Tuesday, March 21, 2017
As mulheres do Sul e a crise segundo Dijsselbloem
A misoginia anda à solta. Acabou o tempo do politicamente correcto. Há dias, um energúmeno, no Parlamento Europeu, pediu salário menor para as mulheres, porque estas são mais pequenas, mais fracas e menos inteligentes. O novo rico que aterrou na Casa Branca "grabs them by the pussy"! Aliás, no encontro com Angela Merkl, demonstrou um desrespeito repugnante para com ela, na questão do aperto de mão sugerido pelos jornalistas. Ele não é de agarrar as mulheres pela mão...
Hoje Dijsselbloem, o Presidente do Eurogrupo, explica a crise que assola os países do Sul com uma frase discriminatória e sexista, para variar. Segundo este político e especialista - ou talvez não, parece que plagiou na tese de Mestrado - os países em crise terão gasto o dinheiro em "álcool e mulheres"! Ou seja, os homens - quem mais? - do Sul torraram o dinheiro em bebida e putas. Traduzindo: os homens são os únicos que têm poder económico. O poder, por sua vez, ter-lhes-á subido, ou melhor, descido à cabeça, e desataram em homéricas actividades de dissipação. Como o homem do Sul, ao contrário do homem do Norte, é bronco, a sua noção de divertimento limita-se à bebida e ao sexo. As mulheres do Sul, por sua vez, são um brinquedo nas mãos dos homens e, como tal, quando se lhes acena com notas, já se sabe. De que outro modo poderiam as mulheres do Sul ganhar a vida? Aliás, ao longo dos tempos, como foram as mulheres representadas? Como a origem de todo o mal. Nada muda. Nada!
Entretanto, alguns homens temem que as mulheres os suplantem. Que ingénuos. Vejam-se alguns comentários a estas notícias e verifique-se como muitas mulheres desvalorizam, estoicamente, estas alegações. «Não se pode levar tudo a peito», dizem! «Foram apenas declarações infelizes», acrescentam. Pessoalmente, como estou a ler o manifesto SCUM, da autoria de Valerie Solanas, que disse dos homens aquilo que Maomé não disse do toucinho, só espero que venha um clone de VS, assim à séria, muito anos sessenta, desbragada, muito à moda do Feminismo de Segunda Vaga e diga uma coisa mesmo a doer, mesmo sem dó nem piedade. Enfim, qualquer coisa que faça o Facebook espumar durante, vá lá, meia hora...
Eu estou muito amarga hoje. Amanhã, porque me o exigem, terei de ir para uma tarefa absolutamente inútil, que vem transtornar toda a planificação que fiz para o trabalho imenso que tenho sobre a mesa. São tempos de raiva estes que se vivem. Sinto-me vulnerável, à mercê de tudo, desrespeitada de todas as formas, obrigada a fazer e ouvir aquilo que abomino, porque é baixo, é torpe, é mau.
Mais uma nota. Fui hoje abordada por um indivíduo meio embriagado, à porta do meu local de trabalho (!), que usou como pretexto pedir-me informações na qualidade de possível aluno. Claro que tentei ser simpática, ele aliás também estava muito simpático comigo. Depois de uma conversa algo surreal, o bom do homem mostrou ao que vinha: queria dinheiro! E eu dei. Diz a minha colega que assistia a tudo: «toda a gente te pede dinheiro, Adélia, tu tens essa cara de boa pessoa e de tonta...». Obrigadinha, Romix, já mo tinhas dito.
Imagem: http://www.imprevisivel.com/2013/06/a-arte-sombria-de-zdzislaw-beksinski.html, 21 Março, 2017
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