Às vezes,
está só uma pessoa na sala e inicia-se uma conversa. No outro dia, fiquei só
com uma pessoa na sala e teve início a seguinte conversa.
Pessoa: ( a
fazer ruídos com a boca)
Eu: A sala
está tão cheia que não se cabe cá…
Pessoa: ( a
olhar em redor, como se lhe tivesse escapado alguma coisa)
Eu: Não
vamos fazer nada… não há condições.
Pessoa: É
uma falta de condições… ainda ontem… queria dormir e não conseguia (abana a
cabeça de olhos em alto)
Eu: Assim não se pode trabalhar…
Pessoa: Nem trabalhar,
nem dormir, nem comer… (torce o lábio e o nariz)
Eu: Fazemos
a ficha no próximo dia, quando estiver mais gente…
Pessoa:
(olha para mim, para confirmar que eu era mesmo eu)
Eu: Conte-me
coisas… como é que vai isso…
Pessoa: (faz
esgares atrás de esgares)
Eu: Assim
torna-se aborrecido…
Pessoa: O
que vale é que está quase a acabar … ( olha para mim, como que a dizer, sabes
bem do que estou a falar)
Eu: Há que
ter calma.
Pessoa:
Calma? Eu ando mesmo… mesmo… (respira fundíssimo) pfiuuuuuuu … se me vejo longe
daqui…
Eu: Com o
desemprego que para aqui vai…
Pessoa: Quem
é bom tem sempre emprego… (olha para mim com ar de sábio, abanando a cabeça)
sempre… acredite no que eu lhe digo…
Eu: Nos
tempos que correm não é bem assim…
Pessoa: Para
mim há sempre emprego… muitos não cortam árvores em ribanceiras. Eu corto em
todo o lado…
Eu: Nas
ribanceiras, é mais difícil…
Pessoa: Ná…
parece! Quem sabe cortar árvores, tanto corta nas ribanceiras, como num sítio
qualquer (põe a boca em O e fixa o olhar em mim).
Eu: Trabalho
difícil… e perigoso…
Pessoa: Ná…
só tem de se saber… ( abre a boca e fixa-me)
Eu: As
motosserras são um equipamento perigoso…
Pessoa: É
como tudo. Há que saber… eu agarro na motosserra sem problemas. Nunca tive
problemas. (estica o dedo e abana a cabeça. Fixa-me)
Eu: Eu tenho
medo de motosserras… e de electricidade…
Pessoa: Isso
para mim não é nada (ri com leveza e abana a cabeça, sempre a olhar para mim)
Eu: É…
Pessoa: É
como cortar oliveiras….
Eu: As
oliveiras são frágeis… é preciso cuidado.
Pessoa:
Nunca tive problemas com oliveiras! (vai abanando a cabeça e esticando o lábio,
enquanto vai fechando os olhos para melhor marcar aquilo que diz)
Eu: Há muita
gente que cai…das oliveiras…
Pessoa: Um
dia, com um colega, fomos cortar oliveiras. Ele, mal subiu, caiu logo.
Logo! Zás! Também lhe disse: bem te avisei. Não
ouvem! (gesticula largamente, para dar
vivacidade à empolgante história)
Eu:
Oliveiras…um perigo…
Pessoa: Eu
nunca caí! (bate com a mão na mesa e põe a boca em O durante uns bons segundos)
Eu:
Extraordinário!
Pessoa: É
preciso saber subir à oliveira… nunca caí. Quer acreditar?
Eu:
Acredito, pois!
Pessoa: Mas
eu sei subir… (semicerra os olhos cheio de mistério)
Eu: … (
morta por saber como é que se sobe a uma oliveira, estico a cabeça e espero)
Pessoa: Eu…
eu… quando subo à oliveira tiro os óculos e o casaco!! (olha para mim com um
olhar de: toma, que já aprendeste! E estica de tal modo a cabeça, que parece
uma tartaruga)
Eu: … os
óculos?
Pessoa: Os
óculos! Tiro-os.
Eu: … e o
casaco?
Pessoa: E o
casaco!
Eu: …
Pessoa:
Nunca caí! ( e faz abundantes estalos com a boca)
5 comments:
mais uma vez, lindo, genial, apaixonante de verdade.
Eu estou boquiaberta e de olhos esbugalhados. Tambem nunca caí de um coqueiro (ponho a boca em O).
Eu estou boquiaberta e de olhos esbugalhados. Tambem nunca caí de um coqueiro (ponho a boca em O).
Obrigada, meus queridos Júlio César e Romi, por lerem os meus desabafos. I love you!!
Obrigada, meus queridos Júlio César e Romi, por lerem os meus desabafos. I love you!!
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