Aquilo de que mais gosto na vida, aliás, a vida vale a pena, porque podemos sonhar enquanto dormimos. Sou viciada em sonhos: os meus.
Quantas vezes desejo poder ver as paisagens, as cidades, as pessoas que encontro nos meus sonhos. Quando alguma imagem é particularmente marcante e nítida, desejaria conseguir desenhá-la. Mas não. Não sou capaz. Por isso procuro escrever. Durmo com um gravador junto de mim, para poder ditar alguma história, descrever alguma personagem, descrever algum sentimento sublime e que, inevitavelmente, vai desaparecer. Estou sempre atenta às minhas aventuras nocturnas. Hoje, por exemplo, lembro-me de que estava numa situação muito confusa e que estava com medo. De tal modo que, quando se abriu uma porta para entrar alguém ou alguma coisa, só vi uma mancha vermelha e forcei-me a acordar. Já acordada, com algum medo do escuro, tapei-me, liguei o tablete, para espantar os fantasmas, e finalmente, com o coração mais calmo e a respiração controlada, recriminei-me: porque é que acordei? Possivelmente nunca mais verei aquele sítio medonho e eu queria ver. Queria. Queria. Queria até ao infinito. Mas, quem sabe Beksinski também já esteve naquele sítio e deixou-o numa tela que eu ainda hei-de encontrar, como encontrei hoje este homem.
Eu vi homens assim há muito tempo, ainda nos anos 80. Homens que depois tornei a encontrar já no século XXI. Homens que não vêem, não porque sejam cegos, mas porque não é necessário que o façam. E Beksinski tem ainda outros homens mais parecidos ainda. Altos, com a cara coberta e os olhos enigmáticos. E o cabelo? É cabelo ou é uma penugem macia, longa? Os meus homens têm este pêlo longo e macio no corpo todo. E aquele mar azul também já o vi. Muitas vezes!
Beksiński w Warszawie. Wystawa obrazów Zdzisława Beksińskiego [INFORMACJE] | naTemat.pl, consultado em 26 de fevereiro, 2021