Saturday, February 08, 2020

Eutanásia, seminário e animais em vias de extinção


Os jornais, com a aproximação da data em que a eutanásia vai ser debatida no Parlamento, enchem-se de amáveis filantropos, que clamam pela inviolabilidade da vida humana e outras coisas igualmente bondosas. Há pessoas que só se lembram do seu próximo e querem preservá-lo por estas alturas. No resto do ano, comportam-se com a indiferença e, até, o desprezo costumeiros.
Hoje estive num seminário e falei sobretudo com gente que não conhecia. De resto, fiquei sozinha - e bem - ou quase durante as horas que durou a função. Só digo isto, porque aconteceu hoje e ainda não me esqueci. Aliás, eu não me costumo esquecer de NADA. Mas o desprezo dos pares, dos mais chegados, que se tornou rotina, não precisa ser lembrado, na medida em que se faz presente diariamente.

Voltando à eutanásia. Os amigos da vida humana - digamos -, como se não fosse suficientemente inquietante mais uma arremetida parlamentar à eutanásia, ainda tiveram más notícias oriundas da Holanda, aliás, Países Baixos. Este país extraordinário - digo-o do fundo do coração, sem sombra de ironia - prepara-se para permitir que cidadãos com mais de setenta anos, que estejam cansados de viver, possam suicidar-se tomando um comprimido disponível gratuitamente nas farmácias. Mais, um destes filantropos contou que até a uma mulher de cinquenta anos «perfeitamente saudável» foi permitido morrer. Dizia um deles, numa crónica dilacerante, que a esta gente que quer morrer - como eu - deve é ser dado pelo Estado amparo e solidariedade fraterna. Etc., etc.

Entretanto, acabado o dia, exausta e perplexa por motivos vários, vejo a imagem acima. Um homem está dentro de um rio a caçar cobras para preservar os orangotangos, ameaçados de extinção, quando um destes animais o vê e lhe estende a mão, para o ajudar a livrar-se de um lugar tão inóspito…

Se a solidariedade fraterna fosse um orangotango, talvez os países não tivessem que legislar a prescrição de comprimidos letais para a cura do cansaço de viver  …  mas não é. Ponto final.

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