Thursday, February 10, 2022

«O Gume da Pevide»

 


Este foi o título da crónica de Miguel Esteves Cardoso no Público, na qual começa por informar que a sua mulher foi atacada por uma nabiça. Daí, partiu para uma constatação da forma como, à medida que envelhecemos, tudo se tornar uma potencial armadilha que nos pode vitimar. A esquina duma mesa? Uma temível arma de destruição maciça do nosso fragilizado corpo. Embatemos contra ela e eis-nos dobrados de dor e pejados de nódoas negras. Enfim: envelhecer.

Claro que, entre os comentadores, há aqueles masoquistas que não se cansam de lamentar como é possível pagar a um indivíduo para escrever coisas tão fúteis. 

Fúteis? Para chegar a um título destes - o gume da pevide - é preciso ser muito bom. Muito sabedor desta coisa das Letras e das Literaturas. É um título genial. O texto em si, por sua vez, é o típico texto à MEC: a leveza substantiva. Densa. Fútil? Essencial! Repare-se no parágrafo final:

«Sobra-nos um alvo andante, um íman de quedas, um chamariz de mazelas, uma pilha de nervos, sempre com medo que uma semente de romã nos corte o pio.»

Precisamente!

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