Friday, September 30, 2016

Amanhã é Sábado



Terminou mais uma semana de coisa nenhuma. Deixei tudo vazio, à excepção de um fantasma e de um espantalho a atrapalhar o espaço.
Fui seguida por uma folha seca, a arrastar-se atrás de mim, movida pelo vento fraco, durante o regresso à minha casa. Cheguei e tive saudade de me ver sem ser ao espelho, demasiado amável. Muito bem. Esta também sou eu. Vou agora proceder à higienização da minha pessoa, vou purificar-me, tirar tudo o que de ruim ficou na minha roupa, no meu cabelo, em mim. Já tenho o meu quarto preparado para as próximas 48 horas de ausência, de desaparecimento: chá, bolachas, doce de maçã, água, café... talvez sopa de legumes, sei lá, e Decline and Fall, de E. Waugh. E muito silêncio: vai ser tão bom!

Thursday, September 29, 2016

A idade da inocência



"If you expect nothing from anybody, you’re never disappointed."
—Sylvia Plath, The Bell Jar

Verdade! Para mim, acabaram-se os tempos em que ficava desapontada, humilhada...com raiva, muita! Agora não. Estou finalmente sozinha: meu único grande amor!
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Saturday, September 24, 2016

A Literatura Light na escola


Pedro Chagas Freitas tem um texto dele num livro do 1º. Ciclo. E logo houve quem se insurgisse, numa linguagem escusadamente trauliteira, pelo facto de "tal" "escritor" ter entrado no mundo bacteriologicamente puro das primeiras letras. Mais, houve quem fosse buscar um texto da autoria de Chagas Freitas, no qual este zurzia, à vez, tanto as criancinhas como os pais das criancinhas, acabando por misturar duas coisas diferentes. Uma coisa é PCF ser de opinião que as crianças de hoje são insuportáveis, porque os pais são insuportáveis também. Outra coisa é os autores do manual escolar terem seleccionado um texto dele em benefício da aprendizagem das "insuportáveis criancinhas".  PCF não é "culpado" de que outros o tenham achado merecedor da honra de contribuir para o ensinamento dos alunos do 1.º Ciclo.
Eu já li algum livro de PCF? Não! Mas tenho lido, no Facebook, abundantes excertos de livros seus e abundantes elogios e "likes" dos seus admiradores, que não são poucos. Como escreve este escritor que, pasme-se, orienta cursos (ou algo que o valha) de Escrita Criativa? Escreve de forma nada criativa, mas na qual se percebe que há mecanismos/estratégias da Escrita Criativa, mecanismos esses que permitem que, sem nada para dizer, se consiga escrever um bom par de páginas. E em que consiste? Na estratégia por excelência do texto paraliterário: a repetição. Quantos aos temas: o amor, a paixão, a relação entre homem  e mulher. Depois, qual Paulo Coelho, há reflexão abundante sobre o porquê das coisas, reflexão, diga-se, que mais não é que um desfiar monótono de lugares comuns, mas que os leitores recebem como se fossem revelações absolutamente inéditas, inauditas e absolutamente geniais:

«– Gostas de tremer?
– Preciso de tremer. Preciso de sentir a corda bamba, as pernas bambas, o corpo bambo. Só o que me tira de mim me alimenta. Um orgasmo faz-me tremer, uma euforia faz-me tremer.
– Uma dor também.
– Tenho de entender o que sou. Mesmo que doa. Só quem treme entende o que é. Os outros não são: vão sendo. E nunca tremem. Tenho uma pena tão grande de quem nunca tremeu. O que andam eles a fazer por aqui? Nada do que não me fez tremer foi inesquecível.
– A vida se...rve para viver momentos inesquecíveis.
– Nunca te esqueças disso. Só existe vida se algo em ti estiver bambo. Só o que te faz tremer te impede de esquecer.»


 https://www.facebook.com/pedrochagasfreitas/?fref=ts, consultado em 24 de Setembro, 2016

Como se pode ver tudo é bambo e tudo treme: vêem a repetição? E vêem a suposta grandiloquência filosófica do «Tenho de entender o que sou. Mesmo que doa.»  E a referência ao "orgasmo"? Fica sempre bem um orgasmo, é muito para a frente, certo? Errado! O que não falta aí é conversa sobre orgasmos. Mas o escritor paraliterário gosta sempre de descobrir a roda, como se esta não tivesse nunca sido descoberta. E agora reparem: qual é a mensagem deste pequeno texto? Em que é que ele contribui para nos surpreender, acrescentar alguma coisa à nossa vida? Leiam a última frase, aquela que começa por «Nunca te esqueças..», e esqueçam-se. Porque é que alguém deveria lembrar-se de que só existe vida se se estiver bambo? E de que só o que nos faz tremer nos impede de esquecer? Mas o que é que isto significa? Dá vontade de rir, é verdade, mas, fora isso, não há no texto nada que valha a pena recordar. 
Não é, porém, o que pensam os leitores de PCF: «(...) Nunca morra amo a sua escrita. um bem haja !»; «A vida na ponta de um calafrio.» (idem). Aqui o leitor é soberano, é ele que justifica a existência de um determinado escritor, legitimando a sua obra.
Deveria um escritor paraliterário fazer parte do "cânone escolar"? Depende! Pessoalmente, caso Chagas Freitas mantenha esta estratégia de repetição, penso que um texto dele até pode ser benéfico para a aprendizagem de alunos do 1º. Ciclo. Para além disso, a escrita dele é tão simples, naïve mesmo (embora a armar ao pingarelho), que se o texto escolhido mantiver estas características expressivas pode, repito, ser um bom ponto de partida para o ensino da língua. Parece-me, contudo, que, se o escritor integrar a lista de textos de Literatura dos cursos do ensino secundário, o caso já é mais problemático. Mas se este autor e outros forem devidamente enquadrados, poderão naturalmente fazer parte dos programas dos vários níveis de ensino. Afinal, estes escritores existem e são apreciados. Ao Professor cabe é chamar os bois pelos nomes e não confundir Literatura com Paraliteratura.  Eu, modestamente, já dei o meu contributo, basta procurarem o meu livro na Amazon. :)

Friday, September 23, 2016

Outono 2 ( a minha estação do ano preferida)


Silêncio, que chegou o Outono, e quer
descansar a vida!
Quando acordar, já será outro dia.

Ramón Sampedro

Imagem: http://draganbibin.tumblr.com/post/121861969159/dead-of-night-oil-on-panel-50x80-cm-dragan, consultado em 17 de Setembro, 2016

Thursday, September 22, 2016

Outono


Na minha cidade, o Outono chegou com algumas nuvens, e a árvore que vejo da minha janela ainda tem as folhas todas...

Monday, September 19, 2016

A maldade


A Internet, mais propriamente o Facebook, é uma fonte inesgotável de grotesco. Falo dos comentários dos internautas. O discurso do ódio, da raiva, da inveja e o recurso ao insulto mais rasteiro são endémicos. Mas há gente muito compreensiva. Estranhamente compreensiva. Há dias, se calhar ontem, li uma notícia macabra: uma mãe, porque queria assistir a um homicídio, contratou um executante e pôs no cadafalso a própria filha, uma criança. À sua frente, a menina foi violada, torturada e morta. Depois, ambos, mãe e executante/homicida, desmembraram a criança numa banheira. os comentários eram, de um modo geral (e bem), de horror, e de desejo de que todas as pragas do Egipto caíssem (e bem) na cabeça e noutras partes do corpo dos dois facínoras. Pois bem, nisto, vem um ser bem-pensante pôr os pontos nos is. Indignado, diz que a notícia era apenas mais uma história sensacionalista, pois apenas dava conta dos factos, sem se importar em questionar e compreender o que tinha levado a mãe a ter um comportamento daqueles. Claro que o psicólogo de esplanada foi insultado (e bem) de tudo o que é mau e ruim até à quinta geração (ou mais). Há que compreender!?
Numa cena memorável da série CSI, apanhado o assassino, autor dos mais bárbaros crimes, este, num tipo de cena muito comum deste género televisivo, pergunta ao Inspector: «Quer saber por que razão é que eu fiz isto?»  Lembro, antes de dar a resposta, que geralmente o mal-feitor aproveita para despejar uma ladainha do tipo "ninguém gostava de mim, os meus pais eram umas bestas, os meus professores idem, etc.", tentando passar a mensagem de que não há homens (e mulheres, naturalmente) maus, é a sociedade e a família e a educação, entre outros, que geram os monstros. Não quero problematizar esta premissa, mas não a acho de todo, em tese, válida para todos os casos de violência. Voltando ao CSI, após a pergunta do assassino, eu, sem pachorra, preparava-me para mudar de canal, pois não estava disponível para a supra-citada ladainha, quando a resposta me surpreende agradavelmente. O Inspector diz: «Eu sei por que razão você fez isto. É porque vocé é mau!» E o episódio termina (e bem).  
A maldade existe e é largamente praticada: há que não esquecê-lo!

Imagem: http://www.imprevisivel.com/2013/06/a-arte-sombria-de-zdzislaw-beksinski.html, consultado em 19 de Setembro, 2016
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Monday, September 12, 2016

A primeira frase


A primeira página de um livro, o primeiro parágrafo, a primeira frase podem ser aquilo que nos leva a não o fechar e passar a outro. Aquele que agora estou a ler The House on the Moor, de Margaret Oliphant começa assim:

«In a gloomy room, looking out through one narrow window upon a moor, two young people together, and yet alone, consumed the dreary hours of a February afternoon.» (1861: loc. 136)

Nada mau! Sala sombria, janela estreita, duas pessoas juntas mas AINDA ASSIM sozinhas, numa tarde desolada de Fevereiro? Gosto.

Jane Eyre, o romance de Charlotte Brontë inicia com a seguinte frase:

« There was no possibility of taking a walk that day.» (1847: loc. 99).

Não é frase que anuncie a tempestade que se segue. Mas um romance, ainda que deste calibre, tem de começar de uma forma qualquer, mesmo esta.

Jane Austen começa de forma interessante o seu Pride and Prejudice:

« It is a truth universally acknowledged, that a single man in the possession of a good fortune, must be in want of a wife.» (2014: p. 3).

Já não é assim. Mas é engraçado como numa frase se sintetiza uma maneira de viver nesses tempos já remotos.

Agora, não há como superar, parece-me, a primeira frase do romance de Leo Tolstoy, Anna Karenina:

«Happy families are all alike; every unhappy family is unhappy in its own way.» (2014: p. 2)

"Todas as famílias felizes são iguais; as infelizes, são infelizes cada uma à sua maneira." Verdade!

 
Imagem: http://charivari.pt/2015/02/07/a-intermitencia-fotografica-entre-o-sonho-e-o-pesadelo/, consultado em 12 Setembro, 2016

Monday, September 05, 2016

DR. JOÃO RIBEIRO SANTOS


Morreu. Morreu o co-fundador do Movimento Direito a Morrer com Dignidade, isto é, um defensor da eutanásia. A notícia é dada pela Doutora Laura Ferreira dos Santos, outra fundadora do Movimento e grande defensora da eutanásia, ela própria a sofrer de uma doença que a vai impedindo de realmente viver. Ribeiro Santos era médico e, como refere a querida Laura, conhecia bem o sofrimento daqueles que estavam destinados a morrer aos poucos sem esperança de melhoras. Por isso defendia a morte boa, antecipada, digna, daqueles que na vida são apenas zombies.
Pouco sei deste homem que morreu ontem, dia 4 de Setembro. Tivesse eu sabido ontem da sua morte e estaria hoje em Lisboa, às 14:00 horas para lhe dizer: «Adeus, e muito obrigada por tudo o que fez em defesa daquilo que eu também defendo.»
Descansa em paz!

Sunday, September 04, 2016

The Woman in White











Havia mais um livro de George Gissing,  "A Life's Morning". Entretanto, descobri mais um escritor do século XIX, Wilkie Collins, através da sua obra-prima "The Woman in White! É um romance como não lia há muito. Nada que se pareça com G. Gissing, que tem claramente uma agenda ideológica. W Collins quer entreter, permitir evasão, e fá-lo lindamente. Claro que não consigo já ficar de respiração suspensa, à espera do mistério seguinte. Pelo contrário. É com todo o vagar que espero que o segredo último e terrível seja desvendado. Entretanto, deambulo pela casa aristocrática mas a ameaçar ruína e passeio junto ao lago de águas pantanosas sob o nevoeiro, no qual quase de certeza se esconde um cadáver...

Agora mesmo tive de suspender a leitura: o kindle está a carregar! Não faz mal. Assim que possa retomar a leitura, fá-lo-ei com redobrado interesse, para matar a enorme e gigantesca  saudade de todos: a casa, o lago, as irmãs, o conde - ahahahah -, o baronete e o sublime Mr. Fairlie. Ah, e a mulher de branco, claro.