas de sentido. O espaço é hostil. Os espaços e as pessoas, também. Cada qual desloca-se tentando exibir a maior indiferença possível pelos demais. É como se todos estivessem ali por obrigação e não reconhecessem nos outros um módico de humanidade que lhes mereça qualquer respeito. Por isso passam de cara fechada. Só os que têm algum poder ou dobram demasiado a coluna ou são "muito acessíveis e simpáticos" merecem alguma ou até demasiada atenção. Não me integro em nenhum daqueles grupos. À minha volta, há sempre essencialmente estátuas ou pessoas que me vão suportando ou, ainda, aqueles que condescendem. Tipo: coitada, não é ninguém, mas vamos fazer de conta que é. Da minha parte, com raríssimas excepções, tenho para a troca, apenas, desprezo. Um desprezo calado. Silencioso. Intenso. Espero o dia em que possa voltar as costas àquela engrenagem, com a atitude da personagem de um conto de Kafka, o polícia, que, quando inquirido por um homem aflito à procura de respostas, se virou muito de repente, "como aquelas pessoas que gostam de ficar sozinhas com o seu sorriso".

 

1 comment:

julio césar said...

Aqui também é assim, pessoas de cara fechada sempre à procura da minima falha do pròximo para atacar, deitar a baixo e mal-dizer. Convém também não exteriorizar qualquer tipo de alegria ou contentamento pois isso desperta nos abrutalhados uma espécie de inveja que contamina a atmosfera com uma energia negativa insuportàvel que me obriga ao isolamento, ùnica maneira de recarregar baterias. O sàbado é um espaço entre dois nadas, o antes dele e o depois dele, sempre foi o meu dia preferido, sempre. Adorei o seu quarto todo branquinho, que delicia. Tenha um santo dia e não desanime, tudo hà-de passar. Bjnhs