Tuesday, September 12, 2017

Santa Apolónia


Dia cheio... de trabalho e tédio. Rever aqueles que me repelem "beyond expression". Sempre as mesmas frases, os mesmos enganos, as caras sérias, sabendo que nada vai acontecer como "previsto", porque nada está previsto, porque é gente que não sabe prever, nem agir, nem decidir. O destino e o tempo colocarão tudo no seu lugar: o lugar errado, ou não, concedo. O acaso encarregar-se-á de tudo encadear dia após dia, mês após mês, até ao novo fim e ao novo recomeço. Vómito!
Final de tarde, anúncio do regresso a casa. Antes, o convívio com aqueles que penso que gostam de mim - surpresa -, que apreciam a minha companhia: obrigada. Contámos histórias, eu recontei coisas, reciclei, ri-me e fiz rir. Por vezes, no entanto, apeteceu-me, em vez de rir, fazer o que é suposto, com as histórias tristes que me assombram.
Estou finalmente em casa. Amanhã, o dia será de novo muito preenchido e muito vazio também. É o último dia antes de tudo começar à séria. Esta será também a última noite menos inquieta, apesar de tudo. Há, antes, que retirar todo o lixo que ficou agarrado a mim, à minha roupa, à minha alma. Depois, espero conseguir dormir o suficiente para poder sonhar. Se tiver sorte, irei à cidade de Santa Apolónia, aquela cidade deserta com uma enorme avenida, a perder de vista, tão larga, que parte está permanentemente sob grande escuridão. O sol não chega lá. Andarei por entre as ruas, à noite, na noite, procurarei um restaurante no qual não conseguirei engolir nada, e terminarei num  quarto de pensão, numa cama gigante deitada lado a lado com uma multidão que não para nunca de entrar, despir e deitar. Foi isso pelo menos que aconteceu da última vez que lá estive. E foi tão bom!
Com sorte, até conseguirei voar, para espreitar pelas janelas das casas silenciosas.     



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