Tuesday, February 11, 2020
Cuidados Paliativos????
E ali estava o meu pai, numa cama, já "sem vida", sem fôlego, mas com um braço descontrolado, de tal modo que teve de ser amarrado às grades da cama.
Um zumbi com um braço demasiado activo.
Em redor, mais umas quantas cama. Umas três ou quatro. Uma televisão. Todos tinham familiares em redor. Tudo triste. Eu era a familiar do meu pai. O coração soterrado sob camadas e camadas de dor. O meu pai era o único, felizmente, que não estava em si. Estava meio demente. Não conhecia as pessoas. A funcionária - obrigada minha querida senhora pela sua humanidade e dedicação - que dava apoio ao meu pai, dava-lhe algo líquido num copinho próprio para crianças, segurando-lhe a cabeça contra o seu peito, tudo fazendo para que ele não sufocasse.
E ele queria água, água, mas não a engolia…
E a odisseia para o internar na unidade de cuidados paliativos? Não vivesse eu na Covilhã e ele, o meu pai, não teria conseguido sequer ter acesso a esses cuidados. Por motivos burocráticos e de organização territorial, claro.
Não quer cuidados paliativos quem quer a EUTANÁSIA, e eu e muitos queremos esta última. Tratem dos cuidados paliativos e de todos os cuidados possíveis e imaginários, mas deixem os outros morrer em paz. Pelo menos isso, dado que a vida se tornou um carnaval contínuo de indignidade, crueldade e indiferença.
Paliativos? My ass!
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