Sunday, October 05, 2025

O frio

 



Manuel A. Domingos, BAÇO, edição Medula

imagem: https://web.facebook.com/photo/?fbid=32320338947564963&set=gm.2801223356750085&idorvanity=157947604411020, consultado 19 Setembro, 2025

https://web.facebook.com/photo/?fbid=1375683677893066&set=a.382580190536758, consultado em 5 Outubro, 2025

PS: há sempre uma imagem e um texto que se completam...

Thursday, October 02, 2025

Poeira - A Casa

 


Eu tinha partido em busca de uma casa invulgarmente bela que vi uma vez, de forma fugaz, enquanto dormia. Eu lembrava-me que tinha andado durante muito tempo num caminho muito acidentado, hostil e cheio de poeira. Era um lugar de tal forma deprimente que decidi esquecer-me dele, e foi nessa altura, na ânsia de ver algo bom e belo que avistei, ao longe, uma casa. Fiquei por isso, durante muito tempo, quieta e silenciosa olhando a casa. Ela ficou quieta e silenciosa também e deixou amavelmente que eu a observasse. Dela, porém, não retive um só detalhe. Não sei sequer se era grande ou não. Era apenas bela e eu procuro-a desde então, todas as noites, nos meus sonhos, porque sinto saudade.

Pensei que devia começar por encontrar o caminho deprimente, mas foi impossível encontrá-lo. Tive então consciência de que estava num pinhal muito denso. Todos os pinheiros eram da minha altura, alguns mais baixos, e todos eles, sem excepção, estavam carregados de cerejas amarelas. Parei. Por momentos, desejei permanecer ali para sempre, encantada com a beleza do local. Fechei os olhos. Quando os abri, a paisagem tinha mudado. À minha frente, estendia-se uma planície imensa. Tudo era terra escura e desolação. Depois, fui descobrindo rectângulos de pedra branca, como túmulos. Eram túmulos. Depois começaram a erguer-se do chão estátuas e cruzes brancas, umas de pedra outras de ferro. Havia também flores artificiais sem cor. Toda a planície, a perder de vista, era um cemitério desolado e belo. De repente, senti um aroma quente de café. Virei-me. Atrás de mim, tinha-se formado uma enorme esplanada cheia de um movimento lento mas intenso. Os clientes, todos homens muito velhos, estavam sentados, cada um à sua mesa, bebendo café. Havia também uma mulher, mas essa parecia adormecida. No seu colo, dormia também um gato e sobre a sua mesa, como um prodígio, crescia uma flor branca e frágil com as pétalas, puras como seda, permanentemente agitadas por um vento impiedoso e invisível. O empregado de mesa aproximou-se de mim, apontou-me uma mesa junto a um túmulo discreto e, com um sorriso, disse:

- "Vai querer café, certamente."

Eu respondi:

- "Não. Procuro uma casa."

Ele ficou desiludido e mudo e eu disse:

- "Existe por aqui uma casa?"

E ele disse novamente com um sorriso:

"Vai querer café, certamente."

Eu sorri para ele e não disse mais nada. Virei-me e continuei o meu caminho. Estava novamente num sítio com árvores muito baixas e muito densas, mas agora sentia-me impaciente. Protegi os olhos e fui abrindo caminho, com violência, incomodada com o choque da vegetação por todo o meu corpo. De repente, ficou tudo vazio e amplo outra vez. Eu estava junto a um lago de um verde leitoso. No meio dele, estava uma casa vermelha com grandes janelas, através das quais a noite entrava e permanecia. Sentei-me no chão. Queria terminar ali a minha viagem, contemplar a casa durante muito tempo e descobrir se era ela a casa extremamente bela de um sonho passado. Ouvi, então, um barulho leve e tímido. Virei-me. Atrás de mim, como uma orquestra, estavam os clientes velhos e solitários, as sepulturas, a senhora adormecida, o gato também adormecido, a flor branca e frágil e o vento impiedoso e invisível. Ao meu lado, alguém disse:

- "Vai querer café, certamente".

Fiquei feliz, tomei o meu lugar na mesa junto ao túmulo discreto e disse:

- "Certamente".

https://pt.vecteezy.com/foto/12790692, consultado em 29 Setembro, 2025

Saturday, September 27, 2025

Sorry if I look a little lost


Busy digging out her own grave...

A caminhada solitária... mas sempre com possibilidade de ficar mais árida ainda... À mercê do virar de costas dos outros. Sozinhos a fazer planos de como conseguir dar mais um passo, ultrapassar mais uma contrariedade. Ninguém se rala. Ninguém ouve...

Saturday, September 13, 2025

Iryna Zarutska

 


Aqui a um ou dois minutos de morrer. Já ferida de morte: esfaqueada pelo monstro atrás dela. Ninguém se levantou para a ajudar. O assassino saiu do comboio com a faca a pingar sangue. Ela, depois, tapou a cara com as mãos, apoiando-se nos joelhos. Não saberia o que lhe tinha acontecido. Foi tudo muito rápido. Depois foi caindo no banco, sempre encolhida, e dele caiu para o chão, a vida a fugir-lhe. Depois, durante uns segundos, não aconteceu nada, até que uma enorme quantidade de sangue, de repente, correu para a área de embarque de passageiros. Muito sangue. Veio-me à cabeça a imagem do filme Shining: a parede a cobrir-se de sangue.
Entretanto, chega um homem e uma mulher e outro homem, para ajudá-la. Pessoas que estavam longe do sítio onde ela estava. Os que estavam perto nada fizeram. Mas ela morreu. Foi num instante. Um dia de trabalho. A hora da saída. O chegar ao comboio. Sentar-se, colocar os auriculares e concentrar-se no telemóvel. Atrás dela, um homem tira uma faca, levanta-se e atinge-a três vezes no pescoço. Depois sai do comboio, a faca a escorrer sangue.  Na imagem, o momento em que ela olha para perceber o que estava a acontecer. Depois, mais nada: sozinha, numa carruagem de um país estrangeiro, perante a indiferença dos outros passageiros, foi caindo, mais e mais até morrer...  


 https://x.com/EndWokeness/status/1966897158763819084/photo/1, consultado em 12 de Setembro, 2025

Tuesday, September 09, 2025

Supertramp


Sou daquelas pessoas que adora Supertramp. Adoro! Andava algo esquecida deles, mas, de repente, morre Rick Davies: voz inesquecível. 
Lembro-me de um dia, em Coimbra, 6.ª feira, ia apanhar o comboio para ir para a casa da minha tia (obrigada, tia, pela ajuda que me deste). Ia apressada. Saí da faculdade diretamente para uma ruela da parte mais antiga de Coimbra. Aquelas ruas estreitas que as minhas colegas e amigas não frequentavam, e me pediam para eu evitar. Elas iam para o comboio no autocarro. Eu ia a pé, por gosto e porque não tinha dinheiro para autocarros. Era inverno, a noite estava instalada. Rua isolada e noite escura: há coisa melhor? Nisto, pela janela de uma casa, aos berros, fazia-se ouvir uma canção dos Supertramp. Eu adorava e tive de parar para ouvir tudo, aos berros, repito, uma barulheira imensa e linda. Foi um momento mágico! Depois, para não perder o comboio tive de correr o mais que pude para chegar a horas à estação...

Descansa em paz, Rick Davies!

Thursday, September 04, 2025

O Regresso Às Jaulas

 


Sábado. Começa a cair a noite. É hora de eu começar a viver.

Ontem tive um pesadelo. Estava num sítio terrível: uma sala com janelas grandes, vidros sujos, estores assimétricos, muitas cadeiras e mesas com coisas escritas. Havia também papéis escritos nas paredes. Muitos papéis. E computadores: velhos! Cheirava a poeira antiga e cheirava também a sujidade acre. Eu entrei na sala e já lá estava gente. Uma gente grotesca e sem dentes. Uma tinha uns grandes cornos e uns óculos cor-de-laranja. Outra tinha uma cara muito comprida, cerca de um metro e meio. Ou até mais. Mas o nariz era pequeno, pelo menos naquela cara grande de queixo imenso. Havia também uma com três olhos. Não! Quatro. E tinha uns óculos para os quatro olhos. Mas não tinha boca. Tinha um rosto que era um excesso de olhos: mudo. Uma era apenas uma poça de gordura com um olho perdido na imensidão mole e oscilante. Uma ria muito, muito, muito, e abanava os braços. A outra estava tão quieta, que parecia morta. Havia também um homem: sentado e absorto dedilhando os testículos. A que estava sentada ao meu lado tinha um rosto hediondo e indecifrável e um hálito apodrecido: como se tivesse um cadáver debaixo da língua. Eu tentava sair daquela sala, tentava falar, gesticular, pedir socorro. Cheguei a dizer, com esperança que me expulsassem: “odeio-vos”, “detesto-vos”. Espetei uma unha na testa da da cara a perder de vista. Nada. Disse à do hálito fétido: “metes-me nojo!” Nada. A dos quatro olhos, tinha dois cravados nos testículos do homem. Os outros dois dormiam. A que estava quieta caiu no chão. Estava morta. Mesmo. A dos cornos levantou-se e pisou-me de forma horrenda: fazendo saltar os seus dois pés sobre os meus. Abri a boca, mas não gritei. O tempo tinha acabado, deixando o som do meu grito fora do meu pesadelo.

Era aqui que eu devia ter acordado. Era aqui que eu devia ter aberto os olhos e visto a normalidade habitual: expectável. Era aqui que eu devia ter saído definitivamente daquele sítio mal frequentado. Mas não. Era dia. Era verdade. Aquela gente é a gente que eu conheço. Tal e qual. O habitual. O como sempre. Eu estava /estou aqui mesmo. É este o cheiro quotidiano de todos os dias. A gente grotesca = normal. Tudo. Desde o excesso de olhos ao excesso de cara. Desde o excesso de fealdade ao excesso de muita fealdade. E a burrice? A burrice está mesmo aqui ao lado. Lambendo os beiços. Bebendo café.

Ninguém vai sair desta sala horrenda. Estamos habituados uns aos outros. Somos espectadores uns dos outros. Ninguém prescinde de ninguém. Daqui a nada, uma jumenta, quadrúpede mesmo, vai dizer: “Podemos começar?” E começamos a falar. A empestar o espaço com palavras. Quando o expediente terminar, vamos sair do sítio medonho, com a certeza que no mundo há alguém que não nos suporta. Não nos respeita. Que nos humilha. Que nos ouve, só para mostrar que não nos ouve. Que nos arrancará os olhos as vezes que forem necessárias. E nos arrancará cabelos e, pior, nos encherá de perdigotos. Alguém que não hesitará em atacar-nos as canelas ou até a barriga das pernas. Alguém que terá prazer em morder-nos a ponta do nariz e em espetar-nos uma faca metafórica (e não só) nas costas (ou noutro sítio qualquer). Alguém que, quando ri, é para rir de nós. Alguém que nos quer encher a barriga de nomes. Podemos contar sempre com esse alguém. Esse alguém e outros alguéns, companheiros dedicados de gigantescas orgias de ódio. As personagens fixas dos meus pesadelos quotidianos: dia após dia lá estão, sempre, infatigáveis e um nadinha mais velhos e mais flácidos e mais repulsivos: medonhos!

PS: Este ano juntou-se à comunidade um jumento obeso, muito dado à electricidade estática no traseiro, quando em contacto com cadeiras de plástico. É um pirilampo gigante, embora seja minúsculo, especialmente na área da cabeça. Pior: é viciado em confidencialidade. Olha quem! Mais viciado que ele só o Correio da Manhã. Pobre jerico!

«Ande junte-se aqui, puxe da cadeira, sente-se, para ver como lhe tratamos da confidencialidade e do resto…». 

https://web.facebook.com/photo/?fbid=444119281884237&set=gm.7865982576817042&idorvanity=350579061690802, consultado em 23 de Julho, 2024 

Wednesday, September 03, 2025

Lisboa... 3 de Setembro

 

Um dia triste... 

https://web.facebook.com/photo/?fbid=29793205196944855&set=gm.9788223721237636&idorvanity=3887632791296788, , consultado em 25 de Março, 2025 

Saturday, August 30, 2025

O último sábado...

 


O último sábado em liberdade, a controlar o tempo. Amanhã já quase não conta. É a descida inevitável para a primeira semana de trabalho. Vou tentar comer qualquer coisa boa, pôr-me confortável e preparar-me para as histórias que o YouTube me vai contar, quando estiver na minha cama, de olhos fechados. 
O recomeço é cada vez pior. As férias passaram e pouco fiz... como sempre...

https://web.facebook.com/photo/?fbid=1192245616279350&set=a.598147439022507, consultado em 25 de Agosto, 2025





Friday, August 29, 2025

Agosto 2025

 


Foi um prazer encontrá-lo... 

Monday, August 18, 2025

Esgoto a céu aberto!!

 





Num dia de fogos intensos, em que a zona da Covilhã está a arder sem que se veja como vai resolver-se o incêndio, em que dois bombeiros da terra morreram e em que outras zonas do país estão nas mesmas condições, esta, que se identifica no X como "actriz, autora e deputada municipal", debate o que é essencial: os bombeiros são brancos! Etc. 
Nem é necessário sublinhar as alarvidades desta fulana insalubre, que é deputada municipal, ou seja, que é política, que tem uma réstia de poder nas mãos!! É assim que muitos políticos são hoje: ignorantes, xenófobos e racistas. RACISTAS! Se esta fulana não é racista - aliás, desconfio que ela se orgulha de o ser - não sei o que é ser racista. 

Veja-se, no YouTube, um programa do Batáguas, https://www.youtube.com/watch?v=QBVkXuo-OJ4, o que é dito sobre esta fulana, usando palavras da própria. Para mim, a boca dela é um verdadeiro cano de esgoto a céu aberto.

PS: Na Covilhã já escureceu há muito, pois o sol não consegue penetrar a nuvem de fumo. Apesar de ter as janelas todas fechadas, ardem-me os olhos devido ao fumo... Não me lembro deste panorama, nem quando as chamas eram visíveis das janelas da minha casa. É só fumo. Só fumo...




Sunday, August 17, 2025

Felca

 


Li um artigo sobre um YouTuber que fez um vídeo sobre a adultização das crianças na Internet. Nuno Markl também fez uma referência a esse vídeo e ao seu autor: Felca.
Passados uns dias, resolvi ver o vídeo. Muito bem feito, muito pertinente, grande impacto no Brasil, tendo já sido preso um indivíduo por comportamentos impróprios com crianças e jovens. Pensei que era um indivíduo com formação talvez em Sociologia, muito atento e articulado. E, claro, fui ver outros vídeos dele. Mas onde estava a pessoa que fez o trabalho de investigação sobre as crianças na Internet? Em sítio nenhum. Passei um dia a vê-lo e a tentar entendê-lo. Uma personagem fascinante. Às vezes desbocado, sem filtro, mas sempre com uma sensibilidade aparente. Empatia. Uma personagem/autor/encenador de teatro do absurdo. Os vídeos em que está sozinho a dizer coisas desconexas são os melhores.
E tem 1,96 de altura... Fascinante!!  


https://www.portaltela.com/entretenimento/celebridades/2025/08/13/felca-ganha-75-milhoes-em-seis-dias-e-se-destaca-nas-redes-sociais, https://www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/relembre-cinco-videos-marcantes-do-youtuber-felca/ consultado em 16 de Agosto, 2025

Monday, August 04, 2025

Termas de Monfortinho

 


No elevador, preparada para mais uma viagem para visitar quem espera por mim ansiosamente. Ela, aliás, espera sempre por alguém. Não gosta de estar sozinha. Mas não senti ter acrescentado com a minha companhia. Mas não estar aqui agora seria insuportável... Ela precisa de gente à volta dela. Aqui estou. Acabei de colocar as minhas coisas. Rodeei-me delas. Estou a colocar tudo o que me foi possível trazer para eu própria estar acompanhada. Vou colocar um pouco do meu perfume 212 CH NYC, companhia também, diária, antes de me deitar, para dar alívio ao meu corpo dorido: fazer a mala e as outras coisas, preparar a vinda, fazer comida para trazer, limpar - mas pouco - a minha casa, fazer a viagem, carregar coisas, apanhar um sol inclemente, preparar o meu quarto para ter um pouco daquele outro quarto que está longe de mim, na penumbra, a cama intacta... 
A minha casa é parte de mim, como os óculos, o casaco que me aquece, o meu computador... 
Mas a minha mãe hoje está mais feliz. Sabe que há, na casa, um quarto ocupado... é isso que interessa. Como ela está frágil, um pouco surda, muito teimosa... estranha, até...

Sunday, August 03, 2025

Marinhais: fogo de artifício



Prioridades: primeiro o cumprimento da tradição. Isto é, sem fogo de artifício não há festa. Não interessa se o país tem estado a arder, se alguns perderam quase tudo. Se os bombeiros estão exaustos e têm estado a trabalhar ininterruptamente. O governo proibiu exibições pirotécnicas a partir da meia-noite? Antecipa-se meia hora a exibição. Está dentro da lei. Muito cumpridores, estes portugueses. Pelos vistos, temos mais uma categoria de negacionistas. Os que se negam a prescindir da pirotecnia! Uma participante dos festejos diz que o fogo foi muito bonito. O de artifício, claro. 
Estamos numa sociedade de ignorantes hedonistas. Ninguém se sacrifica por nada nem por ninguém. Cada um quer tudo aquilo a que tem direito. Prevenir calamidades? Não. Preferem remediá-las. Aliás, os fogos só acontecem na terra dos outros, só destroem os haveres dos outros. Não os nossos. Estando eu bem, comigo ninguém se incomode.
Ignorância e egoísmo!  

Que vergonha, Marinhais! Tenham vergonha!!!

https://www.noticiasaominuto.com/pais/2829210/muito-preocupante-fogo-em-ponte-da-barca-piorou-e-esta-descontrolado, consultado em 3 de Agosto, 2025

Friday, August 01, 2025

Mortes Fabulosas dos Antigos

 


«Entre os antigos, qual era considerada a morte mais digna e exemplar? No campo de batalha ou… ?
A morte mais digna era sem dúvida o suicídio. Por exemplo, o imperador era considerado muito humano se permitisse a um condenado à morte que se suicidasse. Essa era a morte perfeita. A morte em combate vinha a seguir. E, por alguma razão, a forca não era uma boa morte. Era considerada uma morte para ‘meninas’. A crucifixão, naturalmente, também não era considerada uma boa morte. Mas morrer a combater pela sua cidade, pelo seu estado, era a maior honra que se podia ter.»

https://sol.sapo.pt/2025/05/22/dino-baldi-para-os-antigos-a-morte-tinha-de-ensinar-alguma-coisa-sobre-como-viver/, consultado em 31 de Julho, 2025

Leitura de férias!!

Saturday, July 26, 2025

O beijo

 


A realidade - líquida -, a partir do momento em que a deixei entrar na minha vida, entrepôs-se no meu gosto pela leitura, isto é, pela ficção, que foi esfriando. Abro um romance e não consigo deixar-me envolver pela história. Aquela história não me diz nada. Gissing também contribuiu para isto. Mas já li tudo de Gissing...

O último romance que li foi da autoria de Gabriel García Marquez. Romance póstumo. É um GGM cansado, mas continua a ser ele. Espero que tenha deixado mais um manuscrito, para se tornar num novo livro.

Tenho-me dedicado essencialmente à leitura de ensaios. De momento, estou a ler uma História do riso. Porém, sinto necessidade de histórias. Quero que me contem histórias.

Recentemente, apareceram no YouTube uns canais de "histórias perturbadoras" e "histórias de terror", por categorias: noites chuvosas, camionistas, taxistas, seguranças, vizinhos, férias, Tinder, casais, etc. Ora, uma vez que já esgotei outro tipo de histórias, comecei a ouvir estas à hora de dormir. São relatos curtos, alguns dos quais muito sem graça e nada perturbadores. Eu já não me deixo perturbar com relatos de bruxas e de aparições fantasmagóricas em noites escuras. Porém, há também relatos que mostram como a vida é sem lógica. Como, de repente, algo de muito mau pode acontecer. Um senhor, um belo dia, decidiu encontrar uma mulher no Tinder e conseguiu. Gostou do perfil e, passado algum tempo, combinaram um encontro num café. Chegada a hora do encontro, ele pôde observar que ela não tinha mentido sobre quem era. No entanto, achou-a pouco à vontade e até algo intimidada, posto que frequentemente olhava para trás como se temesse que alguém a tivesse seguido. Ela, então, explicou que se tinha divorciado há pouco tempo, que tinha sido uma experiência muito má e que ainda não se tinha refeito completamente. E, nisto, entra um homem alto e vociferante, que se dirige à mulher com agressividade. Era o ex. Ele, para defender a mulher da besta do ex-marido, levantou-se, para a proteger. O marido, porém, muito forte, empurrou-o, ele bateu numa zona saliente da parede e acabou por ficar paraplégico. Uma história perturbadora, de facto, mas eu estava à espera de novidade. Acabei por tê-la. Felizmente.

O protagonista é também um homem que procura uma mulher no Tinder. Acabou por fazer match com uma rapariga que lhe pareceu ser diferente das outras. Muito terra a terra, sem futilidades e bonita. Como ela gostava muito de filmes de terror, combinaram encontrar-se no cinema, para verem um desses filmes. Ele chegou primeiro. Comprou os bilhetes e ficou expectante a ver se ela chegava. O tempo passava e nada acontecia. Porém, de repente, alguém o chama pelo nome. Mas não era ela. Era uma mulher enorme, com obesidade mórbida, vestida de forma descuidada, o cabelo em desalinho e um aspecto de quem não está numa relação séria com a água e o gel de banho. «Sou eu.» Diz ela. «A fulana». «Mas não parece... a pessoa ... das fotografias.» «Mas sou eu mesma, as fotografias é que são antigas. Qual é a diferença? Sou eu a pessoa de que tu gostas.» O pobre internauta do amor teve uma vontade imensa de virar as costas e desaparecer, mas a mulher à sua frente, muito pragmática, já o estava a arrastar por um bracinho em direcção à sala. Pois seja, pensou ele, mas mal o filme acabe despeço-me para nunca mais. Sentaram-se nos seus lugares, coisa que não foi fácil para ela, posto que encaixar o corpanzil na cadeira foi uma tarefa de dimensões bíblicas. Ele estava acabrunhado. Ela, no entanto, estava nas suas sete quintas, feliz e, mal as imagens do filme apareceram para dar vida à tela, começou a meter-lhe as mãos um pouco por toda a parte. Ou seja, o filme de terror desenrolava-se, sim, mas na plateia. Ele, de perninhas muito juntas, a proteger as joias da coroa, tentava livrar-se das mãos papudas e húmidas dela. Mas nada a detinha. Muito lampeira, ia descaindo para cima dele e roçando-se, com o perigo até de o entalar. O pior, contudo, estava ainda por vir. 

Estavam eles nesta espécie de luta, ela a avançar em todas as frentes e ele a tentar detê-la, quando, de súbito, sente a boca dela, em modo ventosa, na boca dele. À beira do vómito, empurrou-a com alguma violência, mas em vão. Ela não arredava. O pobre homem começou então a sentir que ela o mordia, primeiro nos lábios e depois na língua. Mordidelas cada vez mais fortes e invasivas. Foi quando ele, com um esticão de puro desespero, se conseguiu desencaixar dela e fugir dali. Em fuga, sentia a boca dormente, estranha, dorida, pelo que se dirigiu à casa de banho. No espelho, viu primeiro o sangue que escorria. Depois, abriu abriu mais a boca e viu uma coisa que não conseguiu identificar, ou talvez sim: era a dentadura dela! 

Era a placa!!

https://fineartamerica.com/featured/untitled-the-eagle-zdzislaw-beksinski.html, consultado em 22 de Julho, 2025

Monday, July 14, 2025

Rapidinha (mensagem)


 Esta noite sonhei que estava noiva de Elon Musk!!! E estava muito feliz com o noivado. O meu adorado noivo seguia a meu lado e ia mudando de altura a cada passo: ora estava muito alto, ora me chegava ao ombro... Achei estranho: coisas de multimilionários. A paisagem também era estranha. Ora estava com ele em plena natureza, com ele naquele sobe e desce insano, ora estava num quarto sem porta, a tentar despir-me, para me deitar, sem que ninguém me visse tirar a roupa, ora descobria que o quarto não só não tinha porta, como também não tinha uma parede. Estava, pois, num quarto de três paredes sem porta!!! Como se já não fosse extremamente estranho noivar o Elon!! 

Nisto, recebo uma mensagem do meu noivo, a dizer-me que depositou na minha conta uma quantia avultada, para que todos os meus amigos tratassem dos dentes!? Olhei em volta e, realmente, os meus amigos - bastantes, diga-se - tinham todos uma dentição miserável: poucos dentes e os poucos que tinham eram pretos e esverdeados. Um pavor! Envergonhada, pensei que o meu amado estava a braços com o dilema de noivar uma pobrezinha. Passei então a língua pela minha própria dentadura e só encontrei dois dentes!! Um em cima e outro em baixo. Tive um ataque de pânico. Não podia acreditar. Entretanto, o meu Elon levou-me a jantar num hotel de sete estrela: um luxo. A julgar pela quantidade de leitão da bairrada, frango assado e sardinha na brasa esparramados numa enorme mesa, presumo que fosse um hotel de sete estrela em Lisboa. Talvez em Alfama. Comi apenas um rissol - que também os havia, claro, bem como croquetes - e pensei que ser rica é outra coisa... 

Para que conste! 

Imagem: https://www.facebook.com/photo/?fbid=1123263663177546&set=a.598147439022507, consultado em 5 de Junho, 2025

Sunday, June 22, 2025

Sunday, June 15, 2025

No Kings!


Como professora, ou melhor, como alguém que estudou até ao fim da linha, o doutoramento, não pude evitar as lágrimas que me vieram aos olhos, quando ouvi o discurso de Brian Tyler Cohen. Esta reacção do povo americano só é possível devido à Educação, ao Conhecimento, ao Estudo; à Escola, à Universidade. Na Coreia do Norte, pelo contrário, o povo não tem acesso, em liberdade, à Educação. As ditaduras florescem na ignorância. Ignorância!!
Quantas vezes digo aos meus formandos que tenham atenção ao que os filhos estão a fazer na escola. Que não interessa passar, transitar de ano, apenas. Interessa aprender! Que os bons professores não são os que passam os alunos. Isso é fácil! O que interessa, dentro ou fora da escola, é obter conhecimento. Mas conhecimento sério, não apenas a espuma dos dias... Importa a herança cultural legada através dos séculos: a Filosofia, a História, a Literatura e a Ciência. A Ciência que, apesar de tudo o que põe ao nosso dispor, está sob ataque nos dias que correm. Claro que não há absolutos. Há que saber questionar. Mas temos hoje uma massa crescente de negacionistas da ciência. 
Pessoalmente, penso que a única circunstância que poderá levar os Estados Unidos a resistir à autocracia de Donald T tem apenas um nome. Não é a ideologia, embora também o seja, é a Educação! É o conhecimento de conceitos básicos como Democracia e Liberdade de Expressão. Sem estes, que estão na base de tantos outros, os americanos seriam apenas um rebanho pastoreado por um ditador narcisista e seus cães de guarda. 
Que todos tenham consciência de que apenas o Conhecimento  - não o dinheiro - nos permite manter a nossa Dignidade Humana.

Saturday, June 14, 2025

This Is Not America


Esta América, a de Donald T, não é a América de que muitos gostamos. A América da liberdade, da democracia, da abundância, do cinema, da música ligeira, etc. 
Esta é a América que, se nada fizer, se tornará numa ditadura sangrenta, despótica, violenta. Donald T não gosta claramente dos Americanos que deveria servir, em vez de servir-se deles. Há quem o ache um "macho alfa". Não é! É um adolescente néscio, arrogante e narcisista de 79 anos. Ou seja, um adolescente que não terá sequer a prorrogativa de crescer e tornar-se adulto. É um homenzinho execrável, que está a destruir TUDO à sua volta sem que, ao que parece, haja quem possa travá-lo.  
Ontem, vi um vídeo de um Senador a ser manietado, deitado ao chão e algemado por agentes do FBI. Isto por ter-se atrevido a entrar na sala onde estava a Secretária de qualquer coisa, uma mulher plastificada, recauchutada e vestida como uma barbie decadente, para, na sua qualidade de senador, lhe fazer uma pergunta. Se isto aconteceu a um Senador, em público, perante as câmaras de televisão (?), o que acontecerá ao cidadão anónimo, indefeso? E ao imigrante, sobretudo ao não caucasiano, que se tornou no bode expiatório de todos - quase - os males que afligem a América? Na lógica, claro, do arruaceiro que habita a sala oval! 
Nunca pensei, apesar de detestar a criatura insalubre, que ela pudesse chegar a isto. Hoje é o dia do seu aniversário. Pessoalmente, desejo-lhe que TUDO lhe corra mal. Que seja impedido de continuar num cargo que não tem categoria para exercer e que seja obrigado a cumprir pena pelos crimes pelos quais já foi julgado e condenado! 

I hate you DT!!

Nota: não digo o nome todo, porque me causa mal-estar.  

Thursday, May 01, 2025

Importa-se de acender a luz?

 


Estava na hora de passar o pente eléctrico no cabelo, quando fiquei sem luz. Menos mal que, após a aplicação de inúmeros produtos no meu cabelo - olaplex 3, Kérastase ultime elixir bain,  Redken água lamelar acidic bond concentrate, Lola danos vorazes e Kérastase serum de noite -, o dito estava mais ou menos composto. Fui então ver se havia luz na escada e, não havendo, concluí que era geral. Continuei, pois, com a preparação matinal para me dirigir, de tarde, para o malfadado trabalho. Mas tinha que telefonar à minha mãe e quase não consegui, aquilo não dava sinal de vida. Por fim, sou atendida e vi logo que algo se passava. Diz-me a minha mãe: aqui não há luz. E eu: aqui também não. A minha mãe ficou logo alarmadíssima. Nisto deparo-me com um drama, uma tragédia e uma comédia: como é que eu aqueço a comida?? Numa frigideira, claro. Assim fiz, entristecida. Toca o telefone. Era um colega meu e eu disse-lhe: diz, que eu estou sem luz e tenho a bateria a 31%. E ele: não tens tu nem tem ninguém. Não há luz em França, em Espanha e em Portugal. Eu: foi o Trump? Ele: foi o Putin. E rimos de forma alarve. Disse-lhe então que estava de partida para o cárcere. Ele: fazer o quê? Não há luz. Eu: pois, mas eu vou na mesma, vou ver como é que é, para contar como é que foi. Ele: se houver, diz-me, que eu entro às 15:30. OK. 
Dirijo-me então para o referido local e fiquei surpreendida quando me abriram a porta com toda a normalidade. Aquilo tem gerador. Dirigi-me então à rua, dar a triste notícia ao meu colega: há aulas!!
Hora de sair. E as teorias eram mais que muitas: vamos estar sem luz umas 72 horas ou mesmo uma semana. Ai o meu frigorífico... pensei. De resto, havia que afocinhar nas profundezas da minha casa, à procura do meu rádio de pilhas. E o meu YouTube???   Os meus amiguinhos, o meu João Miguel (meu amor mais lindo, que já sabe andar), ooohhhh! Só terei os meus livros como companhia, porque luz não me falta. E surge um outro drama: é dia de o Continente me trazer as compras. Mas como, sem elevador? Pelas escadas, claro. Dois mocinhos muito novos trouxeram as minhas compras até ao quarto andar, cansados, mas bem dispostos. Como é raro, dei-lhes qualquer coisinha para beberem uma Frize. E segue-se outro drama: tive de cozinhar logo a carne, para a conservar e ao frigorífico. Deixei apurar tudo muito bem, para que se aguentasse durante as 72 horas sem ir ao frio. 
Posto isto, sentei-me a ler com um candeeiro para livros e nisto telefona a minha mãe. Estava feliz: já veio a luz. Eram 22:30. Na Covilhã ainda não. Mas, entretanto, já tinha carregado o meu telemóvel com o meu Powerbank branco, e tinha ligado o meu hotspot, dando-me, até, ao luxo de ir à Internet por uns instantes. Preparava-me para ir para a cama, quando a luz chegou: coisa mais linda! Ainda por cima, a minha luz preferida é a luz eléctrica...

Friday, April 25, 2025

25 de Abril, 2025

 


Os EUA estão a mostrar o que é ser perseguido, viver no medo. O que é que um homem apenas, um DITADOR, pode destruir de um momento para o outro: 

- destruir a economia mundial

- colocar no desemprego milhares de funcionários públicos

- negar a ciência

- impedir a investigação

- atacar as escolas e universidades

- desrespeitar a Constituição

- ameaçar firmas de advogados

- desobedecer ao poder judicial

- pôr na prisão pessoas que não foram julgadas

- hostilizar países outrora amigos e aliados

- humilhar líderes políticos

- mentir, mentir, mentir

- destruir a confiança

- instalar o medo...

Claro que este panorama é o normal em muitos países do mundo, daquele mundo "distante" de que só por vezes nos lembramos. Mas não era o normal no país "mais poderoso" do mundo. Um país que prometia concretizar sonhos, que era, por isso, procurado por muitos. Mas um ditador, um narcisista, cujo único valor é o monetário, reúne um grupo de bilionários, julga tudo poder dizer e fazer, e muda tudo. O sonho americano tornou-se num pesadelo para todos: os de fora e os de dentro. Sobram, claro, os amigos e privilegiados. 

Não é em ditadura que quero viver. É em Democracia, aquela que, em Portugal, chegou através da Revolução de Abril.   

Saturday, April 19, 2025

HANDS OFF!!!

 


A assistir, ao vivo, à forma como se constrói uma ditadura!!


https://www.instagram.com/lukeymcgarry/p/DB7YGLcyZrD/, consultado em 19 de Abril, 2025

Saturday, April 12, 2025

Teles André


Nem sei bem de que músicas gostavas. Sei apenas que gostavas de Rui Reininho.
Ontem, ouvi durante o dia todo "The Cold Song", uma ária da semi- ópera King Arthur , composta por Henry Purcell em 1691. Ouvi várias versões. A mais famosa foi/é a cantada por Klaus Nomi: um génio. Mas todos os que a cantaram ou interpretaram fizeram-no de forma magistral. Gérard Lesne, já com sessenta e tal anos, sentado, a cantá-la, é particularmente intenso, misturando um certo cansaço, uma certa fraqueza, a uma força e potência vocal inesperadas. Nos comentários alguém diz que parece impossível um homem de 70 anos - é o que aparenta - ter aquela voz.  Vi também uma versão humorística da Canção do Frio. 

A letra é impressiva:

What power art thou
Who from below
Hast made me rise?
Unwillingly and slow
From beds of everlasting snow

See'st thou not how stiff, how stiff
And wondrous old?
Far unfit to bear the bitter cold

I can scarcely move
Or draw my breath
Can scarcely move
Or draw my breath

Let me, let me
Let me freeze again
Let me, let me freeze again to death
Let me, let me
Let me freeze again to death

(deixa-me arrefecer até à morte)

https://genius.com/Klaus-nomi-the-cold-song-lyrics, consultado em 11 de Abril, 2025

Friday, April 11, 2025

Teles André


Descansa em paz, meu queridíssimo amigo... queridíssimo, queridíssimo amigo... (meu amor!)


Monday, March 24, 2025

A Nova Ignorância

 


Este senhor é o homem-massa por excelência. Despreza a ciência. Despreza a filosofia, a cultura. Diz ele que os filósofos estão desactualizados, porque falam do ponto de vista do mundo deles: o que é que isso interessa? Penso que ele se acha um filósofo dos dias de hoje.  Diz-se escritor, mas não lê nada. Ou melhor, diz que o único livre que lhe mereceu apreço foi O Alquimista, de Paulo Coelho, se não estou em erro. Acha-se perseguido, porque, tal como Jesus Cristo, diz as verdades.
Esteve para formar um partido político, mas não queria ter "um povo às costas". A lata! 
Diz coisas extraordinárias: os não vacinados contra o vírus da "fraudemia"  - citei - foram o grupo mais perseguido da história da humanidade, incluindo os judeus!   
As palavras-chave do indivíduo são "amor próprio" e "intuição". Tudo se resolve com amor próprio e dando ouvidos à nossa intuição. Agora mesmo publicou um livro de 500 páginas que não é para ler, é para responder. Ela explica: a pessoa tem uma dúvida, que faz? Abre o livro e vê lá a resposta.  Resposta para tudo.
As opiniões sobre o papel da medicina são muito profundas. Diz ele que os médicos sabem sobre doenças, não sobre saúde. Ele, o grande Gustavo Santos, é que percebe de saúde. Porquê? Porque estudou? Não. Porque é saudável e só alguém saudável é que pode saber de saúde. Aliás, ele abomina pessoas que estudam e que se acham especialistas disto e daquilo. Etc., etc.
Gonçalez Blas prefere a expressão homem pós-moderno, para falar do homem-massa do século XXI. Qual é o traço principal deste homem? A ignorância, mas a ignorância assumida, ancorada na ideia de que, como alguém disse, "as minhas opiniões/intuições são tão válidas como o teu conhecimento", no qual, acrescento, não acredito.  







Friday, March 21, 2025

A Noite dos Vendavais

                                                                                   

Saí às 22:00 horas. Chovia imenso e o vento era forte. Fazia barulho. Por vezes, parece que se ouviam trovões. Mas não. Era apenas o vento descontrolado a sacudir tudo à sua passagem.  Ainda pensei em chamar um táxi. Mas a noite, o vento e a chuva são as minhas coisas preferidas. Não ia perder a oportunidade de as ter juntas, de me juntar a elas. Não coloquei os óculos, com medo que me fugissem. O guarda-chuva, meu companheiro, apesar de ser sacudido com força, não se virou uma única vez. Não partiu, não dobrou. Molhei-me nos sítios em que o impermeável - mas pouco-, levantado pelo vento, deixou entrar a chuva. As minhas botas, no entanto, apesar das poças de água e dos rios de chuva estrada abaixo, não deixaram entrar a mais leve humidade. O meu braço esquerdo, que tive de usar para agarrar o guarda-chuva e o manter firme, para não molhar o cabelo, nem me entrar água pelo decote, também ficou encharcado até ao cotovelo. Isto, apesar de me apetecer andar à chuva sem qualquer proteção, a sentir a água e o vento na cara, no cabelo, no corpo todo. Mas já não posso. Era gripe na certa. Também não pude fotografar a noite... Que pena. Mas tirei fotografias logo que entrei no elevador, para ver os vestígios da noite. Não se vê nada, infelizmente, graças à excelência do meu guarda-chuva! Vestígios mesmo, só no impermeável, no cachecol, na camisola e nas calças: tudo molhado. 

Noite gloriosa!!!


Thursday, March 20, 2025

Dia do Pai


Foi ontem... Eu não me esqueci. Atrasei-me apenas. Mas tu também eras uma pessoa que não se agarrava a coisas pequenas. Ontem foi um dia diferente para mim... Dor de cabeça. Coisas. 
Não lamento verdadeiramente que já cá não estejas. Não é um lugar bom... Pior: é um lugar que se vai tornando cada vez pior, especialmente quando envelhecemos e vamos ficando cada vez mais dependentes. Tenho tomado conta da mãe o melhor que posso, tendo em conta que, como tu, gosto de estar sozinha, e fazer o que me apetece sem correntes nem amarras. Mas eu não sou casada, nem tenho filhos, embora tenha cuidado, à minha maneira, de outros filhos e filhas, e agora da mãe. Também fiz por ti tudo o que pude. Aquelas idas ao hospital de Castelo Branco, repetidamente, e tu a pedires para eu não ir. Mas eu inventei coisas e arranjei pretexto para continuar a visitar-te. Lamento, sim, a forma como partiste... Felizmente, acabaste por não ter noção do que se passava à tua volta, naquele lugar de pesadelo... Só espero que morrer seja mesmo deixar de existir. Puro esquecimento. Embora, pessoalmente, não me importasse de voltar à vida, em forma de fantasma, para, por debaixo da cama, agarrar a perna dos inimigos ... Ahahahaha. Isso, sim, era de valor.  

Friday, February 28, 2025

Os Cavaleiros do Apocalipse!

 


A maneira infame como trataram Zelensky!!! 
E eu conheço alguém que ADORA estas criaturas: "Trump é o maior! Com eles todos amocham." Zelensky não baixou a cabeça. Tentou falar - numa língua que não é a dele!!!! - num ambiente hostil, mantendo a voz baixa. Estava vermelho. Humilhado. Isto depois de ter sido chamado de ditador e de comediante de segunda. E depois de ter sido o último a ser chamado para "negociar" a paz no país dele. A berraria dos dois cavaleiros do apocalipse é sinal de que a coisa não lhes correu como eles queriam. Em frente deles, tinham um homem cansado, que engoliu o orgulho e foi à reunião com os "donos do mundo", quando chegou a sua vez. Mas não tinham um lambe-botas que dá a patinha e abana o rabo em sinal de aquiescência. Ele não se deixou amedrontar. 
Há limites para aquilo que se consegue tolerar. Agora vamos ver a Europa o que faz...   Até construímos uma União Europeia para garantir a paz. Nós queremos paz!!! Mas... 
Não posso acreditar... 


https://www.inquirer.com/opinion/cartoons/tim-walz-stolen-valor-jd-vance-donald-trump-20240813.html


Se Eu Pudesse...

 

    

Se eu pudesse desamar
a quen me sempre desamou,
e pudesse algún mal buscar
a quen me sempre mal buscou!
Assí me vingaría eu,
se eu pudesse coita dar,
a quen me sempre coita deu.

Pero da Ponte

https://www.facebook.com/photo/?fbid=925236359408373&set=a.171144044817612, consultado em 24 junho, 2024

 https://cercarte.blogspot.com/2009/10/se-eu-podesse-desamar-pero-da-ponte.html, consultado em 28 fevereiro, 2025

Wednesday, January 08, 2025

8 de Janeiro de 2025




O meu dia memorável. O único digno de comemoração. O meu doutoramento tem actuado como um repelente em relação às pessoas. Óptimo! É mais uma razão a juntar a todas as outras que justifica a sua celebração. Pena não poder tomar hoje um vinho do Porto: estou com dor de cabeça. Oportunamente, tomarei a dobrar. Quem sabe, até, se não será a triplicar...

Professora Doutora Adélia Rocha. Não é lindo!?

Thursday, January 02, 2025

Room For Rent

 


 Lin Shaye, actriz. Eu não conhecia. 
Depois de todos estes dias de trabalho e canseira, preocupação, deixar por fazer aquilo que tinha planeado fazer e descanso zero, finalmente, uma coisa boa neste ano de 2025. Room for rent: que filme, superiormente interpretado por Lin Shaye. Roald Dahl poderia ter escrito esta história. Aliás, a partir de certa altura, o conto A Senhoria vinha-me uma e outra vez à cabeça. Também aqui há uma senhoria. Uma mulher um pouco louca, assolada pela solidão e focada nas suas obsessões.