Ontem, ainda se preparou para dormir. Procedeu certamente a todos os rituais do fim do dia. Terá até talvez sentido verdadeira vontade ou necessidade de se deitar, de dormir, de descansar. Eu sinto sempre. Mas ela era tão alegre, tão activa, tão optimista, que terá até sentido tristeza pelo facto do dia acabar e de cessar, assim, o seu contacto com os outros. Há, dizem-me, pessoas que sentem o sono como algo que as inibe de viver. Para elas, viver é estar acordado, durante o dia, e fazer coisas: mexer-se, movimentar-se, falar, telefonar, enviar mensagens, jantar fora... vejam só, jantar fora. Para mim isso não é viver. É tortura. Mas ela não pensava certamente deste modo. Ontem ainda abriu a cama, poisou a cabeça na almofada e ansiou certamente pela luz do novo dia, o dia seguinte. Mas ele não chegou, não que ela o tivesse sentido, pelo menos. Ontem, adormeceu de vez. Deixou tudo a meio, interrompido. Amanhã haveria teste para a turma X. Já não há. Foi adiado. Hoje aqueles que contavam com ela para tudo, ainda acordaram no sítio do costume. E esperaram-na. Amanhã acordarão já num outro sítio: novos cuidadores. Ela não acordou mais e deixou tudo a meio, quase tudo por fazer. Para quem tinha, parece-me, tanta coisa para fazer e tanta estrada para andar, não terá sido sequer deixar tudo a meio. Será deixar tudo por fazer... tudo por viver...
RIP
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