Woody Allen

Woody Allen tornou-se numa figura trágica. E se ele não fez nada, como os peritos concluíram? E se foi tudo forjado? Há gente capaz de tudo. Tudo! Houve tempos em que eu pensava que o mal era coisa da Literatura. Hoje conheço gente que é capaz de tudo. Só não faz mais, porque não pode, porque é insignificante. Allen caiu provavelmente nas mãos de gente assim, mas com uma diferença: é gente com poder. A autobiografia termina com a seguinte frase:

«Já fui citado sobre isto, e fiquemos pelo seguinte: em vez de viver nos corações e nas mentes do público, prefiro viver no meu apartamento.»

A frase já teve certamente graça, mas não agora. É bom que ele prefira, de facto, viver no apartamento dele, porque poucos são os corações ou as mentes que queiram abrigar a figura patética e escorraçada em que se tornou. Pessoalmente, continuo a gostar de grande parte da obra dele, e lamento profundamente que, em casos como estes, a dúvida nunca desapareça e se constitua como condenação. Ainda assim, embora reserve o meu coração apenas para mim, tenho, na minha mente, espaço para ele. Agradeço sempre a quem me ajudou a passar pelo tempo sem quase o sentir. E Woody Allen anestesiou muitos dos meus dias.